Meu filho não come, doutor.” Essa é uma das queixas mais ouvidas pelos pediatras de todos os tempos e hoje, em plena era de epidemia de obesidade, não é diferente. Segundo o pediatra Ruy Pupo Filho, autor do livro Como Educar Seus Filhos (Ed. Campus/ Elsevier), a maioria das mães pede a prescrição de fortificantes para estimular o apetite dos pequenos.
Há cerca de um século osfortificantes têm o suposto poder de fazer milagres e, acreditam as pessoas, se não funcionarem, mal também não irão causar. Mas ao contrário do que se pensa, estimulantes de apetites não são substâncias inocentes e podem, sim, provocar efeitos colaterais perigosos se ingeridos sem necessidade.
O tipo mais popular de fortificante não passa de um composto de vitaminas, ferro e cálcio, em proporções que variam de acordo com a marca. E só funciona como estimulante de apetite, garantem os especialistas, se a causa da inapetência for alguma deficiência de nutrientes. Crianças anêmicas, por exemplo, podem se beneficiar. A ingestão de ferro corrige o problema e, como conseqüência, o apetite volta ao normal.
Perigos da automedicação
“O problema começa quando entra em cena a automedicação. Ingerir suplemento de ferro sem necessidade provoca diversos efeitos colaterais. “A substância se deposita em locais como o fígado, o baço e a medula óssea, levando a um funcionamento inadequado desses órgãos”, alerta a nutróloga Roseli Sarni, presidente do departamento de nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria. “O uso exagerado de complementos vitamínicos também pode aumentar a prevalência de doenças na vida adulta, como câncer de pulmão”, diz ela. Quem compra fortificante sem prescrição médica corre ainda outro risco, o de mascarar sintomas de males, como alguns tipos de tumores infantis.
E o que também é grave: pode levar para casa fórmulas que aliam as vitaminas a um anti-histamínico. “Esses remédios, utilizados em casos de alergia, atuam no sistema nervoso central e apresentam o aumento da vontade de comer como efeito colateral transitório. Só que, além disso, causam sonolência, distúrbios do humor, perda da capacidade de concentração e, consequentemente, prejuízo no desempenho escolar”, adverte o pediatra Roberto Bittar, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.