Há alguns meses, recebemos um desses convites irrecusáveis que a vida às vezes nos proporciona: dar uma aula em Stanford. A proposta é que déssemos a aula de abertura do curso de Liderança em Saúde.
Um dos grandes objetivos dessa disciplina é formar alunos de diferentes áreas para compreender o ecossistema da saúde, seus desafios e oportunidades.
Nós fomos indicadas para apresentar o case da SAS Brasil, organização que fundamos há 11 anos com o propósito de levar acesso à saúde especializada para comunidades vulneráveis do país.
Na preparação para a aula, refletimos sobre qual a mensagem que queríamos deixar. É um contexto intimidador dar uma aula em Stanford. Quem daria a palestra antes da nossa era ninguém menos do que uma professora laureada com o prêmio Nobel. Ou seja, um enorme desafio e também oportunidade!
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Entendemos que o grande valor que tínhamos a oferecer era a possibilidade de inspirar a partir da nossa história. Uma história pouco óbvia, que fugiu dos padrões das carreiras tradicionais de saúde.
Ao pensar em lideranças em saúde talvez venha à mente figuras de gestores de hospitais, operadoras de saúde, grandes laboratórios e farmacêuticas.
Nós somos mulheres e fundadoras de uma organização de impacto social na saúde. Só iniciamos essa trajetória porque ouvimos histórias de empreendedores sociais da área da saúde. Entendemos ali que esse era um caminho possível. E decidimos explorá-lo.
Na aula, falamos sobre três lições centrais da nossa trajetória:
- A importância da rede. Queríamos evitar o movimento quase instintivo que acontece quando uma plateia escuta pessoas “de sucesso” compartilhando suas trajetórias. É natural às vezes rolar a interpretação de que são pessoas especiais, diferenciadas. Tem muito mito de herói por trás dos fundadores. Para nós, o sucesso da SAS aconteceu a partir da construção de uma rede de pessoas incríveis que acreditaram no nosso sonho. Somos pessoas normais fazendo coisas incríveis por conta de uma rede forte.
- A importância da inovação direcionada ao impacto social. Inovação em saúde é um tema essencial. Liderar em saúde envolve pensar em inovação. Defendemos a ideia de que não é qualquer inovação que vai de fato construir uma saúde com mais equidade. Precisamos cultivar uma mentalidade de inovação social, que pensa em acesso como premissa.
- Caminhos alternativos: a construção de uma carreira de sucesso depende muitas vezes da coragem de seguir rotas diferentes do que a maioria segue. Alunos da área de saúde são pouco ensinados a explorar caminhos alternativos. Compartilhamos as nossas histórias para ilustrar que o “dar certo” depende menos de tomar as decisões tradicionais, e mais da capacidade de reconhecer os próprios talentos e ter a coragem de seguir o coração.
Educação e saúde andam juntas. Sempre acreditamos nisso. Não só educar os pacientes sobre a importância de bons hábitos, informá-los sobre campanhas de prevenção. Mas educar também os atuais e futuros profissionais de saúde para além da formação técnica, para além dos caminhos óbvios nas carreiras de medicina, enfermagem, nutrição ou qualquer outra área da saúde.