“Aviso urgente! Cuidado para não tomar o paracetamol que vem escrito p-500. É novo, muito branco e brilhante brilhante [sic]. Os médicos provam que contêm o vírus Machupo, considerado um dos vírus mais perigosos do mundo com elevada taxa de mortalidade”. Esse é um trecho de uma mensagem que tem circulado nas redes sociais nas últimas semanas (veja abaixo). A postagem ainda traz uma série de imagens alarmantes e, diga-se, de extremo mau gosto.
Para tentar saber o que há por trás dessa história, conversamos com o farmacologista Marcelo Muscará, do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP). O expert garante que não há um pingo de verdade nessa informação. “A indústria farmacêutica tem um controle de qualidade muito rígido e uma coisa dessas nunca poderia acontecer sem passar despercebida”, esclarece.
E tem mais: um blister e uma caixa de papelão fechada não são lá o melhor lugar para um vírus chamar de casa. “Ele não consegue sobreviver por muito tempo num ambiente seco, como um comprimido. Essas formulações têm menos de 1% de água”, acrescenta Muscará. Além disso, o medicamento tem uma série de outros componentes junto com o princípio ativo que servem para estabilizar a fórmula, como sorbitol e manitol. Essas substâncias não permitiriam que um agente infeccioso se estabelecesse por ali.
De acordo com o site Boatos.org, uma versão parecida dessa fake news circulou há alguns anos em Moçambique. Na ocasião, o paracetamol “estaria infectado” com o ebola. Como havia um pânico geral em relação a esse vírus no continente africano, é natural que a baboseira se alastrou como fogo pelas redes sociais de lá.
Tentamos contato com a Associação Brasileira da Indústria de Medicamentos Isentos de Prescrição (Abimip), o Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo e a farmacêutica Johnson & Johnson, fabricante de um dos remédios com paracetamol mais populares do Brasil, mas as três entidades preferiram não se manifestar sobre o assunto.
O paracetamol
Trata-se de um analgésico prescrito para controlar a dor e a febre. No Brasil e em boa parte do mundo, é uma droga vendida sem receita médica. Porém, é preciso tomar cuidado com o abuso: o consumo inadequado desse fármaco pode prejudicar pra valer o funcionamento do fígado.
O vírus Machupo
Transmitido por uma espécie de roedor típica da Bolívia, ele ficou famoso nos anos 1960, quando causou um surto de febre hemorrágica nesse país sul-americano. A infecção é marcada por febre, dor de cabeça, fadiga e sangramento nasal. Ele integra a lista dos vírus mais perigosos da Organização Mundial da Saúde.
Viu alguma notícia suspeita por aí? Manda pra gente que nós vamos investigar!