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Como um lagarto que come 3 vezes por ano ajudou a criar o Ozempic

Réptil nativo da América do Norte guarda em seu veneno o segredo para a formulação de medicações que revolucionaram o tratamento da diabetes e da obesidade

Por Valentina Bressan
12 mar 2025, 18h00
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Os hábitos desse pequeno réptil inspiraram os estudos que criaram o Ozempic (Theo Kruse/Burgers' Zoo/CC BY-SA 4.0/Wikimedia Commons)
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O Ozempic e outros remédios de efeitos semelhantes, como o Wegovy e o Mounjaro, revolucionaram o tratamento da diabetes e da obesidade nos últimos anos. Mas talvez você ainda não conheça um dos responsáveis por essa revolução: o monstro-de-gila.

O pequeno lagarto, habitante do sul dos Estados Unidos e do norte do México, foi a chave para a descoberta de drogas análogas ao hormônio GLP-1, que atua no corpo induzindo a saciedade e a produção de insulina.

Intrigados pelos hábitos do réptil, que consegue sobreviver mesmo fazendo menos de cinco refeições anuais, cientistas descobriram uma molécula específica no veneno do animal.

Essa molécula, a exendina-4, desencadeou a série de avanços científicos que desembocaram nas medicações hoje tão populares.

Monstro-de-gila: do deserto ao sucesso farmacêutico

Da espécie Heloderma suspectum, os monstros-de-gila são animais bastante peculiares. Eles integram o seleto grupo dos lagartos peçonhentos – assim como os dragões-de-komodo – e são adeptos a uma dieta radical.

Os répteis carnívoros fazem um tipo de jejum intermitente extremo: são capazes de consumir todas as calorias que precisam para sobreviver em apenas três ou quatro refeições anuais. 

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Para fazer valer esse almoço, os bichos conseguem consumir até um terço de seu peso corporal quando se alimentam. Cientistas acreditam que essa habilidade é resultado de uma adaptação evolutiva, acarretada pela baixa disponibilidade de comida.

As taxas metabólicas mais lentas e a capacidade de armazenar gordura garantem que o lagarto não passe fome durante o ano.

Curiosos com esse hábito, cientistas se debruçaram sobre as substâncias presentes no organismo do monstro-de-gila. E descobriram uma molécula especial no veneno dos lagartos, a exentina-4, que fica armazenada na mandíbula inferior dos bichos.

Aliás, não precisa se preocupar: mesmo em um raro encontro com um espécime, a mordida costuma liberar pouco veneno, e não há registro de mortes por conta dele. 

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+Leia também: Qual a diferença entre Wegovy, Ozempic e Rybelsus?

A molécula valiosa 

Antes da descoberta da molécula escondida no veneno dos lagartos, pesquisadores já estudavam o GLP-1, hormônio produzido no intestino que, quando liberado, sinaliza ao cérebro que estamos saciados e indica que o pâncreas deve iniciar a produção de insulina assim que a glicose no sangue aumentar.

A solução para a diabetes tipo 2, doença em que o corpo não consegue aproveitar a insulina, e para a obesidade, então, parecia simples. Bastava administrar mais GLP-1 nos pacientes.

O problema é que o hormônio dura poucos minutos na corrente sanguínea e some antes de chegar ao pâncreas.

E aí entra o monstro-de-gila: a exentina-4, presente no veneno do bicho, atua de forma similar ao GLP-1 e dura bem mais tempo no organismo. Em 1996, John Eng, um dos cientistas responsáveis pela descoberta, patenteou a exentina-4 e a vendeu para a companhia Amylin Pharmaceuticals.

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Como o Ozempic surgiu?

Em 2002, a farmacêutica Eli Lilly adquiriu a droga da Amylin, que passou a ser comercializada sob o nome Byetta em 2005, quando foi aprovada para tratamento de diabetes pela Food and Drug Administration (FDA), equivalente estadunidense à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Em seis meses, o remédio já era usado off-label para perda de peso, por conta desse efeito de prolongar a sensação de saciedade e retardar a digestão. Em paralelo, a empresa dinamarquesa Novo Nordisk estudava alternativas ao GLP-1.

O primeiro lançamento veio em 2010: a Victoza, injeção de liraglutida, substância semelhante ao hormônio. A Saxenda, droga com dobro da dose da Victoza, foi lançada em 2014 com foco na perda de peso. O problema é que essas medicações precisavam ser aplicadas diariamente para funcionar.

Os estudos avançaram, e a Novo Nordisk lançou ao mercado a semaglutida subcutânea, um análogo de GLP-1 mais eficaz sob o nome Ozempic, aprovado em 2017 pela FDA para a diabetes. Para pacientes que não gostam da ideia de injeções semanais, em 2019 o Rybelsus, uma versão oral da semaglutida, chegou ao mercado.

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+Leia também: Qual a diferença entre Wegovy, Ozempic e Rybelsus?

Além de atuar contra o diabetes, a semaglutida promove perdas expressivas de peso, reduz o apetite e leva os pacientes a perderem até 15% do peso corporal. Na sequência, surgiu o Wegovy, com uma dosagem maior de semaglutida.

A farmacêutica Eli Lilly depois criou o Mounjaro, nome comercial da tirzepatida, medicação que liga o GLP-1 a outro hormônio do sistema gastrointestinal, com efeito ainda mais significativos na perda de peso, apontam estudos.

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