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Descobertas abrem nova era para as próteses mamárias de silicone

Tecnologias e materiais de última geração elevam segurança e durabilidade do procedimento. Cirurgião explica como o design da prótese pode fazer diferença

Por Alexandre Mendonça Munhoz, cirurgião plástico*
26 jun 2021, 10h47
ilustração 3d de mamas no corpo humano
Pesquisa internacional testou diferentes tipos de prótese e investigou as respectivas reações do organismo.  (Ilustração: Lucas Kazakevicius/SAÚDE é Vital)
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A biotecnologia está cada vez mais próxima da cirurgia plástica e das próteses de silicone voltadas às mamas. De fato, o tratamento reparador ou estético vem incorporando progressivamente novos procedimentos, implantes, biologia celular e engenharia de tecidos.

Após quatro anos estudando a interação entre as próteses de silicone e o sistema imune, um estudo conduzido pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, em parceria com cirurgiões ao redor do mundo (incluindo o Brasil), avaliou como a textura da prótese mamária afeta o sistema imunológico. Publicada na Nature, uma das revistas científicas de maior impacto no planeta, a análise demonstrou em modelo animal e em seres humanos uma menor estimulação imune e a menor formação de fibrose com o uso de um tipo particular de prótese.

Na pesquisa, foram checadas a produção de anticorpos, a ativação de células de defesa (linfócitos) e a espessura da cápsula criada em torno do implante mamário. Para tanto, os médicos contemplaram diferentes tipos de prótese com diferentes superfícies e que já são utilizadas em cirurgias estéticas e reconstrutoras pelo mundo. Observou-se que o design da superfície do implante muda sua performance e como ele interage com o organismo.

As primeiras próteses, na década de 1960, apresentavam superfícies extremamente lisas que, no longo prazo, causavam o desenvolvimento de fibrose (contratura), desgaste do material e posterior ruptura, o que levava a novas cirurgias. Em mulheres com reconstrução da mama após o câncer, essas complicações eram mais prevalentes devido à radioterapia.

Na década de 1980, a indústria introduziu as superfícies mais rugosas, ou texturizadas, com o objetivo de prevenir a contratura. No entanto, em 2019, alguns implantes com maior texturização foram associados ao desenvolvimento de um tipo raro de linfoma, o de células anaplásicas (ALCL).

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Uma das hipóteses seria que, em algumas mulheres geneticamente suscetíveis, haveria uma maior estimulação de certas células de defesa, os linfócitos T, advinda do maior grau de rugosidade da prótese, bem como da liberação de micropartículas de silicone.

Ainda que menos frequentes, deparamos nos últimos anos com relatos de mulheres com sintomas de cansaço, dores articulares, entre outros, o que supostamente estaria ligado ao surgimento de uma nova condição, chamada popularmente de Doença do Silicone (Breast Implant Illness – BIIs, em inglês) e também à síndrome ASIA (de Autoimmune Syndrome Induced by Adjuvants), ambas de provável origem autoimune.

Embora essas doenças ainda estejam sob investigação e ainda não tenhamos evidências de uma relação de causa e efeito, a suspeita é que as próteses com maior texturização poderiam levar à hiperativação crônica dos linfócitos T, algo semelhante ao processo de desenvolvimento daquele tipo raro de linfoma, porém sem o desenvolvimento do câncer, e, sim, dos sintomas reumatológicos.

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Os resultados desse novo estudo coordenado pelo MIT são promissores, pois demonstram de maneira clara a menor estimulação imune e a menor formação de fibrose em um tipo muito particular de superfície da prótese. Sim, o design faz diferença nesse sentido. A maior biocompatibilidade, além de auxiliar na escolha do implante, abre caminho para novas pesquisas em biotecnologia dirigidas a próteses de silicone, o que irá se traduzir em mais segurança e equilíbrio para o organismo após esse tipo de procedimento.

* Alexandre Mendonça Munhoz é cirurgião plástico, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), coordenador da Setor de Cirurgia Plástica do Hospital Moriah (SP) e professor de pós-graduação do Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio-Libanês (SP)

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