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Empresa desenvolve autoteste capaz de detectar variantes do coronavírus

Método reduziu de seis meses para 15 dias o tempo necessário para analisar um grande número de proteínas do vírus

Por *Fabio de Castro, da Agência Fapesp
Atualizado em 7 abr 2022, 18h37 - Publicado em 7 abr 2022, 18h33
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  • A Biolinker, startup de biotecnologia incubada no Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec), desenvolveu um novo autoteste rápido para detecção do vírus Sars-CoV 2.

    Os insumos utilizados no exame, totalmente elaborados pela startup com apoio do Programa Fapesp Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), serão disponibilizados a empresas parceiras para a montagem e distribuição dos kits de testes rápidos para a doença.

    De acordo com Mona das Neves Oliveira, pesquisadora responsável pelo projeto, uma das vantagens do teste rápido é que ele pode ser feito em casa e o resultado sai em apenas 15 minutos, além de ter sensibilidade para todas as variantes do vírus.

    “A tecnologia que utilizamos permite detectar partes do vírus que não sofrem mutação e mostrou alta sensibilidade para todas as variantes, incluindo a Ômicron”, explica.

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    A empresa já havia desenvolvido, em parceria com o pesquisador Frank Crespilho do Instituto de Química de São Carlos (IQSC) da Universidade de São Paulo (USP) um teste sorológico em laboratório que detecta anticorpos.

    Na última onda da pandemia, porém, os centros de diagnóstico manifestaram a necessidade urgente de acesso a testes rápidos, que estavam em falta em todo o país. A Biolinker, então, passou a desenvolver o teste rápido como prioridade.

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    “Produzimos as biomoléculas e avaliamos os fornecedores nacionais, fizemos os ensaios e já terminamos o desenvolvimento tecnológico do autoteste rápido para detecção do antígeno da Covid-19”, afirma.

    Com a alta demanda por testes para a doença no Brasil, a Biolinker recebeu, em fevereiro, auxílio de um investidor-anjo que permitirá expandir consideravelmente sua planta de Insumos Farmacêuticos Ativos (IFA), de modo a aumentar a escala de produção e atender o mercado com o teste rápido e outros produtos.

    “Foi tudo muito rápido. Graças ao desenvolvimento anterior e ao apoio da Fapesp e da USP, em uma verdadeira força-tarefa de empresas nacionais de biotecnologia. Agora estamos na fase de validação dos resultados, com um pedido na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), enquanto fechamos os contratos com as parcerias para produção e concluímos as certificações necessárias da nova planta de IFA”, diz.

    O teste sorológico, porém, não foi abandonado. Segundo a pesquisadora, ele também será importante para ajudar a aprimorar a triagem de pacientes com Covid-19 e realizar o controle epidemiológico da doença no Brasil.

    “O teste sorológico detecta anticorpos circulantes IgG e, portanto, não mostra se o paciente está com o vírus, mas apenas se ele teve contato com base na resposta imunológica. Assim, especialmente entre os vacinados, a pessoa pode ter o anticorpo, mas não estar replicando o vírus. Isso não permite saber quem está transmitindo o vírus – que é fundamental para evitar uma nova onda“, afirma.

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    + LEIA TAMBÉM: Autoteste de Covid-19: o que é, vantagens e limitações

    Por outro lado, monitorar a sorologia é um importante requisito epidemiológico porque permite avaliar o nível de proteção contra o vírus. Isso se tornará cada vez mais fundamental à medida que avança a vacinação em massa, sublinha Oliveira.

    “Por isso, à medida que novos recursos chegarem, vamos transformar o teste sorológico em produto também, como uma segunda opção para os clientes”, antecipa.

    Produção em escala

    De acordo com a pesquisadora, a capacidade de produção da empresa para o novo teste rápido será de 50 mil unidades por semana.

    Os insumos serão entregues às empresas clientes, que já têm plantas industriais certificadas na Anvisa para a montagem dos kits – que inclui a impregnação das fitas de testes, corte, acondicionamento em embalagens e outros procedimentos.

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    “Com o contrato que estamos fechando, nos comprometemos inicialmente a entregar essa quantidade de insumos. Se mais adiante a demanda for maior, aumentaremos também a escala de produção”, afirma Oliveira.

    A nova planta da empresa, onde serão produzidos os insumos, está localizada no parque industrial de Cotia, na Grande São Paulo. A nova sede será cinco vezes maior que o espaço onde a empresa atua hoje, de apenas 45 metros quadrados.

