Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Imagem Blog

Com a Palavra

Por Blog Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Neste espaço exclusivo, especialistas, professores e ativistas dão sua visão sobre questões cruciais no universo da saúde

Por dentro da narcolepsia, uma das causas de sonolência excessiva diurna

Doença marcada por ataques irresistíveis de sono é rara, mas pode ter impacto significativo na qualidade de vida. Conheça seus sintomas e manifestações

Por Rosana Cardoso Alves, neurologista*
Atualizado em 28 dez 2020, 19h27 - Publicado em 27 dez 2020, 14h26
Mulher com narcolepsia bocejando
Sonolência durante o dia e ataques de sono são sinais de narcolepsia. (Foto: GI/Getty Images)
Continua após publicidade

A narcolepsia é uma doença neurológica que tem como principal sintoma a sonolência excessiva durante o dia. Ela é considerada um distúrbio raro: a maioria dos estudos aponta prevalência inferior a 65 casos a cada 100 mil habitantes.

Uma de suas principais características é a necessidade súbita e incontrolável de dormir e a presença de ataques de sono, geralmente associados a alterações no sono noturno. No dia a dia, os pacientes podem relatar que suas noites não são reparadoras.

Na narcolepsia, ocorre o deslocamento do estágio REM do sono (o mais profundo) não somente durante o sono noturno mas também durante a vigília. Com isso vêm as manifestações clínicas do quadro: sonolência excessiva diurna, paralisia do sono, alucinações hipnagógicas (a sensação de “sonhar acordado”), cataplexia (perda do tônus muscular) e fragmentação do sono.

Estudos mostram que cerca de 57% dos pacientes ainda apresentam depressão e 53%, transtorno de ansiedade. É fato que o conjunto de sintomas e repercussões trazem impacto negativo direto sobre aspectos sociais, profissionais e familiares, comprometendo a qualidade de vida de quem tem narcolepsia.

Os impactos no dia a dia

Causada por fatores genéticos e autoimunes, a narcolepsia costuma começar a se manifestar na segunda década de vida, ou seja, na adolescência ou no início da vida adulta. Estima-se que um terço dos pacientes apresentem sintomas antes dos 15 anos. Tudo isso torna maior o desafio do diagnóstico precoce.

Em geral, observa-se um atraso médio de 13 anos entre o início dos sintomas e a detecção correta da doença. Esse atraso deve-se, em parte, ao desconhecimento da narcolepsia pela população e mesmo pelos profissionais de saúde, incluindo médicos, o que demonstra a necessidade de maior conscientização sobre o tema.

Outro ponto comum é que os pacientes relatam problemas com horários e pontualidade, perdem oportunidades de estudos, empregos e relacionamentos, sendo por vezes estigmatizados como preguiçosos ou irresponsáveis. Em alguns casos, há queixas cognitivas, como desatenção e déficit de memória, situação que pode gerar baixo rendimento acadêmico e profissional.

Continua após a publicidade

Nas crianças, o atraso no diagnóstico da doença pode levar a problemas sérios na alfabetização, dificuldades psicossociais, ganho de peso, tratamento medicamentoso incorreto…

A obesidade é mais comum na população com narcolepsia devido a uma desregulação no controle do apetite ou a uma compulsão alimentar. Além do sobrepeso, outras condições, como dores crônicas, hipertensão, doenças autoimunes e transtornos do sono, podem acompanhar o quadro com o avançar dos anos.

A sonolência diurna

A sonolência excessiva diurna é uma queixa frequente em 95% dos casos de narcolepsia. Pode ser intensa, incapacitante, crônica e não progressiva. Costuma ser persistente ao longo do dia, mas também pode se manifestar por meio de ataques súbitos e incontroláveis de sono.

Os ataques de sono ocorrem em situações tão diversas como ao se alimentar, caminhar ou dirigir (o que é um perigo!). Felizmente, cochilos em locais adequados são restauradores e deixam o indivíduo alerta por algumas horas.

A sonolência diurna excessiva, definida como a necessidade súbita e incontrolável de dormir no período de vigília, e os ataques de sono, cochilos súbitos e não intencionais, são os fatores que mais nos levam à suspeita da narcolepsia.

Continua após a publicidade

Porém, para firmar o diagnóstico, precisamos excluir outras condições que geram sonolência durante o dia, tais como privação de sono, apneia, uso de medicações com efeito sedativo etc.

A cataplexia, a perda de tônus muscular

Outra característica da narcolepsia, a cataplexia é definida como um episódio de perda súbita do tônus muscular, geralmente bilateral, simétrica e de duração breve (menos de minutos) com manutenção da consciência. É como se a pessoa, desperta, perdesse ação sobre o corpo.

Os episódios são desencadeados por emoções fortes, inclusive positivas, com quase todos os pacientes relatando episódios precipitados por risos, susto ou choro.

A cataplexia pode se apresentar como perda da expressão facial com queda da pálpebra, abertura da boca e protrusão da língua, dificuldade para falar, queda dos braços ou instabilidade na marcha. A gravidade dos sinais é variável, mas a maioria dos ataques é esporádica.

A paralisia no sono

Essa sensação costuma aparecer em quase 60% das pessoas com narcolepsia, porém a frequência é variável. São episódios de incapacidade de se movimentar quando a pessoa está adormecendo ou, mais frequentemente, quando está acordando. Os eventos duram de poucos segundos a minutos, cedendo espontaneamente quando se fala ou toca no indivíduo ou, ainda, se ele próprio tem o pensamento de se movimentar.

Continua após a publicidade

Sensação de palpitação, sudorese, tremor e piscar dos olhos, dificuldade para respirar, dormência nas extremidades ou sensação de opressão torácica podem ocorrer junto à paralisia do sono. São sintomas que costumam durar até dez minutos.

As alucinações

Denominadas hipnagógicas e hipnopômpicas, as alucinações ocorrem em dois terços dos pacientes com narcolepsia e pelo menos uma vez por semana em metade deles. Geralmente se apresentam como manifestações visuais e, mais raramente, táteis, auditivas ou somato-sensitivas.

Pode ser uma imagem parada ou um sonho vívido em movimento, como uma pessoa ou animais próximos à cama. A descrição do paciente é como se estivesse sonhando acordado. Logo ao deitar, ele não sabe descrever se está sonhando ou se é a realidade. Nos primeiros minutos da manhã, não sabe se ainda está sonhando ou já acordou.

As alucinações podem estar associadas à paralisia do sono e, quando mal diagnosticadas, são confundidas com sintomas psicóticos, terror noturno, pesadelos ou ataques de pânico.

A fragmentação do sono e o diagnóstico

Cerca de um terço dos pacientes ainda relata fragmentação do sono noturno, com múltiplos despertares ao longo da noite, além da dificuldade de reiniciar o sono. Somada às outras manifestações mencionadas, ela colabora para o impacto na qualidade de vida típico da narcolepsia.

Continua após a publicidade

Com diagnóstico correto e algumas intervenções, porém, o paciente pode levar uma vida melhor. É importante dizer que a detecção do quadro é complexa e envolve avaliação clínica e neurofisiológica, além da realização de exames, como a polissonografia. O tratamento pode englobar medicamentos e terapia comportamental.

* Rosana Cardoso Alves é neurologista especializada em Neurofisiologia Clínica e membro da Associação Brasileira do Sono

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY
Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja Saúde impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 10,99/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.