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O que um regime radical pode fazer com a sua cabeça

Especialista analisa impacto de dietas restritivas na saúde mental. Será que realmente vale o sacrifício?

Por Adriana Kachani, nutricionista*
Atualizado em 21 jul 2023, 10h06 - Publicado em 21 jul 2023, 10h06
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Cardápios da moda podem elevar a propensão a transtornos alimentares.  (Ilustração: Pedro Gonçalves/SAÚDE é Vital)
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Eu já fiz dieta, você já fez dieta, todos nós já fizemos dieta. As dietas da moda funcionam sempre, e de forma rápida. Mas a questão é: a que custo?

Regimes restritivos costumam proibir algum grupo de alimentos ou nutrientes específicos. Tendem a fornecer poucas calorias, muito abaixo das necessidades básicas diárias. Não promovem a reeducação alimentar.

Quando terminam, o indivíduo volta a se alimentar como antes, recupera o peso perdido, fica com a autoestima arranhada… Conhece essa história? Mas o pior é que essas dietas da moda ainda podem levar a transtornos alimentares.

Dieta é um termo utilizado para descrever um padrão alimentar bem definido e calculado. Pode ser prescrita para uma condição específica ou para o emagrecimento.

Idealmente, precisa considerar as particularidades de cada pessoa. Mas, por aqui, vou utilizar a palavra “dieta” como a restrição intencional de alimentos e consumo calórico com o intuito de perder peso ou mudar o formato do corpo.

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É nessa acepção que circulam as dietas da moda, que caem no gosto do povo e das redes sociais e se disseminam da mesma forma que as fake news — você acredita nelas e passa adiante. Mas cuidado! Dietas não raro têm um efeito traumático.

A primeira evidência de que regimes restritivos poderiam afetar o humor data de 1950, quando cientistas americanos desenvolveram o chamado Estudo de Minnesota: 36 homens saudáveis fizeram uma dieta radical por seis meses até eliminarem 25% de seu peso inicial.

O experimento não só revelou os impactos mentais da restrição como norteou outras pesquisas sobre o elo entre alimentação, comportamento e emoções, incluindo obsessões relacionadas ao que se come ou se deixa de comer.

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+ LEIA TAMBÉM: “Da dieta eu espero tudo, menos um choque”

Em 1985, aparecem, por sua vez, os primeiros trabalhos a associar uma relação mais direta entre restrição e compulsão alimentar. Desde então, as provas dessa conexão se acumulam.

Fazer dieta pode abrir caminho a um transtorno alimentar, como a própria compulsão, pois provoca um desbalanço energético e metabólico e engana as percepções do organismo. Substitui o controle interno da fome, da saciedade e do prazer por um controle externo, com regras impostas que não respeitam necessidades físicas e psíquicas.

Submeter-se a um regime em um ambiente de abundância alimentar ainda desencadeia frustração e estresse — somos tentados a todo momento e precisamos conter um impulso biológico.

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É por isso que hoje a ciência da nutrição prioriza o que se batizou de no diet approach (abordagem sem dieta). Uma delas é o comer intuitivo, método que prega o fim da “mentalidade de dieta” e que a gente respeite o corpo e faça a paz com a comida, entre outros princípios.

No Brasil, movimentos como a nutrição comportamental abraçam esses preceitos com foco em um aconselhamento não prescritivo e restritivo que busca mudanças de comportamento e melhoras na relação com o corpo e com o prato. Com isso, ganhamos liberdade sem cair no sofrimento.

E perder peso é mera consequência.

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* Adriana Kachani é nutricionista, mestre e doutora pela Faculdade de Medicina da USP e integrante do corpo clínico do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo

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