A minha menstruação veio por volta dos 10 anos de idade. Na família, nunca tivemos tabus relacionados a esse tema. Minha mãe e minha irmã sempre conversaram comigo a respeito e eu me consultava com o ginecologista regularmente.
Aos 18 anos, encontrei uma médica da qual gostava. Confesso que sempre fui preocupada com a saúde. Inclusive, na família sempre brincavam dizendo que eu era exagerada.
Mas minha postura era justificável: meus parentes têm um histórico familiar complexo, e eu nasci com um problema renal crônico por má formação. Ou seja: sempre me sentia mais segura ao saber como estava a minha saúde.
Com a ginecologista, criei uma rotina de check-ups e a visitava uma vez ao ano, como a maioria das mulheres procura fazer. Mas tinha muitas crises de enxaqueca no período menstrual e, todas as vezes que me consultava com um neurologista, não era possível fechar um diagnóstico.
O que falavam é que poderia estar relacionado a mudanças hormonais. Esse processo também era acompanhado pela ginecologista, pois tomava remédios que poderiam mudar meu ciclo menstrual.
Com o passar dos anos, comecei a perceber que, embora não tivesse cólicas no período menstrual, existiam outras manifestações silenciosas em meu corpo. Eu tinha muita dor nas pernas e nas costas, ficava irritada constantemente, a minha barriga distendia bastante, meu apetite aumentava…
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Quando perguntava à médica, ela dizia que eram sintomas comuns. Cheguei a questioná-la sobre fazer exames mais complexos, mas ela me orientou a ficar tranquila e que, se um dia quisesse engravidar, investigaríamos. Na época, confiei.
Em 2022, passei por uma fase emocional difícil, perdi minha mãe do nada após um infarto, mesmo depois de um check-up cardiológico realizado dias antes. No mesmo ano, sofri um acidente de carro junto com meu marido, voltando de Curitiba e por fim enfrentei desafios na carreira.
Foi quando comecei a observar os avanços dos sintomas: minhas dores aumentaram, ganhei peso e a rotina de sono foi prejudicada.
Preocupada com a minha saúde por saber que a minha mãe sofria com muitas dores na pelve e tinha sido diagnosticada com mioma e alguns problemas no útero, pedi, mais uma vez para a ginecologista, que investigasse se poderia ter algo parecido. Foi quando ela solicitou uma ressonância da pelve.
Fiz o exame e o resultado acusou endometriose. Na época, fui encaminhada para outro médico ginecologista, indicado pelo plano de saúde como especialista no assunto.
O novo médico me disse que minha endometriose era profunda, provavelmente estava nessa condição há tempos. Ele me explicou o que era a doença e me deu a indicação de uma intervenção cirúrgica de urgência.
Se não fizesse o procedimento em menos de quatro meses, poderia ter alguma crise e ser operada às pressas.
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Comecei a pesquisar sobre endometriose e a conectar alguns pontos: entendi que as dores nas pernas e as fortes enxaquecas tinham relação com a condição.
Como no ano anterior havia passado por grandes traumas, não conseguia acreditar que mais um problema chegaria, estava vulnerável a tudo. Inclusive porque o médico me disse que a doença poderia avançar e que eu poderia ficar infértil.
Mesmo sem ter decidido se gostaria de ser mãe, fiquei desesperada com a descoberta.
Foi muito ruim. Na mesma época, comecei a trabalhar em uma empresa de saúde conhecida por integrar e facilitar a jornada do diagnóstico ao tratamento, e ganhei um novo fôlego ao saber que poderia participar ativamente do diagnóstico prévio de outras mulheres através do meu trabalho.
Ao contar para um amigo próximo, ele me indicou um podcast com a Dra. Rosa Neme, referência no tema no Brasil. Rapidamente busquei seu consultório e marquei uma consulta, e aí fui orientada a realizar um novo pacote de exames.
Entre eles estava a ultrassonografia transvaginal para mapeamento da endometriose. Consegui agendar este exame e foi a primeira vez que fui verdadeiramente orientada a realizar uma investigação superimportante para este diagnóstico preciso.
Realizei o exame com o Dr. Manoel Orlando, que foi de um profissionalismo imensurável. Acho importante pontuar os nomes dos médicos para ajudar as pessoas a procurarem fontes confiáveis e informações mais precisas. Para que não aconteça com elas o que aconteceu comigo: uma espera de mais de uma década para o diagnóstico.
Durante o exame, o médico confirmou que eu realmente tinha endometriose, me explicando o processo pelo qual iria precisar passar. Ele endossou a escolha da Dra. Rosa como médica e me preparou psicologicamente para a cirurgia, que seria inevitável.
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Passei em consulta e fui acolhida por ela, conversamos por um longo tempo. Ela me explicou que eu tinha uma endometriose profunda há, pelo menos, 15 anos.
Fiquei decepcionada ao saber que eu tinha a doença há muito tempo e que ela nunca foi investigada. Infelizmente, depois de pesquisar sobre o tema, vi que o diagnóstico tardio é comum.
Passar por tudo isso foi difícil, mas é aí que percebemos o valor de termos o acompanhamento de médicos preocupados não apenas com a saúde física dos pacientes, mas com o bem-estar emocional.
A médica me explicou sobre o procedimento e o que poderia acontecer, caso não optasse pela cirurgia: infertilidade, uma rotina de dores e aumento de peso por causa da inflamação.
Após muita conversa e esclarecimentos, marcamos a cirurgia. Confesso que estava apreensiva, mas o atendimento humanizado foi fundamental.
No final, retirei 14 focos de endometriose e, como a doença já havia acometido o intestino, retirei dez centímetros do órgão.
A minha cirurgia foi um sucesso, consegui remover toda a endometriose, minha recuperação tem sido excelente e hoje me sinto mais tranquila e amparada. A conduta dos médicos e o diagnóstico correto fazem toda a diferença!
*Natasha Camargo é casada e trabalha como Gerente de Growth na Dasa. Ainda não tem filhos, mas acredita que, se optar pela maternidade, ela acontecerá na hora certa.