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Neurodiferentes

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O psiquiatra Alexandre Valverde tem diagnóstico de autismo e um mestrado em filosofia na bagagem. Neste espaço, conversa sobre neurodivergência e assuntos em alta no universo da saúde mental

Como circular nas redes sociais sem afetar a saúde

Saber por que andamos nestas paragens, quem nos guia, e quanto tempo dedicamos a elas é o básico para que não nos percamos

Por Alexandre Valverde, psiquiatra*
25 fev 2025, 13h23
redes-sociais
Navegar no mundo online exige habilidades socioemocionais (Jaap Arriens/NurPhoto/Getty Images)
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Ruas e estradas conectam localidades, sejam casas de um bairro, bairros de uma cidade, cidades de uma região, regiões de um país.

Como é interessante ver do alto a trama das vias entrelaçando-se em si mesma, assim como se entrecruzam as raízes de árvores vizinhas, e, entre elas, o micélio dos fungos no solo. A mesma imagem podemos observar no interior de nossos cérebros, nas nossas vias neuronais.

Redes sociais seguem o mesmo padrão. São espaços virtuais, em que adentramos, com nosso aparatos tecnológicos, em rizomas algorítmicos, estradas digitais que nos permitem conexões, antes inimagináveis, extinguindo fronteiras e barreiras culturais, que anteriormente, nos mantinham aderidos a campos vivenciais estritos no espaço e tempo.

Nessas estradas, as telas de nossos celulares se tornaram as janelas por onde vemos o passar do mundo, que desfila, ou antes, desliza, diante dos olhos: da execução de receitas culinárias de um casal no interior do Irã, às explicações da jovem cientista norte-americana neurodivergente sobre neurociências, passando pelas dicas de hospedagem próximo à cachoeiras da Serra do Cipó em Minas Gerais.

Jogar, namorar, aprender, comprar, vender, trabalhar, apostar, comentar, maldizer, informar-se, distrair-se, rir, chorar, irritar-se, enfim, a vida digital imita a vida real, no rizoma digital.

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Mas esse ambiente, hoje praticamente inalienável de nossas vidas, não é somente espaço de conexão com os outros, também pode ser espaço de desconexão consigo mesmo.

Podemos passar muito tempo da vida capturados pelo canto desta algorítmica sereia que, com sua melodiosa dopaminérgica voz, pode nos fazer refém, consumindo o tempo, que é um só para cada um, e se esvai sem que o percebamos.

Vagamos em bolhas digitais em plataformas, ou seja, em territórios colonizados que, agora, tentam se furtar das leis básicas da razoabilidade do convívio humano. Como por exemplo, evitar que mentira e desinformação, que prejudicam esse próprio convívio, possam circular sem restrições.

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+ Leia também: Dossiê ansiedade: como nos tornamos escravos dela?

Em muitas vezes, só estamos a escutar ecos de vozes que não nos pareçam dissonantes. Perdemos a capacidade de suportar o questionar e o questionar-se.

Em tempos críticos como este em que vivemos, em que muitos se encaminham para a radicalização e intolerância, é necessário reconhecermos as estradas pelas quais nos deixamos circular: os cenários podem ser montados. Limitar o tempo de ficar vendo o mundo pela janela do celular é tarefa primordial.

Saber evitar o fast-food dos pensamentos de ódio ultraprocessado, disfarçados de ideias saborosas, mas recheados com explicações simplistas para problemas complexos do mundo, e que geralmente apontam os outros como culpados das nossas mazelas, é imprescindível.

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Cuidar para que a comparação com os outros não se torne veneno que nos intoxique e condicione nossas escolhas, de roupas e marcas de maquiagem à necessidade de cirurgias plásticas, se torna uma blindagem mínima para adentrar esses terrenos. Sob o risco de vermos nossa saúde mental em jogo.

Assim como as estradas pavimentadas constituem nosso mundo concreto, o advento das redes sociais permitiu que um outro manto se estendesse sobre nossos territórios culturais.

Saber por que andamos nestas paragens, quem nos guia, e quanto tempo dedicamos a essas estradas invisíveis é o básico para que não nos percamos. As janelas dos celulares podem nos mostrar muito sobre muito, mas não sopram vento fresco sobre nossos rostos.

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