Oiê, vamos começar pelo começo?
Meu nome é Fabiana Makdissi, e pode ser que alguns de vocês já tenham ouvido falar de mim. No último Outubro Rosa, compartilhei um poquinho da minha história na revista e no site de VEJA SAÚDE com o artigo Médica ou paciente? Minha vivência nos dois lados do consultório.
Ali eu apresentei minhas duas faces: a da profissional de saúde, cirurgiã e mastologista, que atua cuidando de mulheres com câncer de mama; e a de quem teve a experiência de ter sido paciente e se tratou do mesmo tipo de tumor do qual eu cuido.
Hoje é um dia muito feliz, e quero compartilhar essa minha felicidade com os velhos e novos leitores e leitoras. A partir de agora, teremos um contato bem mais frequente. Vocês vão conhecer a médica que ama o que faz, mas perceber que a medicina vai além das quatro paredes de um consultório.
Sim! É verdade esse bilhete! Aceitei o convite de ter uma coluna fixa em VEJA SAÚDE e, bastante empolgada, não me esqueço da frase do tio do Homem Aranha: “Grandes poderes trazem grandes responsabilidades”. Pois eu assumo essa missão com amor e gratidão.
+ ASSISTA: A entrevista da nova colunista para o nosso podcast
Médicos estão sempre fechadinhos em seus consultórios, usando de sua qualificação para atender pessoas e cuidar da saúde de somente um indivíduo por vez. Cuidar de alguém exige conversa, um diálogo detalhado que chamamos de anamnese e visa entender os sinais, as queixas e os exames da paciente.
É difícil para a maioria de nós “generalizar”, porque cada pessoa é única, cada doença tem o seu diagnóstico e o seu jeito de tratar… E, quando somos desafiados a passar informações a muitas pessoas ao mesmo tempo, temos medo de ser mal interpretados. Sabemos quanto foi difícil nos formar, quanto é difícil sermos reconhecidos e respeitados e a exposição pública pode amedrontar a maioria de nós.
Temos medo de dizer algo de forma generalizada e alguém que não se encaixa no que foi dito achar que aquilo era para ele e ter sua vida afetada por um conselho inadequado. Mas isso não deveria nos impedir de transmitir nosso conhecimento ao mundo. Aceitei esse convite, ciente do tamanho do desafio.
Atender um a um faz parte da rotina de todo médico, mas comunicar às massas é algo diferente. Muitos dos meus amigos dizem: entrevista? Falar com jornalista? Dar aula em congresso ou palestra? Expor-se nas mídias sociais? Isso não é pra mim!
E eu? Aqui do meu lado, essa sensação de ter a oportunidade de levar informação de qualidade, que possa impactar, melhorar ou mudar a vida de alguém por meio de um texto, me encanta. Estou aqui para isso, na esperança de ajudar pessoas que nunca terei a oportunidade de conhecer ao vivo e a cores.
O pedido do editor foi: “Doutora, queremos uma coluna que trate mais da saúde da mulher, em todos os sentidos. Carta branca pra você!”. Sem palavras – e isso não é força de expressão! -, eu sorri, chorei e disse: “Sim”.
Agora teremos uma conexão maior e mais frequente. É hora de compartilhar conhecimento, ideias, pontos de vista sobre o universo feminino.
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Como tudo começou
Então me permita falar um pouco mais de minha trajetória até aqui. No início da faculdade, eu já sabia que queria ser cirurgiã. Mas ainda não distinguia qual poderia ser minha área de atuação. Nesse começo, minha intenção não era cuidar de mulheres…
Deixa eu explicar melhor. Sempre tive perfil de cirurgiã. Racional, decidida, pessoa que gosta de soluções rápidas, que adora resolver problemas com as próprias mãos. Nesses primeiros tempos de universidade, eu, uma jovem impetuosa e impaciente, percebia que, quando fazia perguntas para os homens, as respostas vinham diretas e curtas… Mas, quando a mesma questão era colocada para uma mulher, nossa!, como a resposta demorava.
Confesso que aquilo me irritava. Uma simples pergunta – tipo: quantos anos você tem? – rendia 5 minutos de explicações. Essas mulheres falavam do motivo pelo qual se achavam mais velhas, falavam que na noite anterior não tinham dormido bem e isso se refletia na aparência, às vezes nem se lembravam da sua idade.
Eu juro que não entendia aquilo. E não entendia por um motivo bem simples: eu ainda não era uma mulher madura a ponto de compreender que as mulheres cuidam de todo mundo, menos de si mesmas. Não dormem bem porque estão cuidando dos filhos. Gostam de se sentir bonitas, mas não têm tempo para a maquiagem. Querem fazer um curso ou um esporte, mas têm compras e contas a pagar.
No fundo, não têm tempo pra si! Sabe a fila do pão? A mulher sempre está no final da fila, e nunca é para pegar o pão pra ela mesma.
O tempo passou. Concluí a faculdade, a residência médica, as especializações… E me tornei uma mulher que, de repente, se apaixonou por aquelas respostas longas, cheias de nuances e desvios. Eu comecei a respeitar e achar lindas as rugas no rosto, a olhar com mais carinho as dobrinhas da barriga, a entender que, apesar da vontade de me exercitar todos os dias, nem sempre sobra tempo para mim. E vida que segue.
Desde que comecei a cuidar de mulheres, um grande questionamento passou a fazer parte da minha vida: quem cuida da cuidadora?
Mulheres cuidam dos filhos, dos parceiros, dos pais quando eles envelhecem, do gato, do cachorro, do papagaio… Mulheres se cobram para continuarem lindas e bem-sucedidas. Porém, quando uma mulher adoece, quem cuida dela? (Sabia que não é raro os homens irem embora nessa situação?)
Então o propósito desta nova coluna é: quero ajudar a cuidar de vocês.
Tudo o que na minha visão e vivência de médica, filha, esposa, mãe, amiga, líder ou influenciadora puder vir a ser importante para vocês pretendo trazer por aqui. Quero que esse seja um espaço seguro e leve, que possa oferecer orientação, reflexão e esperança a você, MULHER, seja cis, trans, hetero, homo, seja nova ou velha… Enfim, um espaço para quem é mulher de corpo e alma.
Sejam bem-vind@s ao Sextou com a Doutora! Me permitam cuidar de vocês.