A cantora Anitta usou a mídia para expor um problema de saúde que demorou nove anos para diagnosticar: a endometriose. A doença com alta prevalência no Brasil e no mundo pode provocar dores incapacitantes e afetar diretamente o sonho de ser mãe. Estima-se que 30% a 50% das mulheres com o problema apresentem dificuldades para engravidar.
Aliás, comumente o próprio diagnóstico vem após tentativa fracassadas de engravidar, que levam o médico a desconfiar da endometriose. Sintomas como dores após o sexo, inchaço abdominal, irregularidade menstrual e cólicas também sinalizam o problema.
“Nem toda paciente com endometriose é infértil, mas até 50% das mulheres inférteis possuem a enfermidade”, esclarece Aline Monteiro, ginecologista, membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e associada da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). Quando a tentativa de engravidar passa de um ano, é preciso recorrer a ajuda de um especialista.
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Antes de falar dos tratamentos possíveis, é preciso entender o que á a endometriose e porque ela afeta a fertilidade de uma mulher. Em resumo, trata-se de uma doença crônica e inflamatória. Ou seja, elas não tem cura, mas pode ser tratada.
O quadro ocorre quando pedaços do endométrio, o tecido que reveste o útero, crescem para fora do órgão. Os fragmentos vão parar no ovário, nas trompas e até em regiões vizinhas.
“Em condições normais, há um equilíbrio entre a progesterona e o estrogênio. Na endometriose, sobra o estrogênio”, afirma Walter Pace, médico de Centro de Endometriose do Hospital Santa Joana, em São Paulo, e professor Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais.
Daí porque o tratamento às vezes consiste em engolir pílulas anticoncepcionais que tem como base a progesterona. Claro que, ao usar essa estratégia, as tentativas de engravidar têm chances mínimas de serem bem sucedidas.
Mas há outros tratamentos, que merecem uma conversa franca entre o especialista e a mulher. A escolha depende também da gravidade da endometriose, da demora no diagnóstico e da idade, entre outras características.
Pace defende que a cirurgia é a melhor opção para quem quer engravidar já. Mas não descarta um uso breve dos anticoncepcionais para bloquear a ovulação durante um tempo e estabilizar a doença. Nesse período, a mulher para de menstruar.
“Os implantes anticontraceptivos também estão sendo utilizados com muito sucesso. Pela ação anti-inflamatória, eles chegam a regredir a doença”, explica Pace.
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Por outro lado, Aline Monteiro entende que esse tipo de abordagem prejudica o caminho da gestação: “O problema é que a mulher vai ficando mais velha enquanto trata a endometriose. Quando chega em uma clínica de reprodução assistida, já está com baixa capacidade ovariana, que é relacionada à quantidade e à qualidade dos óvulos”.
Daí voltamos para os procedimentos cirúrgicos. A videolaparascopia – opção empregada no caso da cantora Anitta – identifica e cauteriza os locais afetados. Outra opção é apenas extrair as células que estão fora do lugar. ”Precisamos melhorar a qualidade de vida dessa mulher antes de ela tentar engravidar, já que algumas dores são incapacitantes”, afirma Aline.
O que guia o tipo de cirurgia é também o grau da endometriose. Ela pode ser superficial, profunda ou ovariana. “São vários fatores para chegar a essa classificação e nem sempre eles têm relação com a dor”, esclarece Aline.
Reprodução assistida em mulheres como endometriose: como funciona?
Na hora de escolher o tratamento para engravidar, a idade tem um peso especial. “Quando a mulher tem menos de 35 anos e há uma melhor reserva ovariana, podemos optar pela inseminação intrauterina. Fazemos o processamento do sêmen, os espermatozoides são colocados no útero e induzimos a ovulação na mulher”, diz Aline.
Se o desejo for engravidar mais tarde, é recomendado ainda congelar os óvulos que estão mais saudáveis. “Quando a mulher chega cedo procurando ajuda, podemos fazer um planejamento reprodutivo”, recomenda a médica.
Se a mulher está mais velha e não houve esse plano, o mais comum é que se recorra à fertilização in vitro, quando o óvulo é fecundado em laboratório e, em seguida, implantado no corpo da mulher novamente.
Por que a endometriose não pode ser menosprezada?
As mulheres e os especialistas aproveitaram para fazer coro ao grito da Anitta: não é normal sofrer com dores e cólicas que impedem a execução de tarefas do dia a dia.
Com essa normalização errônea, diagnósticos deixam de ser feitos. A cantora, por exemplo, demorou nove anos para descobrir porque sofria tanto com dores.
Esse atraso não leva só ao sofrimento desnecessário. Sem cuidado, o tecido do endométrio que cresce sem controle pode afetar outros órgãos, ao ponto de elevar o risco de câncer de ovário.
A doença acomete de 10 a 15% das mulheres em idade reprodutiva no Brasil. Diante um número tão expressivo, é injustificável a falta de informação sobre o tema.
Exames que detectam a endometriose
“O ultrassom já é uma ótima ferramenta, se houver uma boa máquina e um operador experiente. A ressonância magnética é mais evidente, mas não é preciso depender dela para chegar ao diagnóstico”, defende Pace.
Médicos mais especializados conseguem desconfiar da doença até no exame clínico, de acordo com o ginecologista. Em algumas capitais, há centros de excelência em endometriose. Mas, claro, essa não é uma realidade nacional.
O que pode ser utilizado no tratamento para a endometriose?
Remédios
Costumam ser receitados analgésicos e anti-inflamatórios para aliviar a dor e outros sintomas, e anticoncepcionais para evitar que a mulher menstrue.
Cirurgias
São indicadas nos quadros mais severos a fim de eliminar os focos de endometriose e reverter alterações anatômicas. A maioria é feita por videolaparoscopia.
Fisioterapia pélvica
Usa técnicas e recursos para minimizar os desconfortos e as sobrecargas resultantes da dor crônica. É comum empregar a eletroestimulação em casos desse tipo.
Atividade física
Além de beneficiar a saúde física e mental como um todo, suar a camisa regularmente desencadeia a liberação de endorfina, hormônio que tem efeito analgésico.
Bem-estar emocional
Manter um estilo de vida equilibrado, informar-se com fontes confiáveis sobre a doença e, se necessário, procurar um psicoterapeuta também é recomendável.
Sinais e sintomas
- Cólica intensa mesmo fora do período menstrual
- Inchaço abdominal
- Dor durante e após o sexo
- Dor para urinar e evacuar
- Intestino preso ou solto demais
- Menstruação irregular
- Dificuldade para engravidar