A obesidade é um dos temas mais debatidos na atualidade e, como tudo o que é amplamente discutido, formou uma multidão pretensamente dona de verdades absolutas e imutáveis.
Se você é obeso e quer um conselho, posso dar um sem medo de errar na generalização: não dê ouvidos para as pessoas ao seu redor sobre como perder peso.
Vamos começar pelo fato de que ninguém deve se deixar levar pela pressão social de ter um corpo “ideal”. Cada um pode se sentir bem com o seu corpo, independentemente de estereótipos e idealizações culturais. A prioridade é a saúde, e ela começa pela autoestima.
Feita essa consideração, podemos entrar na questão do real impacto do excesso de peso na saúde. A pessoa mais apta a identificar a necessidade de redução do peso e a propor uma meta realista e positiva é o médico. Os profissionais que se preparam para isso se mantêm atualizados, buscam separar os mitos das verdades pela troca de conhecimentos com seus pares e outros especialistas no meio científico.
Tudo isso fica ainda mais crítico quando entendemos que existem inúmeros fatores a interferir no ganho ou na perda de peso. São fatores hereditários, comportamentais e clínicos que, de maneira alguma, permitem a cópia idêntica da receita de sucesso de uma pessoa para a outra sem uma profunda análise de sua vida, rotina e perspectivas.
Não pode haver achismos e experimentações quando se trata da saúde.
Na linha de que o médico é a melhor pessoa para traçar o plano individualizado de perda e manutenção do peso, fica nítido que esse profissional precisa ter à disposição a maior gama possível de tratamentos. As estratégias começam por ajustes na alimentação, passam por mudanças de hábitos e, em muitas situações, englobam a prescrição de medicamentos.
Isso mesmo. Nem todos os pacientes precisam de remédios para perder perso, mas muitos deles só alcançam sucesso com a inclusão de medicamentos emagrecedores em seu tratamento.
Para infelicidade de muitos obesos e da classe médica seriamente comprometida com a saúde desses pacientes, os principais fármacos com ação emagrecedora, como a anfepramona e o femproporex, foram erroneamente tachados de perigosos e desnecessários. Como resultado, muitas pessoas deixaram de ser corretamente tratadas e outras tantas passaram a comprar tais medicamentos no mercado negro, sem nenhuma garantia de segurança e qualidade.
Hoje é possível utilizar esses princípios ativos devidamente receitados por um médico e preparados em farmácias de manipulação. Mas há um grande risco de vermos esses medicamentos proibidos e banidos definitivamente do Brasil, pelo menos do ambiente legalmente fiscalizado (consultórios médicos e farmácias registradas).
Para defender o direito a um tratamento mais completo da obesidade, colocando nas mãos do médico especialista a escolha pela prescrição, surgiu o Movimento Direito de Tratar – Obesidade. Se você tiver interesse em saber mais e quiser apoiar esse direito, vale a pena navegar no site e acompanhar suas redes sociais.
O adequado tratamento da obesidade é um direito da população e não pode ficar restrito a duas ou três opções de medicamentos. Quando isso ocorre, costumamos ver preços altos, baixa adesão do paciente e automedicação — isto é, um quadro nada saudável.
* Dra. Socorro Giorelli é médica nutróloga, diretora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN) no Rio de Janeiro e diretora executiva da Associação Internacional de Universidades pelo Avanço da Nutrição (ICAN)