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Por que a hanseníase persiste como problema de saúde pública no país?

Brasil é um dos líderes mundiais em casos da doença. O que precisa ser feito para controlá-la de vez?

Por Heitor de Sá Gonçalves, dermatologista*
Atualizado em 25 mar 2022, 12h38 - Publicado em 22 mar 2022, 10h53
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  • Em pleno 2022, ainda vivemos o drama de uma doença altamente subdiagnosticada e uma das mais estigmatizadas da história: a hanseníase. Enfermidade infecciosa causada pela bactéria Mycobacterium leprae, conhecida no passado como lepra, ela faz parte das chamadas doenças negligenciadas, tendo maior prevalência em populações de baixa renda e contando com poucos investimentos para seu devido controle.

    Além dos desafios tradicionais, a pandemia de Covid-19 acrescentou novas dificuldades: a sobrecarga de doentes que não foram diagnosticados nos últimos dois anos nas unidades de atendimento, bem como um incremento na transmissão devido à ausência de tratamento em boa parte dos pacientes.

    Desde 1990, há uma média de 28 mil casos identificados por ano, mas, em 2020 e 2021, apenas 17 e 15 mil infectados foram notificados, respectivamente, segundo o Ministério da Saúde. Só que esse dado não está relacionado ao sucesso no combate à doença. É resultado da diminuição no número de diagnósticos por conta do menor acesso aos serviços de saúde na pandemia.

    E isso nos remete ao principal ponto quando se fala em hanseníase, o diagnóstico precoce. Quanto mais cedo ela for identificada e o tratamento iniciado, maior a chance de cura sem sequelas e menor a taxa de transmissão.

    + ASSISTA: Pesquisadores são premiados pela criação de um teste rápido para hanseníase

    No entanto, três estigmas ainda persistem: a crença errônea de que a enfermidade é altamente transmissível, bastando encostar em outra pessoa para disseminá-la; a noção de que é incurável; e a ideia de que necessariamente causará deformações e incapacidades físicas.

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    Na verdade, como boa parte dos doentes têm uma razoável imunidade contra a bactéria, apenas cerca de 50% dos portadores de hanseníase infectam outras pessoas.

    E, após o início do tratamento, que é simples e disponível no SUS, a transmissão cessa em dez a 15 dias. O contágio, vale destacar, ocorre fundamentalmente pelo contato com gotas de secreção respiratória provenientes da tosse.

    Assim, o diagnóstico e o tratamento precoces levam à cura, à diminuição da transmissão e à prevenção das sequelas. A principal medida de saúde pública, portanto, é incentivar e viabilizar o acesso ao sistema de saúde assim que o paciente observar sinais suspeitos. São eles: manchas mais claras do que a cor normal da pele ou avermelhadas, com ou sem alteração de sensibilidade, como não sentir quente ou frio.

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    Um dos questionamentos mais pertinentes das pessoas leigas é por que a hanseníase não é extinta, já que temos terapias eficazes. O fato é que a solução definitiva é mais complexa do que apenas realizar novos diagnósticos.

    Além de implementar o tratamento correto e a prevenção, são essenciais ações comunitárias englobando desde a conscientização sobre o problema até a melhoria das condições habitacionais e de transporte sem aglomerações, por exemplo.

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    A disseminação da informação e o esforço conjunto de profissionais de saúde, do poder público, da esfera privada e da sociedade é o caminho mais promissor para transformar o cenário da hanseníase e de outras doenças negligenciadas.

    Exemplo de sucesso dessa mentalidade é a Carreta Novartis da Saúde, projeto itinerante da farmacêutica em parceria com o Ministério da Saúde. Há mais de dez anos ela promove acesso ao diagnóstico e tratamento gratuito contra a hanseníase, além de conscientizar a população sobre os primeiros sinais e sintomas da doença. A iniciativa percorre estados onde os índices são altos e é responsável pela identificação de 25% dos casos do país.

    A trajetória para eliminar a hanseníase não é fácil, pois depende da vontade de muitos atores sociais. Mas seguramente é algo que não pode escapar à pauta da saúde pública. Investir na sensibilização a respeito e no diagnóstico precoce é o pontapé inicial.

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    * Heitor de Sá Gonçalves é vice-presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia

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