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O que é carga viral e qual sua importância na gravidade da Covid-19

Sintomas e complicações da Covid-19 seriam menos frequentes em quem possui poucas cópias do coronavírus no organismo. E as máscaras ajudariam aí

Por Maria Tereza Santos
Atualizado em 12 mar 2021, 12h23 - Publicado em 21 ago 2020, 16h59
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  • As máscaras ganharam destaque na pandemia como uma das principais formas de prevenção da Covid-19. Mas é possível que, mesmo quando não barrem por completo a entrada do coronavírus (Sars-CoV-2) no organismo, elas contribuam para que a doença cause sintomas mais brandos, como sugerem pesquisadores americanos em um artigo publicado no periódico Journal of General Internal Medicine. E isso teria tudo a ver com a chamada carga viral.

    O que é isso? Segundo a infectologista Nancy Bellei, da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), a carga viral é a quantidade de cópias de um vírus encontradas em determinado fluido ou secreção.

    “Quando alguém é infectado, o vírus se replica no seu organismo. Dependendo da enfermidade, é possível detectá-lo pelo sangue ou eventualmente em outros fluidos”, relata Nancy, que também é professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Para isso, são necessários exames específicos que procuram o material genético do invasor em amostras sanguíneas ou de secreção nasal, por exemplo.

    No caso do HIV e da hepatite C, a quantificação da carga viral chega a influir na escolha do tratamento — concentrações mais altas desses patógenos exigem tratamentos mais potentes. Mas e o coronavírus com isso?

     

    A importância da carga viral na Covid-19 — e o que as máscaras têm a ver com isso

    No artigo citado anteriormente, cientistas da Universidade da Califórnia e da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, afirmam que as máscaras teriam uma função dupla na contenção do coronavírus.

    A primeira — e mais reconhecida pela ciência — é a de que evitam a transmissão do Sars-CoV-2 por gotículas respiratórias. Uma revisão de estudos mostrou que a possibilidade de contaminação, ao vesti-las, é de apenas 3,1%.

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    Já a segunda — que, por enquanto, é somente uma teoria — está relacionada à disseminação de uma carga viral menor. Veja: mesmo sendo eficazes, as máscaras não barram totalmente a passagem do vírus. Ou seja, algumas poucas cópias do Sars-CoV-2 podem passar pelas camadas de tecido e infectar alguém, embora isso seja menos comum. Mas, mesmo nessa situação, a quantidade de coronavírus a entrar no seu corpo seria menor do que na ausência de uma máscara.

    Conclusão: com uma menor carga viral, o organismo conseguiria combater a Covid-19 com mais eficiência e rapidez, o que se traduziria em menos sintomas e complicações.

    Pesquisas com outros males respiratórios dão embasamento à hipótese de que, quanto maior a carga viral, maior o estrago provocado pela enfermidade. Uma delas contou com a expertise de Nancy e foi realizada de 2009 a 2013 no hospital da Unifesp.

    A ideia era avaliar o vírus sincicial respiratório (VSR), invasor por trás de muitos casos de bronquiolite nos bebês, em amostras de swab nasal — o mesmo teste utilizado para diagnóstico do novo coronavírus. Foi colhido material de 196 crianças sintomáticas, 192 cuidadores assintomáticos, 165 profissionais de saúde (70 sintomáticos e 95 assintomáticos) e 143 portadores do HIV (43 sintomáticos e 100 assintomáticos). Conclusão: quanto maior a carga viral, maior o risco de a pessoa desenvolver sinais da doença.

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    Outro exemplo, dessa vez envolvendo o próprio Sars-CoV-2, é citado naquele artigo americano. Trata-se um surto de Covid-19 em março de 2020 ocorrido em um cruzeiro que partiu de Ushuaia, na Argentina, para uma viagem de 21 dias pela Península Antártica.

    Após detectarem um caso de coronavírus a bordo, os responsáveis distribuíram máscaras para a tripulação e os passageiros. Até o fim do cruzeiro, 128 dos 217 indivíduos no navio foram diagnosticados com a doença. Só que, entre eles, 81% não apresentaram sintomas — uma taxa muito mais positiva do que a esperada. Para ter ideia, no já conhecido episódio do cruzeiro “Diamond Princess”, que atracou no Japão, só 18% das pessoas infectadas não manifestaram sinais da enfermidade. E, nesse caso, não houve orientação para uso de máscaras desde o princípio. A carga viral seria uma explicação para essa discrepância tão grande.

    Por outro lado, cabe destacar que não temos estudos controlados conduzidos em seres humanos para confirmar essa hipótese — os próprios americanos pontuam tal limitação no artigo.

    Nancy participou de um estudo, ainda em fase de aprovação para publicação, que reuniu 875 pacientes no hospital da Unifesp. O resultado aponta que pessoas que morreram devido à Covid-19 possuíam maior carga viral.

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    Entretanto, não houve controle de certos fatores que influenciam os achados. Nancy e sua turma não sabem, por exemplo, se outras doenças ou a aplicação de medicamentos interferiram nos óbitos.

    “Por enquanto, só há uma suspeita de que a carga viral esteja relacionada a uma maior letalidade”, conclui a expert. De qualquer forma, como as máscaras já são recomendadas para a população geral, fica o reforço de que, com elas, talvez a Covid-19 se torne menos letal.

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