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Brasil lidera revolução na ONU: sono entra na agenda da saúde global

Declaração histórica reconhece os distúrbios do sono como fator de risco para doenças crônicas e reforça o papel de liderança do Brasil na ONU

Por Mark Barone, executivo*
16 out 2025, 15h16
higiene-do-sono
O sono interfere na saúde do cérebro (Foto: Veja Saúde/SAÚDE é Vital)
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Por décadas, a saúde global focou seus esforços de prevenção de doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs) em pilares tradicionais: tabagismo, sedentarismo, álcool e alimentação não saudável.

Embora cruciais, esses pilares ignoravam um elemento essencial da saúde humana, cuja privação e baixa qualidade atinge a maioria da população: o sono.

Esse cenário mudou drasticamente. Pela primeira vez na história, a nova Declaração Política Global sobre DCNTs, lançada durante a Assembleia Geral da ONU, em 25 de setembro deste ano, incluiu os distúrbios do sono — em especial a privação crônica — como um fator de risco primário. E o protagonismo dessa conquista histórica é brasileiro.

Em um movimento de liderança e diplomacia em saúde, pesquisadores brasileiros, representados pelo Fórum Intersetorial de Condições Crônicas Não Transmissíveis (FórumCCNTs), negociaram diretamente com o Ministério da Saúde para que o tema fosse incorporado ao documento que orientará as políticas públicas de 195 países.

A conquista sem precedentes foi anunciada durante o 23º Congresso Brasileiro de Qualidade de Vida, em São Paulo.

O sono não é luxo, é saúde pública

A inclusão é urgente e baseada em evidências robustas. O Brasil, que já enfrenta mais de 60% da população com sobrepeso e obesidade, vive uma verdadeira epidemia silenciosa de distúrbios do sono, afetando mais de 70% dos brasileiros.

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O sono inadequado não é apenas sintoma de uma vida agitada; ele é um fator de risco independente e potente para uma cascata de problemas metabólicos e cardiovasculares. A apneia obstrutiva do sono (AOS), por exemplo, que atinge cerca de 27 milhões de brasileiros e quase um bilhão de pessoas no mundo, é um elo direto nessa cadeia.

O sono insuficiente e a AOS desencadeiam mecanismos como:

  • Resistência à insulina;
  • Inflamação sistêmica;
  • Alterações hormonais.

Esses mecanismos contribuem diretamente para o desenvolvimento de diabetes tipo 2, hipertensão, doenças cardiovasculares e, claro, a obesidade. É um problema de saúde em cadeia com custos sociais e econômicos bilionários, medidos em perda de produtividade e sobrecarga dos sistemas de saúde.

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+Leia também: Insônia nunca mais: os caminhos para superar o problema

O papel dos pesquisadores brasileiros

Antes mesmo da ONU, o FórumCCNTs já tinha papel central no Brasil, na atualização dos Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) de diabetes tipo 2 e de hipertensão do Ministério da Saúde.

Graças a essa atuação, os protocolos brasileiros passaram a reconhecer a apneia do sono como um dos principais fatores de risco para DM2 e doenças cardiovasculares, servindo de exemplo prático de política pública baseada em evidências.

Esse histórico de sucesso foi crucial para a incidência diplomática. O FórumCCNTs defendeu ao ministro Alexandre Padilha que o Brasil solicitasse a inclusão de três pontos-chave no “Zero Draft” (uma espécie de rascunho) da ONU, que daria origem à declaração política:

  • Os distúrbios do sono;
  • A vacinação prioritária para pessoas com DCNTs;
  • A participação social dos pacientes.
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A urgência dessa inclusão foi reiterada em recente audiência pública na Câmara dos Deputados, em Brasília, e em artigo publicado no British Medical Journal (BMJ) por especialistas brasileiros, que alertaram: a negligência com os distúrbios do sono impedirá o alcance da Meta 3.4 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) — reduzir em um terço as mortes prematuras por DCNTs até 2030.

O caminho a seguir: integrar e tratar

Com o reconhecimento global em mãos, o desafio agora é transformar a declaração política em ações concretas no Brasil e no mundo. O sono saudável precisa ser encarado como pilar fundamental para a vida saudável, e não mais como um problema negligenciado.

Isso exige políticas públicas integradas:

  • Incorporar a saúde do sono nos protocolos clínicos do SUS, da atenção primária à especializada;
  • Capacitação profissional;
  • Disseminar o conhecimento sobre rastreio e diagnóstico simplificados na rede de atenção básica;
  • Garantir acesso a terapias de eficácia comprovada, como higiene do sono, CPAP para tratar apneia e terapia cognitivo-comportamental para insônia.
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O sucesso do município de Araguari (MG), que implementou uma linha de cuidado para AOS com diagnóstico domiciliar simplificado e alta taxa de engajamento ao tratamento (mais de 70%), mostra que a inovação e a redução de custos são possíveis, servindo de modelo nacional e até mesmo reconhecido pela OMS.

A inclusão dos distúrbios do sono na pauta global de DCNTs é uma vitória. Cabe agora aos gestores garantirem que essa nova luz sobre o sono se converta em um despertar para a saúde pública e no cumprimento da meta de reduzir a mortalidade precoce de milhões de brasileiros.

*Mark Barone, fundador e coordenador geral do FórumCCNTs, doutor em Fisiologia Humana pela Universidade de São Paulo (ICB-USP), afiliado ao Centro de Atenção Primária da Faculdade de Medicina de Harvard, atuando como comissário para a Comissão de Saúde Global da The Lancet sobre Cuidado Centrado na Pessoa para a Cobertura Universal de Saúde (UHC).

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