Casos de herpes-zóster subiram 35% após pandemia de Covid, diz estudo
Ainda não há fatos científicos que relacionem uma doença a outra, mas quantidade de casos traz alerta a idosos e imunossuprimidos
Os casos de herpes-zóster subiram 35% após o início da pandemia de coronavírus, segundo um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Estadual de Montes Claros (MG). O dado corrobora a teoria de que a Covid-19 pode aumentar o risco do quadro, que é desencadeado pelo mesmo vírus da catapora e provoca lesões doloridas e coceira.
Para chegar a esse número, foram comparados os diagnósticos de zóster feitos entre março e agosto de 2020, e no mesmo período em 2017 e 2019, antes da pandemia.
O estudo brasileiro, que usou dados do Sistema Único de Saúde (SUS), teve a intenção de demonstrar a alta dos casos no Brasil, visto que levantamentos semelhantes já identificaram o aumento na incidência de herpes-zóster em outras partes do mundo.
No entanto, ninguém consegue comprovar cientificamente a relação entre as duas doenças.
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Entre as possíveis explicações, está o fato de o vírus varicela-zóster, causador da infecção, se manifestar quando a imunidade sofre abalos de qualquer tipo.
“O que se imagina é que o coronavírus se instala, faz uma bagunça no organismo e o varicela tira proveito disso para se reativar”, explica João Prats, infectologista do Beneficência Portuguesa – BP.
A presença do coronavírus faz com que o sistema imune gaste energia para se livrar dele, mesmo em casos não considerados graves, o que daria esse espaço ao zóster.
“Isso ocorre em outros momentos, como depois de uma cirurgia, e é mais comum entre paciente oncológicos ou que convivem com o diabetes tipo 2, que têm problemas no sistema imune”, lembra Prats.
Em busca de dados que saiam do campo das hipóteses, alguns pesquisadores afirmam ter encontrado anticorpos contra o vírus varicela zóster, causador da doença, em pessoas com Covid longa (quando há sintomas que duram pelo menos dois meses e não podem ser explicados por um diagnóstico alternativo).
“Só que há uma fragilidade nesses estudos: não basta encontrar anticorpos, mesmo que eles pareçam recentes. É preciso detectar o vírus varicela ativo para estabelecer essa relação direta”, afirma o médico do BP.
O que fazer para evitar o herpes-zóster?
Cuidar da imunidade e ter uma vida saudável é uma das chaves para evitar a reativação desse vírus. Tomar a vacina também é importante, ainda mais para quem está acima dos 50 anos.
A preocupação com o zóster é que ele pode levar a dores crônicas e aumentar o risco de doenças cardiovasculares, entre outras repercussões no organismo.
“O risco do zóster é que o vírus se instala no nervo e o danifica para sempre. Isso pode não ter consequências, mas há casos em que as dores são fortes e não vão embora”, pontua o médico do BP.
Quem for surpreendido pela infecção deve fazer o tratamento de forma rigorosa. “Temos boas opções, com medicamentos disponíveis no SUS, como o antiviral aciclovir, mas a adesão é difícil, já que é preciso tomar cinco comprimidos diários”, pontua Prats. Há opções mais simples na farmácia, mas a um custo maior.
Quem pode tomar a vacina?
Há duas opções de vacina contra herpes-zóster, ambas disponíveis apenas na rede privada. A Shingrix — mais recente, indicada para idosos e imunossuprimidos — e a Zostavax, indicada a um público mais geral.
Entre 18 e 49 anos de idade, é preciso ter indicação médica para poder receber o imunizante.
“Quem está acima dessa idade pode e deve tomar, já que a indicação está na bula, e esse público é mais suscetível à doença independentemente de ter sido infectado pela Covid-19”, explica Gustavo Campana, vice-presidente médico do Grupo Alliar de Medicina Diagnóstica.
Falando em Covid-19, o Sars-CoV-2 segue circulando, mesmo em uma fase mais “tranquila” da pandemia. Por isso, Campana entende que os grupos mais vulneráveis a quadros graves devem avaliar com seus médicos a possibilidade de investir no imunizante contra o zóster, para evitar mais essa possível complicação.
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Quem já teve Covid e apresentou zóster pode receber o imunizante para evitar que hajam outros episódios. “Há um protocolo a seguir, não se pode receber a vacina se o vírus estiver ativo ou as feridas ainda estiverem em cicatrização”, alerta Campana.
De qualquer forma, o melhor é consultar um especialista e entender a melhor forma de se proteger contra a doença. Aliás, também é importante estar protegido contra a própria Covid-19, visto que os imunizantes comprovadamente evitam casos graves, mortes e a incidência da própria Covid longa.