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Coronavírus: faz sentido buscar atendimento médico aos primeiros sintomas?

Ministério da Saúde muda de postura e agora orienta pessoas a procurarem médicos se manifestarem sintomas leves que levantam a suspeita de Covid-19

Por Theo Ruprecht
Atualizado em 5 set 2020, 12h56 - Publicado em 10 jul 2020, 16h54
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  • Em uma coletiva de imprensa no dia 9 de julho, o secretário-executivo do Ministério da Saúde, Elcio Franco, afirmou: “Adotamos uma nova orientação de casos de Covid-19, mudando a estratégia do ‘fique em casa’ para ‘procure um profissional de saúde’, mesmo que o sintoma seja leve”. Dito de outra forma, todo brasileiro que começar a manifestar sintomas como tosse, espirro, coriza, dor de cabeça, febre baixa e alterações intestinais — que sugerem a presença do novo coronavírus (Sars-CoV-2) — deveria procurar atendimento médico.

    Antes, a proposta era permanecer completamente isolado em casa e visitar um ambulatório apenas se o quadro se agravasse (com piora da febre ou surgimento de falta de ar, dor no peito, dificuldade para se movimentar, tontura etc).

    De acordo com o Ministério da Saúde, o SUS agora está preparado para lidar com a demanda extra. “Nós aprendemos que, ao aguardar em casa, os pacientes chegam aos hospitais em quadros clínicos mais agravados. O tratamento precoce evita a piora do paciente e diminui a necessidade de respiradores”, argumentou Elcio Franco.

    Mas o fato é que não há tratamentos farmacológicos comprovadamente eficazes para os casos leves do novo coronavírus. “Do ponto de vista de conduta médica, não há o que fazer. Até agora não existe nenhum tratamento que evite a progressão para a forma grave da Covid-19”, afirma o pneumologista Frederico Fernandes, presidente da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia (SPPT).

    Ancorado nas melhores pesquisas científicas disponíveis, um informe recente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) aponta que nenhum medicamento se mostrou capaz de ajudar pacientes com sintomas iniciais do novo coronavírus até o momento. Cabe destacar que o Ministério da Saúde defende o tratamento precoce com hidroxicloroquina e azitromicina — mas não apresenta pesquisas rigorosas que atestem a eficiência do método. Já um estudo publicado no periódico científico The New England Journal of Medicine indica que o uso preventivo em pacientes com alto risco de exposição ao Sars-CoV-2 não trouxe benefícios. E esses fármacos podem acarretar efeitos colaterais, como arritmia cardíaca.

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    A pneumologista Letícia Kawano-Dourado, do Hospital do Coração (HCor), em São Paulo, também não vê sentido na decisão do Ministério da Saúde de orientar os brasileiros com sintomas leves irem para postos de saúde. Ela faz parte do comitê diretivo da Coalizão Covid Brasil, um consórcio de hospitais nacionais que vêm estudando diferentes remédios contra o novo coronavírus. “Se, por exemplo, o resultado de algum dos nossos trabalhos mostrar que um medicamento específico ajuda a evitar a progressão de um caso leve para um mais grave, aí é possível pensar em pedir para um paciente com sintomas iniciais ir para o hospital”, afirma. “Mas no momento não temos embasamento para uma decisão dessas, que também traz riscos”, completa.

    De acordo com ela, pedir para todo indivíduo que está tossindo ou espirrando ir para o hospital pode culminar em aumento no número de casos de coronavírus — e de outras infecções que circulam principalmente no inverno. Na população geral, estima-se que cerca de 85% dos casos de Covid-19 são solucionados sem necessidade de internação.

    “Se uma pessoa com quaisquer sinais suspeitos estiver com uma dúvida, ela pode tentar resolvê-la com uma ligação ou via telemedicina”, afirma Letíca. O próprio SUS disponibiliza esse tipo de atendimento virtual.

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    Apesar da determinação do Ministério da Saúde não ser respaldada em evidências científicas, isso não significa que sujeitos sintomáticos devem ficar em casa a qualquer custo. Os médicos são unânimes em afirmar que falta de ar, dor no peito, piora da febre e outros sinais mais graves exigem uma ida ao hospital.

    Letícia dá dicas importantes para ficar de olho: “Se os sintomas não melhorarem em cinco a sete dias, vale buscar atendimento. Quanto ao fôlego, sugiro que a pessoa caminhe um pouco em casa mesmo ou levante algum objeto para ver se fica sem ar. A falta de fôlego é um indicativo importante”, avisa.

    Em resumo, manter contato com profissionais de saúde é sempre positivo, especialmente se você pertencer a algum grupo de risco. Mesmo à distância, eles podem acompanhar a sua evolução de maneira detalhada. Entretanto, isso é diferente de pedir para alguém que está com um pouco de febre e coriza visitar um centro onde mais pessoas podem estar infectadas, sem ter à disposição um tratamento comprovadamente benéfico para episódios leves.

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