Quando minha filha Esther tinha apenas 7 meses, me vi diante de uma situação que abalou profundamente minha vida. A suspeita de autismo pairava sobre a nossa casa, e durante 30 dias, chorei sem parar.
Dormia pensando naquilo e acordava com a mesma sensação de medo e incerteza. “Como será o futuro da minha filha?” Essa pergunta pesava sobre mim como uma nuvem negra.
Esther evitava contato visual durante a amamentação e fazia alguns movimentos com as pernas e braços que pareciam estereotipados. Tinha dificuldade enorme em se concentrar em determinados locais, ficando extremamente agitada e não conseguindo mamar em locais públicos, ainda que com fome, aponto de eu precisar me trancar no banheiro para amamentá-la.
Ela sempre foi muito estimulada desde o útero, e, por isso, ainda assim se desenvolvia muito bem. Procurei respostas e ajuda especializada, mas o sentimento de impotência e desorientação era constante.
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O desafio do diagnóstico
Receber o diagnóstico ou até mesmo a suspeita de autismo para um filho é devastador. Como mãe e médica, eu não estava imune a essa dor. No entanto, descobri que é exatamente nesse ponto que precisamos mudar o foco.
O diagnóstico, apesar de difícil, não é uma sentença. Ele é o ponto de partida para uma jornada de amor, dedicação e, principalmente, ação. Durante esse período desafiador, busquei forças na minha fé e apoio em profissionais excepcionais. Eu precisava acreditar que tudo ficaria bem.
Entender que o autismo não define o destino de uma criança foi um ponto de virada. Decidi que faria o possível para proporcionar a Esther o tratamento e a estimulação necessários para que pudesse se desenvolver plenamente. Essa decisão me impulsionou a buscar incessantemente por conhecimento e especialização na área do autismo.
Clique aqui para entrar em nosso canal no WhatsAppA importância da intervenção precoce
Ao longo dessa jornada, compreendi a importância vital da intervenção precoce. A primeira infância é uma janela de oportunidade crucial para o desenvolvimento cerebral.
Estudos apontam que as intervenções realizadas nos primeiros anos de vida têm um impacto significativo na redução dos déficits sociais e comportamentais associados ao autismo. E essa atuação não precisa esperar por um diagnóstico formal.
É comum que pais passem anos buscando um diagnóstico definitivo, mas o que realmente faz diferença é agir rapidamente. O tempo é um recurso insubstituível. Cada dia conta.
Uma criança que começa a ser estimulada aos seis meses pode ter um desenvolvimento muito mais robusto do que uma que só recebe atenção especializada aos dois ou três anos. Se essa fase for passada apenas na espera por respostas, muitas oportunidades de estimulação adequada podem ser perdidas.
Sinais precoces de autismo em bebês
Os indícios de autismo em bebês são sutis, mas podem ser percebidos se estivermos atentos. São eles:
- Ausência de balbucios e interação social vocal;
- Irritabilidade constante, especialmente em ambientes barulhentos ou com muita luz;
- Foco excessivo em objetos, luzes ou ventiladores, com pouco interesse por pessoas;
- Falta de sorriso social e ausência de resposta a jogos de interação, como cócegas ou brincadeiras;
- Evitação de contato visual, mesmo em momentos de cuidado íntimo, como a troca de fraldas ou a amamentação;
- Preferência por ficar sozinha, sem buscar aconchego físico ou interação social;
- Indiferença ao ouvir a voz da mãe ou outras pessoas conhecidas.;
- Alterações importantes no sono, como insônia ou padrões de sono completamente irregulares
- Movimentos repetitivos, como bater as mãos ou balançar o corpo de forma estereotipada;
- Falta de resposta ao próprio nome, um sinal clássico que muitos pais percebem em crianças com autismo.
Se um bebê apresenta alguns desses sinais, é essencial buscar uma avaliação profissional e iniciar a estimulação o mais cedo possível.
