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Saiba quais vírus e bactérias podem levar a uma nova pandemia

Organização Mundial da Saúde (OMS) atualiza lista de agentes causadores de doenças com potencial para se espalhar pelo mundo

Por Lucas Rocha
8 ago 2024, 09h57
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Vigilância genômica permite o monitoramento acurado de patógenos (Foto: Josué Damacena/IOC/Fiocruz/Divulgação)
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Países de todo o mundo devem reforçar a vigilância em preparo para uma possível nova pandemia. O alerta é da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Coligação para Inovações na Preparação para Epidemias (CEPI, em inglês).

Em novo relatório, a OMS descreve diversos agentes causadores de doenças, também conhecidos entre os cientistas como patógenos, que devem ser alvo de atenção, monitoramento e pesquisa.

O documento é fruto de um trabalho amplo envolvendo mais de 200 cientistas de mais de 50 países, que avaliaram as evidências relacionadas a 1.652 micróbios. O esforço atualiza o material, que havia sido revisado pela última vez em 2018.

Mais de 30 micro-organismos com potencial para desencadear uma nova epidemia ou emergência global integram a lista de prioridade. Como novidades, temos a inclusão dos vírus influenza A, dengue e mpox (responsável pela doença nomeada no passado como varíola dos macacos).

Vale destacar que nem todos os elementos do relatório vão necessariamente causar uma pandemia. Para isso, são necessárias características específicas, como detalha o virologista Flávio Fonseca, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

“Uma condição importante, por exemplo, é um vírus se adaptar bem ao ser humano e se multiplicar de maneira eficaz no organismo. Outro ponto é a disseminação rápida, como no caso dos vírus respiratórios, que podem infectar muitas pessoas em um mesmo ambiente. O que é diferente daqueles de transmissão sexual, com mecanismo de disseminação mais complexo”, explica Fonseca.

+ Leia também: O vírus que virá

Mas estabelecer prioridades é uma maneira de ajustar o foco (e o financiamento) no desenvolvimento de novos tratamentos, vacinas e métodos de diagnóstico mais precisos, como avalia o virologista Fernando Spilki, pesquisador da Universidade Feevale, do Rio Grande do Sul.

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“A lista é fundamental, porque ela alerta governos e autoridades sanitárias. Em um mundo sob mudanças intensas, com tanta potencialização desse tipo de problema, precisamos ter alvos definidos, uma vez que os recursos são finitos”, destaca Spilki.

Entre os agentes prioritários selecionados, alguns marcam presença em quase todos os continentes.

A exemplo, temos diferentes subtipos de influenza A, o vírus da dengue, Lentivirus humimdef1, o subgênero Sarbecovirus (que inclui os Sars-CoV-1 e o 2, causador da Covid), além das bactérias Salmonella e Klebsiella pneumoniae, esta última conhecida pela ampla resistência aos medicamentos antibióticos. 

Outros estão concentrados em regiões específicas, frequentemente associadas à presença de um reservatório animal, vetor transmissor ou condições de vida inadequadas.

Vamos aos destaques

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A vez dos vírus respiratórios

A Coronaviridae, uma das famílias virais mais reconhecidas nos últimos tempos, reúne dois subgêneros que agora estão na mira da OMS: Sarbecovírus e Merbecovírus.

O primeiro abriga o famigerado coronavírus da pandemia de 2020 e o Sars-CoV-1, já o segundo contempla o vírus da síndrome respiratória do Oriente Médio (Mers), que causou problemas  – em proporções significativamente menores – no início dos anos 2000.

O influenza A, causador da gripe comum, integra a lista de alerta com sete cepas, incluindo o subtipo H5, que tem chamado a atenção da comunidade científica global recentemente devido ao comportamento incomum reportado pelos Estados Unidos.

No país norte-americano, a linhagem H5N1, causadora da gripe aviária, tem provocado surtos em rebanhos gado leiteiro, com ao menos 13 casos recentes registrados em humanos, trabalhadores da pecuária. E estudos confirmam que ele está se adaptando para a disseminação entre mamíferos.

O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) considera o risco à saúde pública como baixo no momento, mas essa situação pode mudar rápido. Isso porque, quando se trata da gripe, uma das principais preocupações é a alta taxa de mutação do vírus, que poderia conferir um aumento na capacidade de infecção de humanos e, portanto, de transmissão de pessoa para pessoa — a receita básica de um número explosivo de casos.

