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Virosfera

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O mundo também é dos vírus. E o virologista e especialista em coronavírus Paulo Eduardo Brandão, professor da Universidade de São Paulo (USP), guia nosso olhar sobre esses e outros micróbios que circulam por aí.

A gravidade dos vírus “fugitivos”

Novo estudo confirma que nenhum dos coronavírus guardados em laboratório na China deu origem à pandemia

Por Paulo Eduardo Brandão
Atualizado em 26 dez 2024, 08h58 - Publicado em 26 dez 2024, 08h00
fim da pandemia
Pesquisadores observaram que o coronavírus pode ser ainda mais mutável do que se imaginava antes (Foto: Quinten Braem/Unsplash/Divulgação)
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Todos os dias no laboratório, vejo se está tudo bem com o nosso freezer, que chega a -80 °C (um pouco mais “quentinho” que a Antártica), e com o nosso recipiente cheio de nitrogênio líquido, dentro do qual faz -196 °C. Nem tão frio assim: no espaço, faz −270 °C. É bem legal abrir esse recipiente e ver nuvens de vapor de água se formando, mas atenção: não tente fazer isso em casa!

É lá que guardamos nossos vírus, alguns bem sérios como o vírus da raiva e o influenza, causador da gripe, entre um ou outro coronavírus.

Temos uma lista de quem está “preso” em que gaveta e em que caixa. Fazemos isso para preservar nossos queridos vírus e também ter o controle do que está lá e, mais importante, se algum deles não está, ao estilo do Ectoreceptáculo, que guardava os fantasmas capturados no filme Caça-fantasmas.

Já pensou se um deles escapa do laboratório? Alguém poderia fazer isso por engano, claro, ao limpar estes freezers e acabar descartando algo que não deveria, ou mesmo pegar algum patógeno que não lhe pertence por puro engano. Ou…ou alguém pode pegar os vírus guardados para usar como bioterrorismo!

Seja como for, um vírus sumido é um terror que pode assolar qualquer laboratório de virologia.

+Leia mais textos da coluna Virosfera

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Foi isso que aconteceu na Austrália em 2021, quando sumiram centenas de frasquinhos contendo hendravírus, hantavírus e lyssavírus. Descoberto em 2023, o acontecimento só foi divulgado ao público neste mês. Ninguém (sabe ou não que contar) como estes vírus escapuliram de um freezer que pifou no Laboratório de Virologia em Saúde Pública na cidade de Queensland.

Aí temos dois erros. Primeiro, os vírus terem sumido. Segundo, uma demora de um ano para divulgar o fato ao público! As autoridades afirmam com certeza que os vírus devem ter sido destruídos por alguém e que não há nenhum risco à saúde pública. Será?

O hendravírus pode causar desde uma síndrome gripal até quadros respiratórios e neurológico graves em pessoas. Não há tratamento e nem vacinas para seres humanos. O hantavírus é transmitido por roedores e podem levar a síndromes respiratórias e renais graves. Não há tratamento, mas há vacina. Tanto o hendravírus quanto o hantavírus tem potencial para se transmitirem de pessoa a pessoa.

Sobra o lyssavírus. Não está claro qual lyssavírus está desaparecido, mas há 18 vírus com este nome, um deles sendo o vírus da raiva, do qual já tratamos por aqui. Pode ser que seja o chamado lyssavírus de morcegos australianos (as “raposas voadoras”). Seja qual for, todos causam infecções cerebrais com 100% de letalidade, ao contrário dos hendravírus e hantavírus.

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Não há tratamento, Os lyssavírus não se transmitem bem de pessoa a pessoa, só mesmo por mordida de um cão, gato, morcego e outros animais infectados. Ou por uma injeção acidental.

+Leia também: Saiba quais vírus e bactérias podem levar a uma nova pandemia

Claro, pode ser que alguém tenha limpado um freezer pifado e destruído as centenas de frasquinhos onde os vírus estavam. Ou…ou pode ser que alguém tenha pego estes vírus, guardando em um recipiente bem gelado e levado sabe-se lá para onde. Não é difícil usar estes frascos para produzir mais vírus e causar o terror por aí.

Incidentes são uma possibilidade, e sempre se especulou se algo do tipo teria acontecido com o coronavírus causador da covid-19. Só que, para ele, a história é outra. Não, ele não foi vazado de um laboratório.

Deste tema já tratamos no primeiro número desta coluna, mas uma nova publicação na Nature, a revista científica que é sonho de consumo dos Cientistas, reforça que nenhum dos coronavírus guardados no Instituto de Virologia de Wuhan (lembram desse nome?) na China deu origem a esse “novo” coronavírus.

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A prova é que os genomas dos coronavírus guardados naquele laboratório de altíssima segurança não tem a semelhança genética suficiente com o Sars-Cov-2 para serem os pais dele. Por mais hollywoodiana que fosse a ideia, ele não é um vírus que fugiu de um laboratório, mas sim um que já estava há muito tempo voando com morcegos da região.

Alguma surpresa que um novo coronavírus tenha surgido bem onde tem um laboratório que trabalha com esse vírus? Nenhuma: o laboratório está lá justamente porque lá naquela região há muitos coronavírus diferentes.

Seria como falar para Isaac Newton. “Ah, vem cá, Newtão, fala a verdade aí: como você estudou a gravidade, agora a Terra é obrigada a girar em torno do Sol, não é?”

P.S.: Em 25 dezembro, se comemorou Dia de Newton. Feliz dia de Newton!

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