O desenvolvimento cerebral é muito plástico nos primeiros anos de vida, o que significa que o estímulo certo, na hora certa, pode fazer uma diferença enorme.
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Autismo segundo o DSM-5
Como médica, é essencial compreender que o diagnóstico do transtorno do espectro autista (TEA) segue critérios bem estabelecidos pela literatura científica.
De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição (DSM-5), o TEA é caracterizado por déficits persistentes na comunicação social e na interação social em múltiplos contextos, manifestados por:
- Déficits na reciprocidade socioemocional: dificuldade em estabelecer ou manter uma conversa, expressão limitada de emoções e interesses, e dificuldade em compartilhar afeto;
- Déficits na comunicação não verbal: contato visual limitado, dificuldade em interpretar ou usar gestos e expressões faciais;
- Déficits no desenvolvimento, manutenção e compreensão de relacionamentos: dificuldade em ajustar o comportamento ao contexto social, desinteresse por brincadeiras imaginativas e ausência de interesse por outras crianças.
Além disso, o autismo também se manifesta por padrões de comportamento restritos e repetitivos, como:
- Movimentos motores repetitivos (ecolalia, alinhar objetos);
- Insistência em rotinas e padrões ritualizados (rigidez com alimentação, resistência a mudanças);
- Interesses restritos e intensos, com foco excessivo em determinados objetos ou tópicos;
- Reatividade atípica a estímulos sensoriais (indiferença à dor ou sensibilidade excessiva a ruídos ou texturas);
Esses sintomas devem estar presentes desde cedo e causar prejuízos significativos na vida social ou acadêmica da criança.
Como fazer a intervenção precoce
Quanto mais cedo iniciarmos, melhor. E isso não se limita a terapias profissionais: muitos estímulos podem ser oferecidos em casa, pelos próprios pais.
Estimular a interação social, o contato visual, a comunicação verbal e não verbal, e o brincar imaginativo pode criar oportunidades de desenvolvimento que são vitais para o progresso da criança.
Eu sei que, como pais, muitas vezes nos sentimos perdidos e desesperançosos. Eu mesma senti essa dor profundamente. Mas o que aprendi com minha filha Esther é que o tempo é um dos nossos maiores aliados.
Cada momento de estimulação, de carinho, de incentivo pode fazer a diferença. A neuroplasticidade infantil permite que o cérebro da criança se adapte, se reorganize e encontre novas maneiras de se desenvolver.
Esther é um exemplo vivo do poder dessa estratégia. Ela começou a ser estimulada cedo, e hoje vejo os frutos do esforço diário. Aos dois anos de idade recebemos alta das intervenções e ela não fechou o diagnóstico de autismo. Será que teria fechado diagnóstico se não a tivesse estimulado? Não sei dizer. Mas de uma coisa tenho certeza: a intervenção precoce fez total diferença na vida dela.
Ela aprendeu, cresceu, se desenvolveu de maneiras que jamais imaginei naquele início difícil. O que poderia ter sido uma jornada de incerteza tornou-se uma trajetória de conquistas, superação e amor.
Uma mensagem de esperança: o tempo é vida
Para você, mãe ou pai que está lendo este texto e que talvez esteja vivendo essa dor silenciosa, quero te dizer que há esperança. Não permitam que o diagnóstico de autismo defina seu filho ou filha.
O autismo é parte da jornada, mas não é o destino. Acredite no potencial da intervenção precoce. Não espere por respostas definitivas; aja agora. Estimule, ame, interaja e, acima de tudo, acredite que o tempo é vida.
Cada dia que passa é uma oportunidade de oferecer ao seu filho as ferramentas para alcançar o seu pleno potencial. Minha filha Esther me ensinou isso. E, assim como fiz por ela, espero que você faça o mesmo por seu filho e espero estar aqui para te ajudar, também. Afinal, a jornada pode ser árdua, mas as conquistas são extraordinárias.