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+ Leia também: Gripe aviária: quais os potenciais riscos do vírus para a saúde global?

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Vírus respiratórios se tornam prioridade em lista da OMS (Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil)

Arboviroses ganham espaço

As mudanças climáticas têm levado a mudanças no padrão de temperatura do planeta e, consequentemente, na dispersão de mosquitos causadores de doenças.

A dengue, que durante muito tempo foi um problema dos países tropicais, tem alcançado o Norte global, incomodando países da Europa e os Estados Unidos. E, ao lado da chikungunya e da febre amarela, ela agora entra para o grupo de prioridade, que já contava com a Zika.

+ Leia também: Com mudanças climáticas, doenças causadas por mosquitos avançam pelo mundo

Nos últimos meses, o número de casos da principal doença transmitida pelo Aedes aegypti saltou mundo afora. No Brasil, foram registrados recordes históricos, com mais de 6,4 milhões de casos prováveis de dengue em 2024 e mais de 5 mil mortes.

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“A mancha das arboviroses em geral se expandiu para distante do equador e mais ao Norte do que já tivemos notícia. Tomara que a sensação da ameaça traga mais atenção e esforços de pesquisa e desenvolvimento na área”, frisa Spilki.

A febre oropouche, que atualmente preocupa o Brasil, ainda está fora do radar da OMS, mas é monitorada de perto pelo Ministério da Saúde.

+ Leia também: Supermicróbios: a ameaça invisível da resistência antimicrobiana

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Doenças transmitidas por mosquitos tendem a aumentar com o aquecimento global (Ilustração: Erika Onodera/SAÚDE é Vital)

Varíola(s)

O olhar deve permanecer atento também aos causadores da varíola. O relatório destaca tanto o vírus da doença comum erradicada na década de 1980 (smallpox) quanto o responsável pela varíola dos macacos, hoje nomeada pela OMS como mpox, com vírus de mesmo título.

Desde maio de 2022, o mundo observou um aumento expressivo de mpox, especialmente em países onde a doença não é considerada endêmica. Pela primeira vez, o fenômeno atingiu, ao mesmo tempo, áreas geográficas distantes.

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Ao todo, foram confirmados em laboratório mais de 97 mil casos, com 203 mortes, em mais de 100 países entre janeiro de 2022 e maio deste ano. De acordo com a OMS, a maior parte das infecções foi identificada por meio de serviços de saúde sexual e unidades básicas.

No caso da versão tradicional do agravo, a precaução é associada ao risco de vazamentos do micro-organismo, hoje armazenado apenas em laboratórios restritos dos Estados Unidos e da Rússia.

+ Leia também: Dengue, fungos, Covid… Os micróbios que preocupam os infectologistas

E tem mais…

Dois vírus de roedores, da família dos hantavírus, também foram adicionados porque eles saltaram para as pessoas, com transmissão esporádica de humano para humano. As mudanças climáticas e o aumento da urbanização podem aumentar o risco desses vírus serem transmitidos para as pessoas, de acordo com o relatório.

Entre as bactérias, são pontuadas as causadoras da cólera (Vibrio cholerae), da peste (Yersinia pestis), de um tipo de disenteria chamada shigelose (Shigella dysenteriae) e da Salmonella não-tifoide. Além de uma das principais vilãs quando o assunto é resistência aos antibióticos, a Klebsiella pneumoniae (KPC).

Permanecem no radar os vírus Nipah, transmitido por morcegos, e o da febre hemorrágica da Crimeia-Congo.

O fantasma do Patógeno X

O termo patógeno X é um conceito usado para denotar um micro-organismo não identificado ou não especificado, com potencial para gerar uma Emergência de Saúde Pública de Âmbito Internacional (PHEIC) ou pandemias no futuro.

Diante dos desafios de prever a nossa próxima ameaça, pesquisadores utilizam o título para simbolizar esse agente de risco futuro não identificado, que pode se originar de vírus já estudados ou daqueles que sequer são conhecidos.

A ideia ressalta a importância da prontidão da resposta em saúde pública pelos governos. É improvável que haja uma vacina ou tratamento eficaz prontamente disponível para quando o momento chegar.

No entanto, os preparativos precisam estar alinhados para minimizar os impactos à população. O que inclui o investimento em pesquisa, a manutenção de estratégias de vigilância genômica e a transparência no compartilhamento de informações pelos países.

+ Leia tambémDe varíola dos macacos a Covid-19: vivemos a era das pandemias?

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