O diagnóstico de câncer do aparelho digestivo em Bruno Covas, prefeito de São Paulo de apenas 39 anos, surpreendeu a todos. Além da idade, chamou a atenção o fato de que ele chegou ao hospital inicialmente para tratar uma erisipela (um tipo de infecção de pele). Posteriormente, os médicos descobriram a presença de um quadro de trombose venosa — e então chegaram ao tumor. Há um elo entre esses quadros?
De modo curto e grosso: sim. “O câncer libera substâncias inflamatórias que, na circulação, favorecem a trombose venosa”, revela Marcos Belotto, gastrocirurgião do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Em resumo, essas moléculas congestionam o tráfego de sangue nas veias, contribuindo para a formação de coágulos. Os sintomas vão de dores na perna a embolia pulmonar.
E aqui chegamos à erisipela do prefeito Bruno Covas. Em determinadas situações, a trombose venosa gera um acúmulo de líquidos (edema) logo abaixo da pele. Essa alteração, por sua vez, dificulta o controle de certas bactérias que circulam pela região. Com isso, elas se multiplicam além da conta e começam a causar estragos.
Dor, inchaço, febre e mal-estar estão entre os sintomas da erisipela. Outro sinal é a celulite. “Sempre precisamos descobrir o que causou a erisipela e a trombose venosa”, afirma Belotto.
Se, ao notarem a infecção de pele, os doutores tivessem só receitado um antibiótico e despachado o prefeito, seu câncer poderia passar despercebido por mais algum tempo. Claro que nem sempre esses quadros são sinal de um tumor, mas eles exigem sempre uma investigação minuciosa.
“A trombose venosa também pode ocorrer após ficarmos longos períodos sentados, pelo uso de anticoncepcionais, pelo tabagismo”, lista Belotto.
Aliás, há cânceres especialmente associados à trombose venosa. Mieloma múltiplo, tumor de pâncreas e os que atingem a junção entre esôfago e estômago (a cárdia, como dizem os médicos) estão entre eles, segundo Belotto. Esse último caso é justamente o de Bruno Covas.