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Doação de órgãos: a vida em constante movimento

Idealizadora do Projeto Cicatrizes conta como a atividade física ajuda pessoas que passaram por um transplante de órgãos a encontrar sentido na vida

Por Renata Veneri, jornalista e idealizadora do Projeto Cicatrizes*
Atualizado em 9 Maio 2024, 14h15 - Publicado em 9 Maio 2024, 10h03
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A vida segue após um transplante de órgão (Ilustração: Eva Uviedo/Veja Saúde)
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Vida é movimento físico, mental, emocional. É paixão, comunhão, ritmo. O ritmo depende de treino, coragem, disciplina. Disciplina vem de consistência, coerência, confiança. Confiança traz paz de espírito, serenidade, equilíbrio. Equilíbrio reforça paciência, sabedoria, resiliência. A resiliência nos permite ouvir, sentir, esperar. A espera aflige, mas também acolhe. Quem acolhe doa. E doar é a consolidação de uma vida em sociedade.

É nesse contexto (e com esse espírito) que nasceu o Projeto Cicatrizes, criado para informar, inspirar e disseminar a cultura da doação de órgãos no Brasil. Ele parte de dez histórias de pessoas transplantadas que só estão aqui, vivas, para contá-las, porque receberam um órgão de presente.

Com perfis diferentes, elas têm em comum a gratidão pela vida e o interesse pelo movimento. E é esse interesse pelo movimento, individual e coletivo, que torna o mundo um lugar mais saudável para todos.

É muito comum pensar em transplante de órgãos como algo distante, que nunca vai acontecer com a gente, até porque as imagens que nos chegam costumam ser melancólicas, ambientadas em hospitais. No entanto, quando somos apresentados ao assunto a partir de histórias de superação, de amor pela vida e de gratidão ao próximo, nos tornamos mais receptivos, capazes de nos enxergar naquela situação, e passamos a refletir sobre a importância da doação.

Quando deparamos com vitalidade, cor, desfrute, desafio, diversão, o cenário passa a ser o quintal de casa, o parque que a gente frequenta, a escola do filho, o trabalho, a academia, a festa…

Laura Franco tem 12 anos e, quando tinha apenas 1 ano de vida, recebeu um pedacinho do fígado do irmão. Luis Gouveia tem 50, viveu esbanjando saúde até os 47, e foi no auge da pandemia de Covid que descobriu uma doença e a necessidade da realização de dois
transplantes — coração e medula. Priscilla Pignollati, 48, entrou no centro cirúrgico acompanhada do irmão há seis anos para receber um rim de presente.

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Esse mesmo trio explora hoje o movimento físico como ferramenta para o corpo, a cabeça e o coração. A caçula do grupo corre, nada, canta, dança, joga handebol. Basta abrir inscrição para uma atividade esportiva que lá está a Laura colocando o corpinho para mexer.

A cicatriz que corta seu abdômen de ponta a ponta na horizontal não a intimida ou limita em absolutamente nada. Como diz a mãe, Deyse Franco, a preocupação inicial com a cicatriz passou a ser um detalhe diante de tantas superações e conquistas vividas pela garota ao longo da última década.

Como mãe de uma criança transplantada, e sob o estigma da ignorância e até de certo preconceito, Deyse cansou de ouvir lamentos e palpites. “Muita gente me pergunta se a Laura tem uma vida normal. O que é uma vida normal? Laura tem saúde, estuda, brinca, pratica esporte, faz tudo o que uma criança da idade dela pode e deve fazer.”

Ou seja: vive a vida e agradece a oportunidade de estar viva. “Exercício físico me dá energia e alegria, e isso é tudo”, diz a garota.

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+Leia também: A nova onda dos transplantes

A nefrologista pediátrica Suelen Stopa Martins, coordenadora médica da organização de procura de órgãos da Unifesp e do programa de transplante renal pediátrico do Hospital do Rim, explica que, passados os três primeiros meses pós-transplante, a criança está 100% liberada.

“Com o órgão funcionando, e não esquecendo nunca de tomar o remédio, é vida normal! A criança vai voltar para a escola, incluindo as aulas de educação física. Algumas mães ficam com receio de trauma, de bater a bola, de trombar com um colega. Não precisa! A criança tem de ter consciência do seu corpo e se cuidar como qualquer outra.”

Luis Gouveia, corredor, músico, pai de três filhos, executivo de multinacional movido a planilhas e cronômetros, tem metas de curto, médio e longo prazos desde sempre. Foi assim que ele manteve a cabeça minimamente em ordem para encarar a angústia e a incerteza da espera por um órgão quando estava na lista de transplante.

Com coração e medula novos, voltou a correr, procurou uma nutricionista para organizar a dieta e buscou uma professora para começar os treinos de natação e ciclismo. No ano que vem, ele quer competir como triatleta nos Jogos Mundiais para Transplantados.

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“Não foi fácil começar de novo. Eu conhecia perfeitamente o meu corpo e de repente recebi um corpo completamente desconhecido. Parti do zero, mas me animei rapidinho. O esporte me mostra que estou vivo.”

Quem já nada, pedala, corre e inspira geral é a Priscilla, a primeira triatleta brasileira transplantada nas modalidades Sprint e Olímpico e duas provas de Ironman 70.3 no currículo. Ela treina como qualquer atleta, segue uma rotina intensa e está cercada de uma equipe de saúde multidisciplinar, incluindo os médicos do transplante.

A única particularidade na agenda é a hora de encaixar o uso do imunossupressor, remédio que toma duas vezes por dia, num intervalo de 12 horas, para evitar a rejeição ao órgão. “Faço uma dança dos horários em treinos e provas, mas é tudo ajustável e tranquilo”, relata.

Luciana Haddad, médica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e presidente da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), diz que a prática regular e moderada de atividade física faz bem para todos, incluindo transplantados. No caso deles, o cuidado é montar a equação que envolve o uso obrigatório e ininterrupto do imunossupressor e a demanda de energia do exercício escolhido.

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“É uma linha tênue: a gente trabalha para evitar a rejeição ao órgão com o menor risco possível de infecções”, conta a especialista, que
também é triatleta e maratonista.

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Quando perguntam a Priscilla por que ela pratica tanto esporte, a mineira traz a resposta lá da alma: “O esporte me faz sentir saudável, me dá disposição, me enche de alegria. Quando termino uma prova, tenho uma sensação maravilhosa. Estou viva!”

*Renata Veneri é jornalista especialista em qualidade de vida, bem-estar e saúde, CEO de Corpo Cabeça Coração, idealizadora do Projeto Cicatrizes e autora do livro Atividade Física no Cotidiano (Contexto – clique para comprar).

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