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Tudo o que você sabia sobre a doença de Chagas está errado

Levantamentos revelam que a picada do barbeiro não é mais o principal vetor do problema em nosso país

Por André Biernath
Atualizado em 11 mar 2019, 18h31 - Publicado em 26 Maio 2016, 21h18
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  • Você deve se lembrar das aulas de biologia no colégio, quando a professora explicava os detalhes da doença de Chagas, causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi. Uma das particularidades da enfermidade é sua forma de transmissão: o barbeiro (Triatoma brasiliensis), que você vê na imagem aí em cima, pica a pele de uma pessoa. Na mesma região, deposita suas fezes. Ao sugar o sangue, o inseto provoca uma coceira e, quando o indivíduo toca a região, o cocô – cheio de seres microscópicos – cai na corrente sanguínea. A moléstia tem suas primeiras manifestações dentro de duas semanas, com o aparecimento de febre e mal estar. Daí, ela some do mapa e só vai causar encrencas por volta de duas décadas depois, quando uma parcela dos infectados começa a apresentar graves sintomas cardíacos ou intestinais.

    Pois saiba que o tal do barbeiro não é mais o vilão principal dessa história, segundo dados recentes. O médico Abílio Augusto Fragata Filho, do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, na capital paulista, mostrou que as aulas de ciências precisarão de uma revisão em breve. Em uma palestra do Congresso da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, na tarde de hoje, o especialista apresentou estudos que indicam o papel crescente de outras transmissões oportunistas da doença. A forma de contágio mais importante atualmente é a ingestão de açaí e cana-de-açúcar. Isso mesmo: as plantações desses dois produtos são o habitat do inseto. Em locais sem uma higiene adequada, ele acaba triturado junto com o fruto arroxeado ou os gomos doces.

    Cerca de 70% dos casos de Chagas no Brasil já são transmitidos desta maneira. O problema está concentrado na região Norte do país, que soma 91% dos relatos da doença, com especial destaque para o estado do Pará. Portanto, nada de alarmismo: o número de afetados não é tão absurdo e os surtos não chegam a atingir uma centena de sujeitos. Também não precisa abolir de vez o açaí com granola e o caldo de cana de sua dieta — apesar de os dois itens serem bastante calóricos e exigerem moderação. Para evitar chabus, compre produtos de origem confiável, que tenham registro nos órgãos de vigilância, como o Ministério da Agricultura.

    Outras formas de proliferação do Trypanosoma cruzi são transplantes de órgãos, transfusões de sangue e a gestação, caso a futura mamãe esteja infectada. Um bom controle das autoridades de saúde — o que felizmente acontece no Brasil — minimiza os riscos dessas situações. Por fim, vale notar que a doença, antes restrita à América Latina, se espalhou por todo o planeta. Com a globalização e o maior trânsito de pessoas, os Estados Unidos, a Europa, a Ásia e até a Oceania já notificaram casos da doença nos últimos tempos.

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