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Gripe aviária: o que sabemos sobre o primeiro caso humano de H5N2

Homem do México infectado pelo vírus morreu em abril. OMS afirma que o risco para a população em geral é considerado baixo

Por Lucas Rocha
Atualizado em 7 jun 2024, 16h30 - Publicado em 7 jun 2024, 15h49
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Existem diversos tipos de vírus da gripe aviária, mas geralmente eles não infectam pessoas (Foto: Josué Damacena/IOC/Fiocruz)
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A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou nesta semana detalhes sobre o primeiro caso confirmado no mundo de infecção humana pelo vírus influenza A (H5N2), comumente chamado de gripe aviária. A infecção ocorreu no México e o homem acometido morreu.

O paciente tinha 59 anos e um histórico de doença renal crônica, diabetes tipo 2 e hipertensão arterial sistêmica de longa data.

Em meados de abril, o indivíduo buscou atendimento médico com sintomas como febre, falta de ar, diarreia, náuseas e indisposição. Ele foi internado no dia 24 daquele mês no Instituto Nacional de Doenças Respiratórias Ismael Cosio Villegas (INER, em espanhol) e faleceu no mesmo dia devido a complicações do quadro.

+ Leia também: Gripe, resfriado, bronquiolite e Covid-19: os vírus estão no ar

De acordo com a Secretaria de Saúde mexicana, o óbito não foi causado pelo vírus da gripe, mas por condições crônicas que geraram choque séptico, uma resposta inflamatória exacerbada do organismo.

Episódios de gripe aviária são registrados em humanos de maneira esporádica desde a década de 1960. O contágio ocorre a partir do contato com animais doentes.

Mas por que o vírus acende um sinal de alerta?

O que sabemos sobre a gripe aviária H5N2?

São conhecidos diversos tipos de vírus da gripe aviária. Para a nossa sorte, eles geralmente não infectam pessoas.

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Quando acontece, há uma variedade de quadros clínicos, de doença assintomática a situações mais graves que levam à morte. Conjuntivite, sintomas gastrointestinais, inflamação e deterioração das funções do cérebro também já foram associados à doença.

Até o momento, o H7N9, o H5N1 e o H5N6 figuram entre os principais agentes por trás de casos humanos no planeta.

No México, o vírus influenza H5N2 foi isolado pela primeira vez em 1994. Estima-se que, naquele momento, o patógeno provavelmente já estava disseminado em aves de vários estados do país.

Desde então, foram documentados diversos surtos nesses animais por lá, e campanhas de vacinação nos bichos buscaram atenuar o problema. Existem registros dessa linhagem viral também em países próximos, como El Salvador, Guatemala e República Dominicana, mas também de localidades mais distantes, como Japão e Taiwan – todos sem registros em pessoas, vale ressaltar.

“Esse vírus já vem circulando nesses países e causa problemas na agropecuária comercial, devido à mortalidade e alguns sinais clínicos que prejudicam a indústria avícola e, por isso, a vacinação é utilizada para o controle”, afirma a virologista Helena Lage Ferreira, professora da Universidade de São Paulo (USP) e presidente da Sociedade Brasileira de Virologia (SBV).

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Os vírus da gripe aviária normalmente se espalham em animais de criação (Foto: tawatchai07/Freepik)

O que acontece quando um caso de gripe aviária é detectado em uma pessoa?

O óbito no México segue em investigação pelas autoridades sanitárias, mas restam várias dúvidas. A começar pelo dado de que o paciente não teve histórico de exposição a aves ou outros animais.

“Isso nos deixa alertas em relação a entender de onde veio o vírus. No pior cenário, poderia ser que o paciente tivesse contraído de outra pessoa, o que seria uma novidade desagradável”, pontua o virologista Fernando Spilki, pesquisador da Universidade Feevale, do Rio Grande do Sul.

Diante disso, as estratégias em saúde pública são claras: é essencial investigar o genoma viral para confirmar se o micro-organismo pertence à mesma linhagem em circulação nas aves do país.

Além disso, é preciso testar as pessoas que tiveram contato com o homem para o vírus da gripe. Isso já foi feito e, segundo a OMS, nenhum outro caso foi relatado durante a investigação epidemiológica.

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Dos 17 contatos identificados e acompanhados no hospital que atendeu o paciente, um referiu corrimento nasal no final de abril. As amostras coletadas entre 27 e 29 de maio deram negativo para gripe e coronavírus.

Uma outra bateria de exames foi feita em 12 vizinhos do homem sendo sete com sintomas respiratórios e cinco sem sinais. Todos testaram negativo também para gripe e Covid-19.

Agora resta aguardar os resultados dos testes de anticorpos dessas pessoas, que estão em andamento, para saber se houve ou não exposição prévia ao H5N2.

Em março e abril foram detectados ao menos três surtos de H5N2 em aves. Os episódios ocorreram nas cidades de Texcoco e Temascalapa, no estado do México, onde vivia o paciente, e no estado de Michoacán, que faz fronteira com o outro estado. Mas até o momento, não foi possível cravar se o caso humano está relacionado com esses eventos recentes.