    “É um trabalho hercúleo produzir em escala em uma planta tão pequena. Nessa nova planta de IFA vamos conseguir separar setores de forma bem definida, com aumento da escala e atendendo às normativas do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) e da Anvisa para o registro de nossos produtos”, relata Oliveira.

    O investimento que permitiu a construção da nova planta de IFA foi feito por um investidor-anjo, mas a empresa não revela o nome e o valor aportado.

    “O investidor nos procurou com interesse em biologia sintética e nos ofereceu uma mentoria que foi realizada ao longo de um ano. Em dezembro de 2021, recebemos o investimento. Além dos recursos, a mentoria nos ajudou muito a avaliar melhor os riscos e resultados e a estruturar melhor nossa equipe”, diz.

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    Esse processo de rápido crescimento levou a Biolinker a criar uma nova empresa – a Biolinker Diagnósticos –, que está sendo montada também em parceria com Frank Crespilho, cujo grupo de pesquisas é referência internacional em desenvolvimento de biossensores.

    “A Biolinker Diagnósticos será voltada para o consumidor final e terá foco em desenvolver testes a partir das nossas plataformas tecnológicas. A Biolinker, por outro lado, não terá foco na produção dos testes e sim na produção de moléculas para outras empresas. A nova planta nos habilitará para trabalhar em projetos para grandes indústrias farmacêuticas, de alimentos e do agronegócio que queiram fazer proteínas”, conta.

    De acordo com a pesquisadora, como a Biolinker Diagnósticos ficará com a produção de testes voltados para o consumidor final, a nova empresa terá também um serviço de atendimento ao cliente, seguindo as normativas da Anvisa.

    “Uma das exigências é criar um serviço de 24 horas para atendimento ao consumidor”, explica.

    Biotecnologia e inovação

    A Biolinker se dedica à pesquisa e desenvolvimento de soluções na área de biotecnologia, especialmente a partir da biologia sintética, para empresas de diversos ramos e laboratórios de pesquisa.

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    A tecnologia de DNA recombinante foi utilizada pela empresa no desenvolvimento de ambos os testes. Segundo Oliveira, essa tecnologia consiste em empregar bactérias geneticamente modificadas para expressar, in vitro, a proteína de interesse do vírus.

    Essa fase do trabalho também foi apoiada pelo Programa PIPE-FAPESP e contou com recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).

    De acordo com Oliveira, essa técnica na qual a Biolinker é especializada difere bastante das que costumam ser usadas nos testes importados.

    “Sem essa tecnologia, em vez de produzir as proteínas do vírus, teríamos que fazê-lo crescer e, como ele é altamente contagioso, isso iria exigir um nível alto de biossegurança que não temos no Brasil”, explica.

    + LEIA TAMBÉM: Quando fazer teste para sair do isolamento por Covid-19? E qual o melhor?

    Segundo a pesquisadora, a empresa é a única a fazer o procedimento in vitro na América Latina.

    De acordo com ela, a empresa desenvolveu um método acelerado que reduziu de até seis meses para até 15 dias o tempo necessário para analisar um grande número de proteínas do vírus e obter o gene que produz melhor resposta no corpo humano.

    “Escolhemos os candidatos genéticos, produzimos no nosso laboratório e identificamos aqueles que eram mais viáveis para a escala de produção”, diz.

    Na etapa de triagem dos antígenos, os pesquisadores utilizaram a metodologia conhecida como cell-free.

    “Dentro das células há inúmeras enzimas que trabalham como se fossem pequenas fábricas de outras proteínas. Com a técnica cell-free, conseguimos abrir as células e fazer com que elas produzam rapidamente apenas as proteínas importantes para a síntese. Conseguimos produzir uma pequena quantidade, que, no entanto, é suficiente para a triagem dos antígenos. Depois, na etapa de produção, utilizamos o método tradicional”, explica.

    Além da inovação na triagem dos antígenos, os pesquisadores também utilizaram outro recurso inovador especificamente para o desenvolvimento do teste rápido.

    “Utilizamos o modelo de bioconjugação desenvolvido pelo professor Frank Crespilho, que melhora a performance e sensibilidade do teste, por ser responsável pela detecção. Nossos antígenos foram fundamentais para a especificidade e acurácia do método”, afirma.

    Graças a isso, o teste rápido apresentou alta sensibilidade para o espectro de todas as variantes do vírus. “Esse é um aspecto importante, porque muitos dos testes que estão no mercado não estão funcionando para detectar a variante ômicron ou estão produzindo muitos falsos negativos”, compara Oliveira.

    *Este texto foi originalmente publicado por Agência Fapesp.

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