Já se sabe que a Covid-19 pode causar perda cognitiva e sintomas como falhas na memória mesmo nos casos leves da doença. Agora, uma nova pesquisa brasileira, publicada no periódico Cell Reports mostra como o vírus age no cérebro do paciente.
Os resultados podem ajudar a elaborar estratégias de prevenção desses efeitos.
Para investigar esse mecanismo, cientistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) injetaram a proteína Spike, a parte do vírus responsável por infectar nossas células, no cérebro de camundongos.
Depois, as cobaias foram submetidas a testes que avaliavam a capacidade de memória espacial nos primeiros sete dias e ao longo de um mês.
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Aqueles que tinham recebido a proteína tiveram dificuldades nessa tarefa. Mas, assim como costuma ocorrer na infecção humana, os efeitos só foram aparecer tardiamente, após cerca de 20 ou 30 dias.
Ao avaliar o cérebro dos roedores, os pesquisadores constataram que a proteína do vírus ativa um receptor envolvido na resposta inflamatória local.
Isso faz com que células chamadas microglia entrem em ação. Elas fazem parte do sistema de defesa do sistema nervoso central e eliminam terminações sinápticas, o que afeta a conexão entre os neurônios.
“Essa neuroinflamação tardia é a responsável pelos sintomas cognitivos da doença”, explica a neurocientista Claudia Pinto Figueiredo, professora da UFRJ e uma das responsáveis pelo trabalho.
No hipocampo, região do cérebro relacionada à memória, isso causa os famosos lapsos que as vítimas da Covid-19 relatam pós-infecção.
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Para comprovar essa hipótese, a equipe repetiu o teste com animais que tinham esse receptor bloqueado por modificação genética. Esses não tiveram prejuízos na memória.
O achado pode abrir caminho para o uso de medicamentos que têm essa ação e poderiam ajudar na prevenção ainda na fase aguda da doença.
Efeito reversível
A pesquisa também demonstrou que não é preciso ter a infecção ativa para sofrer com esses efeitos – restos do vírus em circulação também podem chegar ao sistema nervoso central e causar danos.
A boa notícia é que o efeito pode ser reversível.
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“Sabe-se que o cérebro é capaz de induzir a formação de novos neurônios e alguns hábitos podem ajudar, como atividade física e sono de boa qualidade”, diz a especialista.
“Mas ainda não sabemos o impacto em alguém com suscetibilidade a doenças neurológicas, e isso deve ser investigado em futuras pesquisas.”
*Esse texto foi publicado originalmente pela Agência Einstein.