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Adolescência: 6 alertas da série da Netflix para os pais

Obra expõe redes sociais e falta de participação dos responsáveis como grandes perigos atuais para os jovens

Por Ingrid Luisa
Atualizado em 25 mar 2025, 16h44 - Publicado em 25 mar 2025, 16h20
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Série que está fazendo sucesso mostra desafio de criar adolescentes nos dias atuais  (Divulgação/Netflix/Reprodução)
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Com certeza você já foi impactado de alguma forma pela série da Netflix Adolescência, a mais vista da plataforma por 11 dias em 70 países. Ela conta, em 4 episódios, a história de um garoto de 13 anos que é acusado de assassinar uma colega a facadas.

Jamie Miller parece um adolescente normal: gosta de ficar trancado no quarto, olhar as redes sociais e sair de vez em quando com seus dois melhores amigos. Quem imagina que um menino tão comum seria capaz de cometer um crime brutal?

A investigação acerca do caso envolve não apenas inseguranças e fantasias da adolescência, mas a influência da escola, da internet e da família na definição dos valores das crianças.

Os pais podem aprender e refletir bastante com o que é mostrado na produção, haja visto as tantas discussões já suscitadas nas redes sociais.

VEJA SAÚDE conversou com a psicóloga e pesquisadora Andrea Jotta, especializada em cyberpsicologia; e com a educadora parental Priscilla Montes, pós-graduada em desenvolvimento infantil pela PUC-RS, para elucidar lições importantes da obra:

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1) Monitore, acompanhe e tenha curiosidade pelo que seu filho faz na internet

Andrea faz uma interessante analogia para explicar o tema: nenhum pai ou mãe deixa os filhos saírem para lugares desconhecidos com pessoas desconhecidas, certo?

Quando o jovem pede para sair sem os pais, esses responsáveis querem saber para onde ele vai, com quem, o que vai fazer, que horas pretende voltar, tudo. E com o uso da internet precisa ser exatamente a mesma coisa:

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Deixar seu filho acessar as redes sem monitoramento é largá-lo num lugar desconhecido com milhares de pessoas estranhas e potencialmente perigosas”, crava a psicóloga.

“Muitos pais atuais não tiveram acesso à internet quando mais novos como os filhos têm hoje. Ficar no quarto com livros e longe de pessoas desconhecidas era realmente seguro. Mas, isso mudou quando nesse quarto as crianças têm um celular, um computador, um mundo fornecido pela internet em apenas um clique”, explica Jotta.

Na série, Jamie não era bom em esportes (que seu pai adorava) e se sentia meio alheio aos programas da família. Porém encontrou um mundo e uma turma para chamar de sua na internet. E seus pais não sabiam nada sobre o que ele acessava, postava nas redes sociais ou da maneira como se comunicava com os amigos.

Andrea alerta que, quando a criança ganha um tablet ou um celular, ela precisa de monitoramento constante. Limite de telas, bloqueio de sites, conferir histórico de navegação, tudo isso é essencial. Mas o mais importante é: acompanhamento próximo dos pais.

Ou seja, eles precisam sentar do lado e jogar junto, ver vídeo junto, pedir para ver o que a criança estava lendo ou assistindo. “Não adianta apenas perguntar, porque o adolescente não vai responder completamente. É preciso estar integrado naquele momento para que a internet não vire um ambiente de refúgio, algo escondido”, esclarece a psicóloga.

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2) Abuso das telas pode ter raízes profundas

Priscilla Montes também alerta sobre o que tanto tempo nas telas pode significar para os adolescentes:

“Qualquer vício esconde uma falta”, afirma. Na série, é evidente que o garoto não tinha acolhimento suficiente dos familiares e recorreu à internet por isso.

“Muitos pais não apenas não entendem a linguagem dos filhos adolescentes como também não se interessam em aprender ou acompanhar, querem só colocar limites porque acham que educar é isso”, contextualiza a educadora parental .

Ela explica que tão importante quanto regular as telas é entender a criança, escutar ativamente, acolher, trazer segurança e ter curiosidade sobre o mundo dela, para compreender se há um vazio que pode tentar ser compensado na internet.

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3) Pais são exemplo e precisam ser os transmissores de valores

Olhados de longe, os pais do Jamie não fizeram nada de “errado”: trabalham muito para prover os filhos, deram o melhor que puderam (computador, boas roupas, escola particular) e demostram carinho e cuidado pelas crianças.

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Mas os adultos comentam que, a partir do momento que Jamie ganhou um computador, ele passou a se trancar no quarto por horas e reduzir o tempo passado com a família.

E isso atrapalha significativamente no gerenciamento de uma boa educação.

“Se as crianças forem deixadas apenas com a tecnologia, seja porque os pais estavam trabalhando muito ou mesmo porque não tinham paciência com essas crianças, eles acabam terceirizando os valores que os filhos vão absorver”, afirma Jotta.

