Algumas pessoas com Covid-19 têm apresentado disfagia, que é a dificuldade para engolir alimentos, líquidos ou saliva. Esse problema de deglutição é mais comum em quem passou por um longo período de intubação — porém, parece haver outros fatores por trás dessa consequência.
“Podemos citar o comprometimento neurológico que afeta certos pacientes e o processo inflamatório da infecção, que também atinge músculos”, informa Carolina Silvério, fonoaudióloga e coordenadora do Departamento de Disfagia da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (SBF). Essas duas consequências dificultam a coordenação da musculatura responsável pela deglutição, ao mesmo tempo em que a enfraquecem.
No Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, por exemplo, 29,8% dos 8 mil atendimentos fonoaudiológicos realizados desde março de 2020 para a reabilitação de pacientes com Covid-19 estão relacionados com sequelas na capacidade de deglutição e alimentação. A informação é do Jornal da USP no Ar 1ª Edição.
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Mas a fonoaudióloga da SBF explica que, independentemente da enfermidade, pacientes que passam longos períodos intubados e sob sedação apresentam risco de disfagia por diversos motivos. Entre eles:
• A pouca mobilidade piora a musculatura do corpo inteiro, inclusive a que participa da deglutição e da respiração
• Como o fluxo respiratório é direcionado do ventilador diretamente para os pulmões, as regiões faringolaríngeas (na altura da garganta) deixam de trabalhar adequadamente. Essa ociosidade, com o tempo, reduz a sensibilidade das estruturas que participam da deglutição
• O posicionamento da cânula de intubação mantém a laringe aberta e pode gerar machucados, que também dificultam o ato de engolir um alimento ou líquido.
É importante destacar que nem todos os pacientes intubados ou com Covid-19 sofrem com a disfagia. No entanto, Carolina alerta que o risco de entrada de saliva, líquidos e alimentos nos pulmões é consideravelmente maior nesses contextos.
“A literatura anterior à Covid-19 aponta que a prevalência da disfagia após a extubação é de 62% entre os pacientes críticos”, afirma. “Boa parte pode apresentar uma resolução total após a reabilitação. Mas alguns seguem com a disfagia”, pondera. Nesses casos, sondas ou outras formas alternativas de alimentação são cogitadas.
Depois da extubação, a reabilitação fonoaudiológica consiste em oferecer alimentos mais fáceis de serem engolidos, o que pode incluir mudanças de preparo. O uso de manobras para estimular a deglutição adequada e a realização de exercícios específicos também fazer parte do programa. Só um especialista capacitado é capaz de avaliar cada caso e dar início ao tratamento mais adequado.
*Esse conteúdo foi publicado originalmente na Agência Einstein.