A menopausa e a pergunta que mais ouço no consultório
A mastologista Fabiana Makdissi tira dúvidas sobre a reposição hormonal e esclarece em quais casos ela não é indicada

“Doutora, mas eu posso fazer reposição hormonal?” Vamos lá: sou mastologista e tenho como principal foco do meu trabalho o cuidado das mulheres e de suas mamas. Por entender as dúvidas e angústias das pacientes, ainda que não seja especializada em ginecologia, meu papel é ajudá-las a tomar a melhor decisão junto a seus médicos e médicas.
Todos os dias, entram no meu consultório mulheres nas mais variadas fases da vida: jovens com sintomas de dores mamárias, aquelas que sentiram nódulos quando tocaram suas mamas e que ainda não sabem quanto devem ou não se preocupar com o que sentiram, outras com medo de desenvolver um câncer porque já tiveram alguém na família com a doença…
Também recebo mulheres que já tiveram esse diagnóstico e vêm até mim para serem acolhidas e direcionadas ao tratamento mais adequado.
Clique aqui para entrar em nosso canal no WhatsAppNo entanto, uma das consultas mais frequentes hoje em dia é aquela com mulheres que estão se aproximando da fase da menopausa ou já vivenciando o período em que os hormônios femininos deixam de ser produzidos. É nesse contexto que se multiplicam questionamentos como o clássico “Posso fazer a reposição hormonal?”
Mas o que essa pergunta nos coloca é algo maior e mais profundo que o combate a sintomas como fogacho e insônia. Veja: nós, mulheres, já somos a maioria no Brasil. Grande parte das famílias é hoje chefiada e mantida financeiramente por mulheres. Em franca atividade, também temos nos mostrado mais atentas e preocupadas com a qualidade do nosso envelhecimento.
Eu lembro que, quando era pequena, uma mulher perto de seus 50 anos já era considerada idosa. Não era incomum ver mulheres nessa fase restritas a seus afazeres domésticos. Não é mais assim!
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Hoje uma mulher de 50 anos — a idade em média em que entramos na menopausa — está ativa, produtiva, buscando melhores oportunidades e ainda cuidando de filhos mais novos. Foi-se o tempo em que a prioridade era o binômico “casamento e maternidade”.
Hoje a gente quer (e pode) estudar, trabalhar e curtir mais a vida. Um dos efeitos colaterais dessa transição é que a maternidade, quando desejada, foi empurrada para mais tarde. Só que, diferentemente dos homens, cujos hormônios não têm um prazo de validade, nós inevitavelmente encararemos a queda de estrogênio e afins.
Terapia de reposição hormonal: suas vantagens e senões
Uma das formas que a medicina encontrou para prorrogar esse tempo junto aos hormônios — e as benesses que eles promovem no corpo — é a terapia de reposição hormonal.
Vou ser franca: não gosto de ouvir algumas mulheres declamando que “hormônio é vida”. Isso porque, especialmente para minhas pacientes que tratam o câncer de mama, a reposição não é uma solução — e os dias terão de seguir a despeito dela, às vezes com impactos na qualidade de vida.
A conclusão que podemos tirar disso tudo é que a terapia hormonal pode ser proveitosa, sim, mas não para qualquer mulher. Existem as contraindicações.
O que sabemos, segundo os estudos? Sabemos que a reposição hormonal, quando bem indicada, de fato pode reduzir o risco de doenças cardiovasculares e melhorar a qualidade de vida e a cognição das mulheres. Por outro lado, também sabemos que existem alguns senões, sendo o principal deles um pequeno aumento no risco de câncer de mama. E é aí que as coisas se complicam.
Existem diversos fatores que elevam a propensão ao câncer de mama. Sem falar nas influências genéticas, há fartas evidências de que a obesidade, o sedentarismo, o tabagismo e o consumo excessivo de bebida alcoólica conspiram a favor da doença.
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Perceba que há uma série de elementos envolvidos, de modo que, a menos que a mulher tenha tido câncer de mama ou outra questão de saúde, ela poderia se beneficiar da terapia hormonal.
É por isso que vale a pena conversar com o médico sobre essa perspectiva, sobretudo se aparecerem sintomas da menopausa, como ondas de calor (os fogachos), dificuldade de dormir, ganho de peso, falta de energia, infecções urinárias repetidas e diminuição do desejo sexual ou da lubrificação vaginal, o que causa dores nas relações.
Bem, mas estou aqui para tentar ajudar na tomada de decisão e em como conversar com seu ginecologista sobre o assunto, pois, como eu disse, gosto de ouvir e orientar minhas pacientes.
Conselhos para quem quer fazer reposição hormonal
Que fique claro: não serei eu que irá prescrever a reposição. Faço questão, no entanto, de deixar alguns conselhos práticos para quem vive com esses dilemas em mente. Conselhos que têm muito a ver com a minha rotina de especialista.
Primeiro: tenha seus exames de mama em dia; não dá para ter dúvida se uma lesão na mama é ou não um câncer antes de iniciar a terapia hormonal.
Segundo: há contraindicações formais, entre elas histórico de trombose e câncer de mama — a maioria dos tumores mamários é estimulada por hormônios, algo que não vamos querer.
Terceiro: avalie como você se sente e reconheça suas necessidades.
Quarto: olhe para sua história familiar; casos de câncer entre parentes nos fazem redobrar a atenção com a indicação do tratamento.
Quinto: pondere sobre os seus receios diante da reposição; se não se sentir bem ou tiver medo dela, minha recomendação é segurar o uso, afinal, ter a consciência tranquila faz parte da qualidade de vida.
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É assim, entre perguntas e respostas, impressões e emoções, que começo a conversar com minhas pacientes.
Quando falamos em reposição hormonal, temos sempre que identificar quem são as mulheres com contraindicação, e isso passa obrigatoriamente pelos exames de mamas, porque a última coisa que podemos permitir é que um novo nódulo seja “alimentado” por hormônios e exponha a paciente ao risco de um câncer.
No mais, as mulheres têm o direito de entender e questionar tudo que pode acontecer. Só assim estarão prontas e seguras para uma tomada de decisão consciente e feliz.