Um novo estudo liderado por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) revelou a circulação do vírus Mayaro entre humanos no estado de Roraima.
Assim como as mais conhecidas dengue, Zika e chikungunya, a febre do Mayaro também é uma arbovirose.
O achado não exatamente é uma novidade. O vírus já é considerado endêmico na região amazônica, incluindo estados das regiões Norte e Centro-Oeste. “Isso significa que é um vírus que circula nessa área há décadas, não chegou agora. De vez em quando, se encontram casos”, explica o virologista Felipe Gomes Naveca, chefe do Laboratório de Arbovírus e Vírus Hemorrágicos do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).
No caso de Roraima, os especialistas realizaram técnicas como o isolamento viral e o sequenciamento genético de amostras de sangue de pessoas febris. De mais de 800 amostras analisadas, 3,4% apontaram a presença do Mayaro.
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A iniciativa contou com a participação de cientistas da Oxford University, do Imperial College London, da University of Kentucky, da University of Texas Medical Branch, do Global Virus Network, além de membros da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Federal de Roraima (UFRR) e do Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia).
Histórico de presença na região amazônica
O Mayaro foi isolado pela primeira vez nas ilhas caribenhas de Trinidad e Tobago, na década de 1950. De acordo com o Ministério da Saúde, o primeiro surto nacional foi descrito em 1955, às margens do rio Guamá, nas proximidades de Belém, no Pará.
Desde então, casos esporádicos e surtos localizados são registrados na região amazônica nas últimas décadas.
De acordo com a nova análise, publicada no periódico Emerging Infectious Diseases, a linhagem viral detectada no estado do Norte pertence a um genótipo identificado previamente no Amazonas e em países como Peru e Venezuela.
A pesquisa aponta ainda a cocirculação dos vírus Mayaro e chikungunya no estado. O cientista da Fiocruz pondera que os achados são relevantes, mas não surpreendentes.
“Quando o chikungunya chegou em Roraima, ele causou um surto bastante grande, principalmente em 2017. Então, ter os dois vírus circulando não é algo novo. Assim como hoje temos um cenário no Brasil onde circula dengue, chikungunya e oropouche em alguns lugares”, pontua Naveca.
Ciclo epidemiológico
A circulação do vírus Mayaro depende de mosquitos nativos de matas e selvas, semelhante ao que acontece com a febre amarela silvestre. Os principais hospedeiros do vírus são primatas, como os macacos, ou preguiças.
O ciclo acontece na natureza: humanos são considerados hospedeiros acidentais, que se expõem ao adentrar áreas de mata para atividades econômicas, turismo ou em busca de moradia. O contágio acontece pela picada de vetores dos gêneros Haemagogus e Sabethes. Vale destacar que não existe possibilidade de transmissão de uma pessoa para outra diretamente.
Diagnóstico, prevenção e tratamento da febre Mayaro
O vírus provoca uma doença febril aguda que, na maior parte dos casos, evolui sem complicações. Além da febre súbita, os sintomas incluem dores no corpo, fadiga, mal-estar, calafrios, lesões na pele, dor e inchaço nas articulações, vômitos e diarreia.
O diagnóstico é realizado a partir de investigação clínica, laboratorial e do contexto epidemiológico. Assim como ocorre com outras arboviroses, o tratamento ameniza os sintomas, incluindo analgésicos e recomendação de repouso, uma vez que não há vacina ou terapia específica para o vírus.
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“Ao entrar nesses ambientes é recomendado vestir blusas de mangas compridas e calça, além de usar repelente para afastar insetos”, pontua Naveca.
Há risco de epidemia?
Para o pesquisador da Fiocruz, os achados do estudo são relevantes no contexto de vigilância do cenário epidemiológico, mas não há motivo para pânico.
“Temos que continuar monitorando. Não há nenhuma ação que deveria ser tomada nesse momento. Até porque o Mayaro não é um vírus transmitido por vetores urbanos, como o Aedes aegypti, pelo menos até agora. O que se faz é monitorar os casos para ver se há algum aumento ou não, mas por enquanto, como a transmissão como se dá em ambientes mais rurais, não há necessidade de intervenção imediata como se faz com a dengue e o Aedes aegypti, por exemplo”, conclui.