Durante a pandemia de Covid-19, tornou-se comum a comparação entre os infectologistas com os chamados “médicos da peste”, vestidos com uma máscara que lembra o bico de um pássaro e cobertos da cabeça aos pés.
De fato, no auge da Peste Negra (1347-1353), que reduziu a população da Europa à metade, esses profissionais de imagem assustadora se multiplicaram.
Múltiplas também eram as causas a que se atribuía à pandemia medieval: conjunção de planetas, emanação de miasmas do solo, acúmulo de pecados… Já naquela época nasciam os conceitos que voltaram a nos assombrar, como isolamento social e quarentena.
Somente no século XIX a ideia de contágio materializou-se em torno de pequenos seres invisíveis a olho nu: os micro-organismos.
Essa “revolução pasteuriana” (cujo nome remete a Louis Pasteur, seu mais célebre participante) ocorreu de forma simultânea a uma nova onda de colonialismo europeu, com invasão da África e da Índia.
Para cuidar daqueles que contraíam os males das zonas tórridas, instituíram-se os primeiros centros de “medicina tropical”, ancestral mais recente da infectologia.
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Não à toa, personagens como Oswaldo Cruz, Carlos Chagas e Adolfo Lutz, que dedicaram suas vidas à prevenção e tratamento de doenças infecciosas aqui no Brasil, são rotulados de “tropicalistas”.
Em 1980, membros da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical propuseram o termo “infectologia” para denominar a especialidade, já existente na Europa e Estados Unidos, voltada ao cuidado de pacientes com doenças causadas por micro-organismos.
Isso não refletia apenas uma mudança semântica, mas a concepção de que as doenças infecciosas tinham uma abrangência e relevância clínica para além de uma contingência climática.
Em que pese o aumento da expectativa de vida e da mortalidade por doenças cardiovasculares e neoplasias, as infecções continuam a causar adoecimento e morte em escala global.
Quais doenças são tratadas pela infectologia?
A infectologia é uma especialidade reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina e pela Associação Médica Brasileira. Sua amplitude de atuação é imensa, e cresce a cada ano.
Como esperado, deu origem a subespecialidades, voltadas a temas como aids, hepatites crônicas, infecções hospitalares, vacinas, medicina dos viajantes e pacientes imunossuprimidos, entre outros.
Como peculiaridade, o infectologista não restringe sua atuação a um órgão ou sistema do corpo humano. Trabalha com a complexa interação entre humanos, ambiente e microrganismos, que a qualquer momento pode resultar em catástrofes individuais ou coletivas.
Quando procurar um infectologista?
Há diversas respostas a essa questão. Para ter ideia, esse especialista pode ser consultado preventivamente para indicar vacinas e orientar sobre certos cuidados – é interessante buscar seu apoio antes de viagens internacionais, por exemplo.
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Ele também é o profissional indicado para o tratamento de infecções agudas, como pneumonias, meningites e dengue.
Também deve ser consultado para conduta em infecções subagudas (como tuberculose) ou crônicas (hepatites virais, aids, etc).
O infectologista pode ainda atuar prevenindo ou tratando as infecções adquiridas em ambientes de assistência à saúde, em especial aquelas causadas por micro-organismos resistentes a vários antimicrobianos.
É parte importante de equipes multiprofissionais que lidam com pacientes imunossuprimidos, oncológicos ou transplantados.
Por fim, e ainda sem esvaziar o tema, infectologistas têm se envolvido intensamente na promoção de políticas públicas em saúde.
Hoje, 11 de abril, comemora-se o “Dia do Infectologista”. Essa data homenageia um aniversariante ilustre, Emílio Ribas, médico que também dá nome ao importante hospital voltado ao atendimento das doenças infecciosas em São Paulo (SP).
Após esses anos pandêmicos, em que seu trabalho heroico e a defesa da ciência evitaram que ainda mais vidas fossem perdidas, os infectologistas sentem-se exaustos, mas – sobretudo – recompensados.
*Carlos Magno Castelo Branco Fortaleza é infectologista e presidente da Sociedade Paulista de Infectologia (SPI)