“Os valores pregados na internet, nas comunidades que eles frequentem é o que vai prevalecer. Pois é lá que eles se sentem acolhidos por seus dilemas e suas emoções”, completa a psicóloga.

Ela acrescenta que a rede social não foi feita para educar crianças e nem pra criar valores saudáveis. Quem faz isso é a relação face a face com os pais, com familiares, com amigos e pares no mundo real.

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E os pais sempre são exemplos e precisam esclarecer o que é certo ou errado. Na série, Jamie comenta que seu pai é uma pessoa boa para sua mãe porque não bate nela. Mas também deixa escapar que, num excesso de fúria, o homem quebrou todo o sótão da casa.

Hoje está tudo tão relativizado que o adolescente acha que violência é só bater. É só quando se encosta a mão no corpo do outro com força. Mas, na verdade, existem vários tipos de violência, agressividade, e a própria negligência a educação também é um tipo de violência”, acrescenta Priscilla.

4) O cuidado com a adolescência começa na infância

A educadora parental complementa que a adolescência é um reflexo do início da vida. “Não existe isso de ʽdo nada meu filho ficou assimʼ, a gente colhe na adolescente o que foi plantado na infância“, aponta.

Ela elenca perguntas para refletir neste sentido. “Qual a linguagem relacional do ambiente familiar? Esse adolescente teve voz na infância e tem voz agora? Ele foi e ainda é ouvido? É validado? Quando ele comete um erro ou um deslize, ele tem apoio e aprendizado ou apenas julgamento? Ele é extremamente criticado? Tudo isso conta na hora de estabelecer uma relação saudável e de confiança”, explica Montes.

+Leia Também: A vez da educação positiva

5) Não deixe que a internet ensine seu filho sobre sexualidade

Na série, Jamie nunca beijou uma garota, mas já viu nudes e acha normal crianças da idade dele se tocarem por baixo das roupas. Ao mesmo tempo, para ele, 80% das mulheres gostam de apenas 20% dos homens, então é muito difícil ser acolhido ou desejado por uma mulher.

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O garoto de 13 anos vive seguindo modelos nas redes sociais, postando fotos sensuais delas em suas redes e comenta que todo mundo assiste pornografia. Ele também julga como correto usar a fragilidade de uma garota que teve fotos íntimas vazadas para o seu próprio bem.

Claro, tudo que Jamie sabe sobre sexualidade ou relacionamentos, ele não aprendeu com os pais, mas com a internet. Katie, a menina assassinada, chamava Jamie de incel (termo em alta para descrever grupos online que pregam ódio contra mulheres, que une as palavras inglesas involuntary celibates, “celibatários involuntários”).

“Os adolescentes, principalmente nesses grupos autodenominados incels, trabalham com o mundo da fantasia, não da realidade”, afirma Jotta. “Muitos deles não têm coragem de encarar o mundo real e saber se realmente são sempre rejeitados por mulheres, isso é criação da cabeça deles”, explica a especialista.

Para “punir” essa suposta rejeição, que pode nem ser real, a turma pode praticar stalking, bullying e violência física.

Priscila alerta que, para evitar abusos desde a infância, a educação sexual precisa ser ensinada desde sempre e pelos pais, que são o porto seguro dos filhos. “E isso não incentiva o sexo, pelo contrário, deixa as crianças mais protegidas”, resume a educadora parental.

Andrea lembra também que a internet é a pior professora nesse aspecto, já que tudo que se mostra em vídeos pornôs ou conteúdo adulto é muito mais fantasioso que real.

+Leia Também: Os efeitos das redes sociais e do consumo de pornografia na sexualidade

6) Avalie o ambiente da escola e esteja presente

O colégio mostrado em Adolescência é o terror de qualquer criança (ou pai): bullying acontece na frente de todos e é normalizado, os alunos não respeitam os professores e diretores que, por sua vez, tentam lidar com a situação gritando, brigando ou simplesmente desistindo das crianças.

A escola é um ambiente chave na educação de um ser humano, então é crucial que os pais monitorem o que está acontecendo com seus filhos por lá.

“Infelizmente está cada vez mais comum nós, psicólogas, sermos chamadas na escola porque adolescentes fizeram um grupinho online pra xingar um colega, para humilhar calouros, ou para fazer apologia a armas, drogas ou mesmo estupro. A gente acabou de passar por isso numa escola super tradicional aqui em São Paulo”, relata Andrea.

Ela afirma que muitos adolescentes acham que nunca vão ser punidos pelo que fazem no ambiente virtual, consideram que lá são livres. E muitas vezes é na escola que grupos se formam para criar ambientes virtuais hostis. “Também é papel dos pais conferir de perto o que seus filhos vivem na escola”, pontua Priscilla.

“Baseadas apenas em hierarquias e cobranças excessivas, as escolas tradicionais estão cada vez mais violentas, assim construindo seres humanos violentos, sem ensinar resolução de conflito ou oferecer acolhimento, se transformando em verdadeiras produtoras de bullying”, acrescenta a educadora parental.

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