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Livro conta a trajetória da mãe da edição genética

Biografia da prêmio Nobel Jennifer Doudna traz panorama sobre os avanços recentes da genética e os bastidores e rivalidades no mundo das pesquisas

Por Diogo Sponchiato
18 jun 2021, 14h47
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  • Uma das cientistas responsáveis pelo desenvolvimento do CRISPR, a mais promissora ferramenta de edição do DNA da atualidade, a americana Jennifer Doudna estrela o novo livro do escritor Walter Isaacson. Muito além de uma biografia da vencedora do prêmio Nobel de Química de 2020, a obra traça um panorama, cheio de personagens e bastidores, do método que pode representar a cura de doenças e mexer com o futuro da nossa espécie.

    Livro conta a trajetória da mãe da edição genética

    A Decodificadora
    Autor: Walter Isaacson
    Editora: Intrínseca
    Páginas: 576

    Mapeamos, a seguir, oito pontos para você conhecer melhor essa história.

    RNA, o astro bioquímico

    É assim que Walter Isaacson, um dos mais proeminentes biógrafos dos nossos tempos (ele contou a vida de Leonardo da Vinci e Steve Jobs), se refere a essa molécula que durante décadas foi ofuscada pelo DNA. Na verdade, existem vários tipos de RNA nas células, e são eles que botam a mão na massa para que a receita dos genes se materialize em proteínas e ganhe funções no organismo. Os trabalhos da bioquímica Jennifer Doudna foram essenciais para entendermos a configuração e o papel dos RNAs.

    O “corta e cola” genético

    A protagonista de A Decodificadora foi uma das mentes por trás das descobertas que levaram à criação do método CRISPR. Ele consiste no uso de moléculas (entre elas um tipo de RNA) para realizar uma edição precisa no genoma. Ao lado de outros cientistas, como a francesa Emmanuelle Charpentier, Jennifer demonstrou que esse truque alçado a ferramenta terapêutica seria um jeito mais fácil e viável de alterar genes específicos e defeituosos. Pelo feito, as duas levaram o Nobel de Química de 2020.

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    Inspiração na natureza

    Jennifer e companhia não tiraram um coelho da cartola. Os experimentos que desembocaram no CRISPR — e que envolvem outros times de estudiosos pelo mundo — partiram da observação de que bactérias possuem a habilidade de localizar e desativar genes de vírus capazes de infectá-las. Foi uma estratégia desenvolvida há milênios por esses micro-organismos para se defender e que os cientistas conseguiram identificar e reproduzir em laboratório.

    Cooperação e competição

    A obra de Isaacson é marcada por trabalho em equipe e uma corrida entre pesquisadores e instituições para saber quem mostraria primeiro o potencial do CRISPR. É que as experiências de Jennifer e Emmanuelle representaram a prova de conceito em tubos de ensaio. O passo seguinte era apresentar ao mundo que isso funcionava em células humanas. A missão levou Jennifer e estudiosos concorrentes a uma disputa acadêmica e mercadológica que, no final, rendeu frutos em tempo recorde.

    O método vai à prova

    A etapa seguinte para cravar a segurança e a eficácia do CRISPR seria testá-lo em seres humanos. Imagine poder curar doenças genéticas que impõem danos incalculáveis à qualidade de vida de seus portadores! De olho nisso, universidades, startups e farmacêuticas passaram a montar e estudar soluções baseadas nesse método. Hoje, o CRISPR tem sido empregado com sucesso no tratamento da anemia falciforme, por exemplo.

    Os bebês CRISPR

    A edição genética abre caminho a duas linhas de intervenção. A primeira é modificar o DNA para controlar doenças em alguém que convive com elas (ou tem propensão). O segundo seria interferir nos genes de embriões para impedir que crianças venham a ter determinada condição. Foi o que um cientista chinês fez, sem consentimento e apoio em protocolos éticos internacionais. Ele “retirou”, de filhos de pais com HIV, um gene que dá suscetibilidade à infecção. A controvérsia foi grande!

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    Dilemas éticos

    O caso dos bebês chineses geneticamente editados — os primeiros do planeta — aprofundou a discussão sobre o que se poderá ou não fazer com o CRISPR. Porque, como Isaacson argumenta no livro, há uma linha tênue entre o tratamento de doenças e o melhoramento do indivíduo e da espécie. Seria ótimo poder desativar genes que elevam o risco de câncer, certo? Mas não é improvável que o ser humano queira também alterar sua força muscular, a cor dos olhos…

    Na pandemia… e depois

    As realizações de Jennifer Doudna ganham uma dimensão especial quando, diante do coronavírus, presenciamos a chegada de vacinas obtidas através de manipulação genética. E o CRISPR vem sendo avaliado, inclusive pelo time da bioquímica, como plataforma para exames e tratamentos contra a Covid-19. A relativa facilidade no uso da ferramenta também coloca em evidência os biohackers, indivíduos que fazem experiências e criam soluções (até para a pandemia) em laboratórios de fundo de quintal.

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