Intestino sem inflamação, o objetivo a alcançar na retocolite ulcerativa
Melhora dos sintomas não é o suficiente para considerar que a doença foi tratada adequadamente

A conversa com um paciente diagnosticado com retocolite ulcerativa deve ser clara desde o início, sem termos rebuscados e de difícil compreensão. É fundamental que a pessoa que entrou no consultório entenda quais serão os seus desafios, e onde podemos e queremos chegar com o tratamento.
Se o paciente não me entende, ele fica distante. E a proximidade é muito importante nessa relação. Isso porque a retocolite ulcerativa é uma doença crônica, sem cura, que exigirá um acompanhamento constante.
A primeira coisa que explico aos meus pacientes é que não se trata de uma doença do intestino, mas do sistema imune. Ela apenas se manifesta no intestino. No consultório, também vamos falar sobre número de evacuações, características das fezes, coisas que podem soar estranhas para a maioria das pessoas, mas que precisarão ser tratadas com naturalidade.
Com sintomas comuns a outras doenças, muitos pacientes demoram para chegar ao especialista. Mesmo os médicos acabam por não concluir o diagnóstico com celeridade. Isso, infelizmente, dificulta o tratamento e adia a melhora da qualidade de vida, já que a condição afeta a rotina, o trabalho, as relações.
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A retocolite ulcerativa é uma doença de adultos jovens, que estão profissionalmente ativos, desejam construir família e estão formando relações interpessoais. Com a doença, eles param de estudar, deixam de ir a uma entrevista de emprego ou conhecer de forma mais profunda um afeto.
Algumas pessoas alegam dificuldade em manter atividades cotidianas por não se sentirem confiantes o suficiente em público. Fatores como o medo de precisar de um banheiro com urgência e não ter acesso, ou a quantidade de tempo gasto nas evacuações são elementos de desgaste dos aspectos psicológicos e emocionais do paciente. Mas o tratamento adequado pode mudar a sua realidade.
A resposta ao tratamento é o primeiro objetivo, com a redução de sintomas e retorno às atividades do cotidiano. Então, almeja-se chegar à remissão clínica, ou seja, a normalização completa dos sintomas. Mas não podemos parar por aí.
Um paciente sem sintomas pode entender que a sua vida voltou ao normal e que o seu corpo já está 100% preparado para os desafios da rotina e a manutenção de suas relações. Mas melhorar não é suficiente.
A remissão clínica não significa que o seu corpo está livre de inflamação. O objetivo de todo paciente com retocolite ulcerativa deve ser, então, a remissão endoscópica. Esse é o nome que associamos a um resultado sem inflamação obtido no exame de colonoscopia.
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A remissão endoscópica é defendida internacionalmente, como em um consenso da International Organisation for the Study of Inflammatory Bowel Diseases (IOIBD). De acordo com o texto, os pacientes com RCU precisam alcançar a remissão endoscópica, o que leva a melhor evolução a longo prazo, com menor taxa de hospitalização, necessidade de cirurgia, além de outras complicações associadas à vida com retocolite ulcerativa.
Nesse sentido, a inovação é essencial. Recentemente, foi aprovado no Brasil o uso do guselcumabe para o tratamento da retocolite ulcerativa.
O medicamento demonstrou em estudos um equilíbrio importante entre eficácia e segurança, além de altos índices de remissão de sintomas e endoscópica. Essas novas terapias imunobiológicas favorecem alcançarmos todos os objetivos: resposta clínica, remissão endoscópica, redução das taxas de cirurgia e com isso, o mais importante: a melhoria de qualidade de vida dos pacientes.
Por Bruna Meyer de Mattos Corrêa, médica coloproctologista e colonoscopista pela Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto.