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Adiantar segunda dose pode prejudicar vacinação no país, alertam entidades

Alguns estados encurtaram o intervalo entre as injeções, mas especialistas se preocupam com quem ainda não recebeu a primeira dose

Por Fabiana Schiavon
Atualizado em 14 jul 2021, 18h51 - Publicado em 14 jul 2021, 18h24
ilustração de injeção sobre célula doente
Especialistas não recomendam que estados adiantem a vacinação (Ilustração: Pedro Hamdan/SAÚDE é Vital)
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Alguns estados brasileiros decidiram adiantar a segunda dose das vacinas contra o coronavírus Covishield, da AstraZeneca, e Comirnaty, da Pfizer, para um intervalo de 56 a 70 dias. Mas especialistas tendem a discordar da medida, e a orientação do Ministério da Saúde ainda é aguardar 90 dias para tomar o reforço das duas. 

A bula desses dois imunizantes informa que a segunda dose não deve ser aplicada antes de 14 dias, e dá como recomendação um intervalo de 21 a 28 dias. No início da pandemia de Covid-19, se decidiu por um período maior do que esse para acelerar a vacinação.

A chegada da variante Delta, que pode escapar melhor da primeira dose, e uma imunização mais adiantada de alguns grupos, contudo, fizeram com que gestores públicos revissem a estratégia. É aí que está a polêmica.

Em nota técnica, Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) consideram que, com o atual momento epidemiológico que vivemos e a baixa quantidade de doses disponíveis no país, é mais correto manter o intervalo de 12 semanas entre as doses da AstraZeneca e Pfizer.

Baseadas em dados da vacinação em outros países, as duas entidades acreditam que o prazo estendido pode fazer o país “alcançar mais rapidamente uma proporção maior da população com pelo menos uma dose, antecipando desta forma a proteção de um maior número de pessoas”. 

A Fiocruz, responsável pela produção da vacina AstraZeneca no Brasil, corroborou o posicionamento. A nota reforça o fato de que a resposta imunológica ao imunizante é mais eficaz com injeções aplicadas em um período prolongado, como sugere um estudo conduzido pela Universidade de Oxford.

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A fundação entende, também, que o regime de 90 dias “permite acelerar a campanha, garantindo a proteção de um maior número de pessoas”. Por fim, o texto afirma que o imunizante “tem se demonstrado efetivo na proteção contra as variantes em circulação no país já com a primeira dose, incluindo a Delta“.

A Pfizer, em comunicado, afirma que as indicações sobre regime de dosagem devem ficar a critério das autoridades de saúde, e podem incluir recomendações que levem em conta os princípios locais de saúde pública. A farmacêutica diz ainda que a segurança e eficácia do produto não foram avaliadas com espaçamentos diferentes do preconizado em bula, “uma vez que a maioria dos participantes recebeu a segunda dose dentro da janela especificada”.

Para garantir seus 95% de eficácia, portanto, é necessário completar o esquema vacinal. O texto termina com a mensagem de que a Pfizer “acredita que é importante que se mantenham esforços de vigilância para garantir que cada pessoa receba o máximo de proteção possível, seguindo o preconizado pelas agências regulatórias”.

A opinião dos especialistas

A discussão movimenta os experts. “Não faz sentido tomar essa decisão por causa da Delta, pois ela não está com a transmissão preocupante neste momento. No Brasil, quase todos os casos são da variante Gama”, avalia a médica Mônica Levi, da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

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Para ela, é melhor acelerar a imunização de jovens e fazer chegar a vacina a mais pessoas. “Ir atrás dos 4 milhões que estão com o reforço atrasado também é mais importante”, conclui Mônica.

Outro ponto de vista vem de Daniel Bargieri, professor e pesquisador do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP). Ele argumenta que adiantar a segunda dose pode ser mais eficaz para barrar a transmissão do Sars-Cov-2. 

“Minha visão é a de que faz mais sentido adiantar, desde que respeitando o intervalo previsto em bula. A população que toma só uma dose tende a estar protegida da gravidade da doença, mas tem maior probabilidade de servir como transmissora do vírus”, avalia o biomédico. “Agora, por outro lado, as evidências mostram que a proteção individual é superior com o intervalo maior”, reflete.

Tomar a segunda dose o quanto antes também é mais vantajoso na visão da médica Indianara Brandão, da Clinica First, em São Paulo. “A vacinação começou a acelerar, está chegando aos jovens, e completar a imunização é importante para garantir a proteção contra uma doença em que não se sabe como cada um vai reagir, independente da idade”, completa a médica. 

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Em um cenário de escassez de doses e vírus ainda se disseminando, contudo, ter mais gente imunizada, mesmo que parcialmente, parece fazer mais sentido.

Motivos diferentes 

Alguns lugares fizeram adaptações à sua realidade. O governo do Maranhão, por exemplo, afirma que segue a recomendação do Ministério da Saúde, mas orientou a municípios que adiantassem a segunda dose para oito semanas, caso a validade do lote seja curta.

Fortaleza, no Ceará, por exemplo, está adiantando a segunda dose para pessoas que estão acamadas. Já Distrito Federal e Rio de Janeiro informaram que a decisão foi tomada pelo temor da disseminação da variante Delta.

“O Brasil é um país gigante com situações diferentes. Se há uma região que está com tudo sob controle e adultos plenamente vacinados, não tem por que esperar. Ações pontuais também valem para lugares com risco de disseminação de novas cepas, como ocorreu em algumas fronteiras”, avalia Mônica.  

 

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