+ Leia também: Nariz entupido? Saiba o que fazer para se livrar da congestão nasal

Gripe aviária é motivo para pânico?

A propagação da gripe aviária de uma pessoa infectada para um contato próximo é muito rara e, quando acontece, se espalha apenas para algumas pessoas, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos.

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No entanto, os vírus influenza são amplamente conhecidos por sua alta capacidade de mutação. Uma alteração genética pode levar, por exemplo, a uma maior capacidade de infecção humana e de propagação de pessoa para pessoa: o principal pesadelo de qualquer virologista, devido aos riscos de uma nova emergência sanitária, como a pandemia de H1N1 em 2009.

Naquele ano, o vírus que circulava em suínos se disseminou amplamente entre a nossa espécie.

O problema é que é difícil – ou quase impossível – determinar quando e como essas modificações podem ocorrer. Por isso, a palavra-chave nesse contexto é vigilância.

Além do monitoramento epidemiológico em situações como esta do México, cientistas de todo o mundo se empenham no acompanhamento genômico contínuo dos diversos tipos de influenza.

Os estudos permitem responder perguntas que todos se fazem diante da divulgação de um caso como este:

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  • Qual o risco para os indivíduos?
  • Esse patógeno pode provocar uma pandemia?
  • O vírus é transmitido com facilidade entre pessoas?
  • Quais os sintomas da infecção?
  • Devo me preocupar com a gripe aviária?

Só será possível começar a responder essas questões quando for realizado o sequenciamento genômico do vírus que infectou o mexicano.

“A única informação que temos é que o H5N2 que circula atualmente no México vem acumulando mutações que fazem com que os vírus consigam escapar das vacinas que são utilizadas no país, mas não temos dados se essas alterações genéticas confeririam uma maior capacidade de infecção em humanos”, frisa Helena.

De acordo com o Regulamento Sanitário Internacional, de 2005, uma infecção humana causada por um novo subtipo do vírus influenza A é um evento que tem potencial para um elevado impacto na saúde pública e deve ser notificado à OMS.

Embora a fonte de exposição ao vírus neste caso seja atualmente desconhecida, a entidade avalia como baixo o risco atual para a população em geral representado pelo H5N2.

+ Leia também: O que é a gripe e como se defender dela?

Vírus influenza H5N1 nos Estados Unidos

Em 2024, foram registrados três casos humanos de infecção pelo vírus influenza A (H5N1) nos Estados Unidos após exposição a gado leiteiro. Ao todo, são quatro notificações, incluindo um primeiro episódio em 2022, associado a aves.

O CDC utiliza diversos sistemas de vigilância para monitorar os principais indicadores da gripe em terras americanas. De acordo com o órgão, até esta sexta-feira, 7, os dados não mostram quaisquer indicadores de atividade incomum de influenza em pessoas, incluindo a versão aviária.

O país convive atualmente com um surto contínuo de H5N1 em vacas leiteiras que atinge vários estados. O CDC informa que nenhum dos três casos está associado entre si.

No mais recente, identificado no Michigan, tal como foi com os dois anteriores, um no mesmo estado e outro no Texas, a pessoa é um trabalhador de uma fazenda com exposição a gados infectadas. O mais provável, portanto, é que ele tenha contraído a doença diretamente de uma vaca.

+ Leia também: Como funciona a broncoscopia e em quais casos ela é indicada?

Segundo Spilki, o cenário norte-americano aponta para uma fase de transição.

“Observamos que os genomas dos vírus que circulam em bovinos têm algumas assinaturas. Mutações que dão conta da capacidade do agente de se adaptar a esses animais e, provavelmente, a mamíferos e de se transmitir pelo menos entre o gado, que é algo em investigação. Contudo, ele não perde algumas características do patógeno original encontrado em aves”, detalha.

Teoricamente, se uma pessoa tomasse leite de vaca não pasteurizado contaminado com H5N1 vivo, ela poderia ser infectada. Porém, são necessárias mais pesquisas para compreender o risco potencial para a saúde pública oferecido pelo consumo.

Diante disso, o CDC emitiu um alerta que recomenda o consumo apenas de leite pasteurizado. O processo aquece o produto a uma temperatura alta por tempo suficiente para matar agentes causadores de doenças, incluindo a gripe aviária.

Do outro lado do globo, a Austrália registrou o primeiro caso humano de H5N1. O anúncio foi feito pela OMS nesta sexta-feira, 7. A paciente é uma menina de dois anos, sem problemas de saúde, com histórico de viagem em fevereiro para a Índia, onde o vírus já foi detectado em aves no passado.

Ela apresentou sintomas ao retornar ao país de origem no início de março. Com a piora do quadro, foi hospitalizada, chegou a receber cuidados intensivos e permaneceu internada por duas semanas. O tratamento surtiu efeito e a criança permanece bem.

De 2003 a maio deste ano, 891 casos de infecções humanas pela gripe aviária H5N1, incluindo 463 mortes, foram notificados à OMS em 24 países. Segundo a instituição, quase todos foram associados ao contato próximo com aves infectadas, vivas ou mortas, ou a ambientes contaminados.

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