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5 leitoras contam como descobriram (e superaram) o câncer de mama

Mulheres que enfrentaram a doença compartilham suas experiências e mostram que é possível vencê-lo após o período de turbulência

Por André Biernath
Atualizado em 24 out 2018, 16h06 - Publicado em 28 out 2016, 10h58
 (Lucas Kazakevicius/)
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O movimento Outubro Rosa tem como objetivo conscientizar a população — especialmente as mulheres — sobre a importância de diagnosticar de forma precoce o câncer de mama. Isso envolve fazer exames periódicos, como a mamografia, e ficar de olho de alterações nos seios, a exemplo de caroços e inchaços. Afinal, este é um dos tumores mais frequentes na população feminina, com 57 mil casos e 14 mil mortes todos os anos no Brasil. Como parte dos conteúdos que divulgamos sobre o tema, disponibilizamos em nosso site durante todo o mês um formulário para que as pessoas divulgassem histórias próprias, ou de familiares e amigos, de como foram diagnosticados, tratados e sobreviveram à doença.

Nós selecionamos cinco relatos que compõem um retrato diverso de como o câncer de mama impacta a vida das mulheres. A primeira participante, Tânia Maria Salomoni, descobriu a enfermidade quando sua sogra foi internada e ela resolveu fazer exames de rotina:

“Sempre fui uma pessoa com complicações de saúde. Nasci com asma muito severa, tive nefrite aguda aos seis anos e anemia profunda até a adolescência. Desde criança, fiz uso de cortisona para tentar controlar a asma e isso causou uma perda de cálcio muito grave, que resultou em cinco cirurgias de coluna e três implantes ao longo de 12 anos. Então cuidado sempre foi o meu sobrenome. Durante um checkup, minha ginecologista decidiu fazer, além da mamografia, um exame chamado ecografia mamária. Na hora em que a especialista começou o teste, senti uma dor e decidi aguardar o resultado. A médica citou um tal de Bi-Rads [sigla em inglês para Sistema de Dados de Imagens da Mama, uma forma de classificar a gravidade do quadro] e indicou biópsia. Ao fim de 15 dias, já tinha o diagnóstico de câncer de mama e fui a uma cirurgiã mastologista para me consultar. Minha sogra faleceu e eu me vi marcando cirurgia de setorectomia [uma pequena retirada de tecido mamário]. Aprendi muitas palavras novas nesse processo. Após uma breve recuperação, fui para a radioterapia, com 38 sessões. Em três meses, iniciei o uso de medicamento oral.

No ano seguinte, perdi meu pai, que teve três anos de sobrevida depois do diagnóstico de câncer de pulmão, com metástase no intestino. Segui religiosamente os exames a cada seis meses. Foram muitos: mamografia, eco mamária, raio-x de pulmão, cintilografia óssea… Em 2012, em meados de março, apareceu outro nódulo na mesma mama. Após uma nova biópsia, a indicação era fazer a mastectomia, cirurgia com retirada do músculo peitoral. Dessa vez, foram cinco ou seis cirurgias. Fui então encaminhada a um oncologista para seguir os tratamentos, que incluíram a retirada dos ovários também. Faço quimioterapia de seis em seis meses e tomo um remédio oral. Tudo isso foi uma sacudida na minha vida. Sempre fui uma pessoa positiva, determinada e procuro olhar apenas para a frente. Mas a partir daquele momento, comecei a pensar no que realmente é importante para minha felicidade. Ter meus familiares por perto, viver um dia de cada vez. Sonhar com futuro, mas não tão longe, realizar meus desejos de estar mais em contato com a natureza, com meus cães (que eu adoro) e viajar sempre que possível”.

Erika Figueiredo flagrou o problema cedo, aos 28 anos, quando amamentava sua filha de um ano de idade:

“Notei um caroço e achei que era leite empedrado. Duas semanas depois, tirei o caroço e veio o diagnóstico. Achei que ia morrer e deixar minha filha órfã. Minha mãe já havia morrido pelo mesmo motivo aos 48 anos. Fiz todos os exames possíveis pra detectar qualquer metástase, mas, por sorte, só os linfonodos da axila esquerda haviam sido tomados. Fiz a cirurgia de mastectomia radical. Reconstruí o seio com prótese imediatamente na mesma operação. Aí veio o tratamento com oito sessões de quimioterapia. Perdi o cabelo, sobrancelhas e vários pelos do corpo. Passei mal, meu estômago ficou péssimo, minhas veias fracas e precisei de várias injeções para melhorar meu sistema imunológico.

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Depois se seguiram 35 sessões de radioterapia diárias. Após um ano, fiz outra cirurgia preventiva no outro seio, também com reconstrução imediata. Passei por um teste genético e fiquei sabendo de uma falha nos genes BRCA1 e BRCA2, o que elevava muito o risco de câncer de mama e de ovário. Depois disso, me submeti a uma histerectomia total, retirando os ovários. Aos 33 anos, já entrava na menopausa e, com ela, veio todos os sintomas. Mas sempre enfrentei tudo com muita força, garra e energia.

