Quem está lendo esta coluna certamente tem diabetes ou conhece pelo menos uma pessoa que tem esta condição. Digo isso por que estima-se que pelo menos 10% dos brasileiros adultos convivam com a doença, segundo a última edição do Atlas da Federação Internacional de Diabetes.
Ainda assim, o termo diabetes é muito vago e há muito desconhecimento. Boa parte das pessoas sequer sabe que tem o problema. Além disso, há diversos tipos, sendo o 2 o mais comum, compreendendo cerca de 90% dos casos mundo afora. Em seguida, temos o tipo 1 e o diabetes gestacional.
Toda a minha formação médica de 24 anos — incluindo residência de endocrinologia, pesquisas científicas e doutorado — foi dedicada ao diabetes. E eu adoraria dizer que verminoses poderiam ser as causas dos principais tipos de diabetes, como tem sido feito por alguns profissionais de saúde na internet.
Digo isso porque aí seria super fácil “curar” o diabetes tratando os parasitas. Imagine você tomar um tratamento para vermes e se livrar de uma condição crônica como o diabetes. Imagine pessoas milionárias e bilionárias, artistas, esportistas influentes que portam a doença. Todos estariam livres desta condição.
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As reais causas do diabetes
O diabetes tipo 2, o mais comum, está relacionado a uma forte predisposição genética, associada ao acúmulo de gordura especialmente na região abdominal. É uma condição intimamente ligada a maus hábitos de vida, como excesso de ingesta calórica e sedentarismo.
Usualmente se associa à síndrome metabólica — quadro que une pressão alta, colesterol e triglicérides alterados, gota, síndrome da apneia obstrutiva do sono, excesso de gordura no fígado etc. Neste tipo de diabetes, o tratamento padrão é composto por reeducação dos hábitos de vida saudáveis e medicamentos de uso contínuo.
Já o diabetes tipo 1 é uma doença autoimune em que o sistema imunológico se digladia com as células produtoras de insulina localizadas no pâncreas. Neste cenário, o tratamento padrão é composto pelos mesmos ajustes no estilo de vida e insulinoterapia.
O diabetes gestacional, por sua vez, é aquele intimamente ligado a condições da gravidez e hormônios produzidos pela placenta.
Seus fatores de risco são semelhantes aos do diabetes tipo 2 na maioria dos casos, e seu tratamento é composto por hábitos saudáveis e insulina quando necessário. Alguns medicamentos orais podem ser usados, a depender de cada caso.
O quadro é complexo e de difícil solução. Não é à toa que países do mundo todo dispendem rios de dinheiro tratando o diabetes e suas complicações. Ainda segundo o Atlas da Federação Internacional de Diabetes de 2021, o Brasil possui um gasto anual de cerca 43 bilhões de dólares, perdendo apenas para Estados Unidos e China.
Mas há algum tipo de diabetes associado a infestação por vermes? Na verdade, nada impede que uma pessoa com diabetes tenha verminose. O que é difícil de afirmar é que haja uma relação de causa e efeito, ou seja, uma verminose causar diabetes por si só.
Por isso, termino aqui este texto com uma frase que repito sempre para meus pacientes: “Em medicina, duvide de todo tratamento que seja fácil demais”. Ou como diz ditado popular: “quando a esmola é demais o santo desconfia”.
Nunca mude ou pare seu tratamento do diabetes (ou de nenhuma doença) sem conversar com seu médico de confiança. Cuide-se.