Qualquer pessoa pode ser o anteparo entre viver ou morrer diante de uma parada cardiorrespiratória, desde que tenha treinamento adequado para as manobras de reanimação. Nem só os profissionais de saúde estão aptos a realizar esses primeiros-socorros, mas todo aquele que se solidariza com a dor do outro e quer fazer a diferença para um desconhecido na rua, um amigo ou mesmo um familiar.
As vantagens da ressuscitação cardiopulmonar (RCP) são imensuráveis: as compressões torácicas que caracterizam o procedimento dobram e até triplicam as possibilidades de sobrevivência em casos de parada cardíaca.
Em um cenário no qual as mortes súbitas somam mais de 260 mil por ano, somente no Brasil, o ganho que as massagens representam é muito significativo. Realizadas em até 5 minutos após a parada cardiorrespiratória, a taxa de sobrevida fica entre 50% e 70%. Porém, em contrapartida, a cada minuto sem atendimento, a vítima perde de 7% a 10% da chance de sobreviver.
Um estudo conduzido no Metrô de São Paulo e citado na Diretriz de Ressuscitação Cardiopulmonar da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) evidenciou que 43% daqueles que foram adequadamente atendidos com manobras de ressuscitação e desfibrilador, até a chegada do socorro especializado, resistiram. Em muitas cidades americanas, onde a população e os profissionais de saúde são treinados e há disponibilidade de desfibriladores, o índice de sobrevida registrado passa dos 70% frente as ocorrências.
Enquanto isso, no Brasil, das 720 paradas cardíacas diárias registradas, menos de 2% recebem alta hospitalar. Uma das explicações para o quadro é que a grande maioria delas ocorre dentro de casa ou na rua, onde familiares, amigos e pessoas próximas não sabem o que fazer.
Daí a importância de, a partir deste mês de outubro, o Centro de Treinamento em Emergências Cardiovasculares da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp) voltar a ministrar cursos de ressuscitação de forma presencial, desde o início da pandemia de Covid-19, o que mobilizará ainda mais voluntários.
São cursos credenciados pela Associação Americana do Coração (AHA, na sigla em inglês). Para quem não atua na área da saúde, há a modalidade BLS (Basic Life Suport). Já o ACLS (Advanced Cardiac Life Support) é voltado para profissionais e o PALS (Pedriatric Advanced Cardiac Life Support) é a versão adaptada para emergências de crianças e bebês.
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Como fazer as manobras de ressuscitação
Via de regra, quem está sofrendo uma parada cardiorrespiratória apresenta tontura abrupta e cai, já inconsciente. Uma forte dor torácica pode se manifestar antes da perda da consciência, mas não em todos os casos. A partir daqui e até o socorro especializado chegar ao local, as manobras de reanimação serão a ferramenta para garantir a sobrevivência daquele indivíduo.
Elas consistem na compressão do tórax com o objetivo de fazer o sangue circular para evitar danos ao coração e ao cérebro, uma espécie de “bombeamento manual”, quando a “bomba automática” não está funcionando. Em primeiro lugar, a pessoa deve ser colocada de barriga para cima em uma superfície rígida e nunca se deve tentar dar água a ela.
Em seguida, a orientação é checar se a vítima está acordada e se há movimento respiratório. Em caso negativo para ambas as verificações, trata-se de uma parada. A partir desse ponto, é preciso acionar os serviços de emergência, ligando para o 192, e, enquanto a ajuda especializada não chega, iniciar as massagens.
As compressões torácicas são feitas com uma mão sobre a outra e os braços estendidos e devem ser aplicadas na linha entre os mamilos. O peito precisa afundar entre 5 e 6 cm para surtir efeito. São de 100 a 120 movimentos por minuto. Como o procedimento exige esforço físico do voluntário, o ideal é que haja um revezamento para manter a massagem constante até que o paciente desperte ou até o socorro chegar.
Além dos benefícios de ter uma população crescente treinada para as manobras, o acesso a desfibriladores cardíacos também é crucial para reverter uma parada. Quando utilizado no primeiro minuto do episódio, o aparelho aumenta as chances de sobrevida entre 80 e 90%. Por isso desfibriladores devem estar sempre à mão em edifícios e locais públicos, como shoppings, parques, estádios, academias, teatros e cinemas, entre outros.
Lembre-se: pequenas ações precisam ser consideradas pelo poder público e a sociedade diante da grandeza da manutenção de uma vida.
* Agnaldo Piscopo é cardiologista e coordenador dos cursos da Associação Americana do Coração na Socesp