O que precisasse tirar, eu tirava. Não me importava. Hoje, 15 anos depois, não tive nenhuma recidiva ou metástase. Sou feliz e vivo plenamente minha vida. Crio minha filha, namoro, saio e me divirto sempre. Nenhuma das cicatrizes foi capaz de me afastar da minha capacidade de viver e ser feliz. Minha filha me preocupa, uma vez que ela pode carregar a mesma herança genética. Mas tenho muita confiança de que isso também vai se resolver. Quando conheço alguém que está passando por algo parecido, digo com toda a confiança que é possível vencer. Tem que encarar, sem se deixar abater. Acredito que, junto com um bom acompanhamento médico, remédios corretos e força interior, o nosso instinto de sobrevivência é o que dá o combustível pra superar a tormenta. Dependemos de nós mesmos e não podemos esperar que outros indivíduos nos deem a esperança. Criar minha filha e vê-la crescer foi meu objetivo principal. Tudo é possível quando realmente queremos”.

 

Semari Dutra Gomes estava se tratando de outro tumor, um linfoma de Hodgkin, quando foi fazer um exame para confirmar que estava curada. O resultado não foi o esperado…

“O linfoma exige um acompanhamento de cinco anos, com uma série de exames a cada semestre. Devo confessar que andei me esquivando do último exame para ser declarada minha cura. Isso ocorreu em 2012. O teste foi em fevereiro daquele ano. E aí veio a notícia: tinha algo errado na região da minha mama. Fui encaminhada a um mastologista, que me solicitou outra batelada de exames. Os laudos mostraram dois tumores no seio esquerdo. Fiz a cirurgia em abril de 2012, com uma retirada parcial da mama esquerda. Foram quatro sessões de quimioterapia a cada 21 dias. Ao final, mais 30 sessões de radioterapia. Fiquei careca, abalada, quase deprimi. Mas eu tinha certeza que precisava vencer. Afinal, não poderia abandonar meu filho de 8 anos e meu marido maravilhoso. Tive também uma excelente funcionária que cuidou de mim. Me dava banho, trocava meus curativos e me levava pra cima e pra baixo. Além disso, minha fé foi fundamental para me manter firme. Hoje estou curada. Sempre digo: quem procura acha e quem acha cura”.

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Janete de Souza só reparou algo errado no peito ao fazer o autoexame:

“Recebi o diagnóstico em fevereiro de 2015. Tinha 24 anos e cursava o quarto semestre de medicina. Senti um nódulo na mama esquerda. Para mim era inacreditável. Fiz os testes e a biópsia, que confirmou a suspeita. Segui o protocolo de tratamento com cirurgia de mastectomia radical, seguida de 16 sessões de quimioterapia e radioterapia. Sigo com remédios. Meus exames estão tranquilos. Minha vida é outra, mais tranquila. Só vivo e nada mais”.

Maria Roberta* também começou a perceber nódulos estranhos bem cedo:

“Aos 21 anos notei alguns caroços, mas como não tinha plano de saúde, nem acesso a exames ou tratamentos, segui com a minha vida. Casei e tive dois filhos. Aos 31 anos, os caroços aumentaram e meu ginecologista me encaminhou para um mastologista. Na primeira consulta, ele fez uma punção para retirada de tecido e biópsia. Não foi constatado nada de anormal.

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Mas passei por um controle rígido, já que tinha um Bi-Rads de grau 3. Fazia regularmente ultrassonografia, mamografia e tomografia. Cerca de três anos após a punção, meu mastologista resolveu fazer uma cirurgia para retirada de alguns nódulos para biópsia. Passei pela minha primeira cirurgia e retirei cerca de seis nódulos. Segundo os laudos, todos benignos. Continuei o meu controle rígido. Quando tinha 45 anos, em janeiro de 2009, fiz os exames e o Bi-Rads aumentou. Na hora já liguei para meu médico. Ele pediu que eu fosse até o consultório no mesmo dia.

Ao chegar lá, me deu a notícia de que precisaríamos fazer uma cirurgia para retirada das mamas. Saí do consultório e fui a pé, andando sem rumo… Caminhei por horas, até que escureceu. Só muito tempo depois percebi que andara bastante, porque minhas pernas começaram a doer. Resolvi então pegar um táxi para ir embora. Estava um engarrafamento danado aquele dia. O taxista foi um anjo. Ele me confortou e, quando cheguei em casa, estava mais leve. Foram dias complicados até a cirurgia. No dia da operação, meu médico novamente me avisou: ‘Você pode acordar da anestesia com as mamas reconstruídas e sem orientação para quimioterapia e radioterapia. Você pode acordar da anestesia com um dilatador e sem as mamas. Você pode acordar da anestesia sem as mamas e com indicação para químio ou radio’. Daí eu perguntei: ‘Como faço para me matar?’

A cirurgia durou nove horas. Saí com as mamas reconstruídas e sem indicação de tratamentos posteriores. Porém, tive inúmeras complicações pós-cirúrgicas, como necrose, perda de tecido, perda de mamilo… Fui abandonada pelo meu marido, muitos amigos se afastaram. Sofri abandono, descaso, rejeição… Mas o importante é que também apareceram muitos anjos na minha vida. E a maioria deles era desconhecida. Já vão quase seis anos. Reconstruí o mamilo e fiz tatuagem na auréola. Hoje eu estou ótima. Devo isso ao cuidado que tenho comigo mesma, por conhecer meu corpo e aos médicos maravilhosos”.

Veja abaixo, em mais um vídeo da série Saúde em 90 Segundos, os detalhes sobre o câncer de mama com a mastologista Fabiana Baroni Makdissi, do A.C. Camargo Cancer Center, em São Paulo:

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*A pedido da autora deste depoimento, o nome foi alterado para preservar sua identidade

Por motivo de espaço ou clareza, os textos foram publicados resumidamente

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