Cientistas criam isca para armadilha que usa larvas do Aedes aegypti para controle do mosquito
Em estudo realizado no Recife, as arapucas tratadas com extrato larval coletaram um número superior de ovos em comparação aos modelos convencionais

Cientistas brasileiros desenvolveram uma nova estratégia para o controle do Aedes aegypti, transmissor de dengue, Zika e chikungunya.
Idealizada por pesquisadores do Instituto Aggeu Magalhães (Fiocruz Pernambuco), a isca para armadilha é composta por um extrato de larvas do próprio mosquito. A solução é então combinada com um larvicida biológico.
Essa junção aumenta de maneira significativa a captura de ovos do inseto, segundo de acordo com o estudo publicado na revista Anais da Academia Brasileira de Ciências nesta sexta-feira, 7.
“As armadilhas geralmente são instaladas com água e larvicida. Alguns estudos utilizam outros tipos de iscas, sendo a infusão de grama a mais comum. Nosso estudo apresenta uma alternativa de iscas e destaca a necessidade de otimizar os processos de produção caso sejam utilizadas em larga escala”, resume o biólogo Gabriel Faierstein, pesquisador visitante da Fiocruz Pernambuco e um dos autores do artigo.
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Feitiço contra o feiticeiro
Para avaliar a eficácia do experimento, as larvas do Aedes aegypti foram coletadas, lavadas e maceradas em água destilada. O produto foi filtrado e usado nas armadilhas em duas formas: in natura e em pó. O larvicida biológico Bacillus thuringiensis (Bti) foi adicionado ao esquema para evitar que elas se tornassem criadouros do inseto.
Realizados no Recife, no campus da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), os testes utilizaram uma armadilha chamada Double BR-OVT, utilizada comercialmente para o combate dos mosquitos.
Os resultados foram animadores: as armadilhas tratadas com extrato larval, com ou sem o larvicida biológico, coletaram mais ovos do que as arapucas de controle. No laboratório, elas reuniram cerca de 70% dos ovos, mais que o dobro do modelo convencional.
“As iscas de oviposição aumentam o potencial de coleta das armadilhas. Assim, as armadilhas coletam mais mosquitos e podem reduzir a densidade populacional desses insetos, contribuindo para diminuir o número de picadas em seres humanos e, portanto, os riscos de transmissões virais”, destaca Faierstein.
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Segundo o biólogo, a explicação pode estar nos sinais químicos que atuam na comunicação entre os insetos. Dessa forma, o composto elaborado a partir das larvas sinalizaria um local ideal para que a fêmea do Aedes deixe seus ovos.
Em campo, elas coletaram pouco mais de 60% dos ovos de Aedes e até 70% dos ovos de Culex quinquefasciatus, o pernilongo comum, que também foi considerado na análise.
Faierstein avalia que a técnica poderá ser adotada em programas de controle de vetores e vigilância epidemiológica.
“As armadilhas são instrumentos para vigilância e controle, devendo a secretaria de saúde, alinhada ao Ministério da Saúde, aderir e utilizar equipes técnicas capazes de manusear, coletar e gerar informações”, pontua.
Em 2025, foram registrados mais de 226 mil casos prováveis de dengue e 61 mortes no país, de acordo com o painel de monitoramento do Ministério da Saúde. Outros 259 óbitos permanecem em investigação.
(Com informações da Agência Bori)