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Virosfera

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O mundo também é dos vírus. E o virologista e especialista em coronavírus Paulo Eduardo Brandão, professor da Universidade de São Paulo (USP), guia nosso olhar sobre esses e outros micróbios que circulam por aí.

Novo coronavírus: entenda a descoberta feita na China

Nada sobre o HKU5-CoV-2 acende alertas, mas temos que seguir fazendo estudos para encontrar o próximo coronavírus antes que ele nos encontre

Por Paulo Eduardo Brandão
26 fev 2025, 10h46
HKU5-CoV-2
HKU5-CoV-2 foi identificado em morcegos recentemente (Veja Saúde/Veja Saúde)
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Morcegos estão em toda parte. Pode ser que não vejamos estes mamíferos fascinantes (ok, podem discordar), mas eles estão sempre mais perto do que imaginamos. Existem umas 1 400 espécies deles, vivendo no mundo todo, exceto na Antártica — enquanto a mudança climática não muda isso também.

Basta olhar, no fim de uma tarde de verão, para enxames de insetos rodeando um poste de luz. De vez em quando, uma sombra passa e pega um deles. Estes são os morcegos insetívoros, que nos livram de toneladas de insetos todos os dias.

Outros se alimentam de néctar de flores e fazem polinização de frutas e outras plantas, espalhando sementes que passam pelos seus tratos digestivos. Existem ainda os que se alimentam de sapos, peixes e por aí vai. E não dá para esquecer dos morcegos vampiros, que se alimentam só e exclusivamente de sangue.

Como todos os animais, os morcegos tem uma vasta Virosfera. A maior parte dela é “matéria escura” da virologia, ainda a ser descoberta.

Mas o interessante é que os morcegos não estão nem aí para muitos desses vírus. Um equilíbrio entre a virulência viral e o sistema imune dos animais, alcançado em mais de 50 milhões de anos de evolução, permite que eles continuem saudáveis e os vírus continuem a se reproduzir e espalhar, numa relação ganha/ganha.

Claro, para casos como o vírus da raiva, os morcegos de qualquer tipo se dão mal no final, morrendo pela infecção, não sem antes poderem transmitir para nós.

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Um dos vírus mais charmosos (podem discordar aqui também) que vivem em equilíbrio com os morcegos são os coronavírus. Não é nenhuma causa de espanto encontrar coronavírus nesta espécie, já que a maioria dos tipos deste vírus teve sua origem em um morcego. Já discutimos aqui várias vezes que o SARS-CoV-2 da covid-19 está entre eles.

+Leia também: Como surge uma variante do coronavírus?

A busca pelos coronavírus

Recentemente no meu laboratório encontramos um coronavírus desconhecido em um morcego insetívoro. Mapeando todo o genoma desse vírus, vimos que ele pertence ao ramo dos Alfacoronavírus, primos distantes dos Betacoronavírus onde se encaixa o SARS-CoV-2, mas perto de alguns coronavírus de resfriados. E já achamos outros coronavírus em morcegos em outras oportunidades.

Meus colegas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) também acharam recentemente um coronavírus nunca visto em morcegos aqui no Brasil, nesse caso, um parente próximo do SARS-CoV-2 e do MERS-CoV humano, transmitido por dromedários na Arábia Saudita, com alta taxa de letalidade.

Mas mostrar que um vírus é parente do outro olhando na sua árvore genealógica é uma coisa. Entender se e como ele pode ser um risco a saúde pública e causar a próxima pandemia é outra história.

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Pequenas diferenças entre coronavírus podem dizer muito e grandes diferenças às vezes não dizem nada. Um coronavírus ser parente do MERS-CoV ou dos vírus de resfriado não quer dizer necessariamente que ofereça os mesmos riscos.

+Leia também: Mundo dos vírus: quando vai ser a próxima pandemia?

O HKU5-CoV-2, novo coronavírus da China

Pois bem. Um terceiro coronavírus, desconhecido até então, ficou famoso recentemente.

Chamado de HKU5-CoV-2, ele foi achado em morcegos insetívoros na China. Além de dissecar o genoma dele, os pesquisadores testaram vários tipos de células mantidas em laboratório para ver em quais ele entrava e se dava bem.

E, pasmem, o HKU5-CoV-2 tem a chave ideal para abrir as portas não só de células humanas, mas também de patos, esquilos, vacas, cabras, coelhos, golfinhos e por aí vai.

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Esta promiscuidade já é um sinal preocupante, pois indica que o HKU5-CoV-2 poderia se dar bem em qualquer lugar. Mas ela não quer dizer que ele será a causa da próxima pandemia. Para isso, o vírus tem que ser capaz também de invadir não só em células no laboratório, mas causar doença nas pessoas e se transmitir bem entre nós, como o SARS-CoV-2.

Ah, sim: os colegas chineses fizeram ainda algo muito importante: já descobriram que temos antivirais capazes de matar o HKU5-CoV-2, alguns deles os mesmos que usamos para COVID-19.

Temos motivo para pânico e para voltar a estocar papel higiênico em casa como na COVID-19? Não. Nada nestes dados mostra algo preocupante. Mas temos que continuar vigiando, testando, aprendendo e, claro, investindo em ciência, se quisermos encontrar o próximo coronavírus antes que ele nos encontre.

Os coronavírus são assim mesmo, como os morcegos: quem procura, acha.

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