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O mundo também é dos vírus. E o virologista e especialista em coronavírus Paulo Eduardo Brandão, professor da Universidade de São Paulo (USP), guia nosso olhar sobre esses e outros micróbios que circulam por aí.

A vacina bivalente no fim da emergência da Covid-19

Pandemia segue exigindo cuidados e esclarecimentos sobre a vacinação, ferramenta crucial para o encerramento do estado de emergência

Por Paulo Eduardo Brandão
8 Maio 2023, 18h22
vacina-vírus
Vacinas induzem reação por anticorpos e células para neutralizar o vírus da Covid-19.  (Ilustração: Veja Saúde/SAÚDE é Vital)
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Se contarmos desde 2019, quando os primeiros casos de Covid-19 foram identificados, estamos no Ano V do Período Covideoceno, para fazer uma referência à nomeação de épocas e períodos geológicos.

Ainda que a Organização Mundial da Saúde (OMS) tenha decretado o fim da emergência global recentemente, fato é que o vírus continua circulando.

O que também segue circulando, e evoluindo por aí, são as fake news sobre a doença e a vacina, com muitos achismos que levam pessoas a não se vacinarem.

Só para lembrar bem rapidinho: as vacinas que usamos contra a Covid-19 são de vírus inteiro morto, como a Coronavac da Sinovac, as de proteínas do coronavírus encaixadas em vetores virais, como a da AstraZeneca, e aquelas baseadas em RNA mensageiro, como a da Pfizer.

A bola da vez é a vacina bivalente, feita com a tecnologia de RNA mensageiro. Então vamos mergulhar mais fundo nela.

O que é, afinal, o RNA mensageiro? Como o nome diz, ele leva a mensagem de qualquer genoma, seja de vírus, bactérias ou humanos, para as fábricas de proteínas dentro das células chamadas ribossomos.

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De lá, a proteína segue vários caminhos: pode fazer parte da estrutura celular; pode ser enviada para outros cantos do organismo, se for um hormônio como a insulina; pode, no caso das proteínas de vírus, servir para fazer “bebês virais”.

Só que a célula que produz as proteínas virais é capaz de mostrá-las ao sistema imune e dizer: “Veja só, isso é estranho! Por favor, destrua!”.

No caso das vacinas baseadas em RNA, a ordem é fazer a proteína de espícula do SARS-CoV-2, aquela que permite ao vírus se conectar depois à célula humana.

+ LEIA TAMBÉM: Qual a diferença entre fim da emergência global e fim da pandemia?

A estrutura da vacina é como um pendrive que carrega em seu interior a mensagem para as células fazerem a espícula e tão somente a espícula, sem que um vírus em si seja necessário.

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E o legal é que dá para manter o pendrive e trocar só a mensagem pela espícula de uma nova variante ou até de um outro vírus, como o da gripe, tornando o desenvolvimento de imunizantes muito mais rápido do que o modo tradicional de cultivar o vírus inteiro.

O caminho para a célula fabricar a proteína vacinal do coronavírus pelas vacinas de RNA mensageiro é o mesmo que o coronavírus usa, pois a mensagem é a mesma. Ela não é mais tóxica que a espícula produzida por quem teve a infecção pelo SARS-CoV-2 nem fica sendo produzida por mais tempo do que na infecção natural.

E as reações adversas? Raríssimas, causadas não pela proteína da espícula, mas por adjuvantes da vacina, a parte externa do pendrive.

Esta e as demais vacinas contra Covid-19 aprovadas para uso são seguras e eficientes em seus objetivos de diminuir a gravidade dos sintomas e de cortar a transmissão.

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Graças a isso temos controlado a doença. E a OMS pôde rebaixar o estado de alerta.

E a vacina bivalente de RNA mensageiro? Bom, ela é como se fossem dois pendrives iguais, cada um com uma mensagem diferente, codificados para a espícula de uma variante de SARS-CoV-2 em duas formulações distintas: variante ancestral + variante ômicron BA1e e variante ancestral + variante Ômicron BA4/BA5.

+ LEIA TAMBÉM: Os esforços para vencer a desinformação sobre vacinas

Então, sendo bivalente e atualizada, com certeza é muito melhor do que as “vacinas antigas”, não é? Não necessariamente.

Todo mundo olha só para como se comportam os anticorpos produzidos pelas vacinas, mas sozinhos eles não protegem 100%, pois precisam de ajuda das células do sistema imune chamadas linfócitos T, que respondem àquele apelo de socorro diante da infecção.

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Dizer que os anticorpos são tudo na proteção vacinal lembra aquela história dos sábios vendados que tateavam um elefante tentando adivinhar o que era aquilo: o que tocava a tromba dizia que era uma serpente, o que tocava as pernas dizia que era uma árvore, e por aí vai.

Ou como o desenho de uma jiboia que engoliu um elefante mas que era confundido com um chapéu em O Pequeno Príncipe.

Com isso, o fato científico é que a proteção com um programa completo da vacina monovalente “antiga” para Covid-19 é tão bom quanto aquele das bivalentes atualizadas.

O que importa é tomar todas as doses, inclusive as de reforço, com qualquer uma das vacinas.

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E tem mais: o Sars-CoV-2 evolui muito mais rápido que nossa capacidade de desenvolver, testar e aprovar uma vacina, mesmo que sejam as de RNA mensageiro.

Quando chegamos com uma vacina contra uma variante pronta para usar, outra subvariante, como a Arcturus, já pode se tornar dominante.

Embora estejamos sempre atrasados nessa corrida, graças ao esquema de vacinação atual podemos adquirir uma imunidade forte. E de memória longa, como a dos elefantes.

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