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Como vamos criar e formar as próximas gerações?

Coleção de livros organizada por psicanalistas brasileiras traz o olhar da psicanálise para filhos, família, maternidade...

Por Diogo Sponchiato
25 dez 2020, 11h43
foto de família em formato de bonecos de papel
Psicanalistas discutem em livros mudanças e desafios na formação dos filhos e das famílias.  (Foto: Francesco Carta/SAÚDE é Vital)
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Parentalidade é um termo amplo que resume “a produção de discursos e as condições oferecidas pela geração anterior para que uma nova geração se constitua”, nas palavras das psicanalistas Daniela Teperman, Thais Garrafa e Vera Iaconelli. As três idealizaram uma nova coleção de livros, Parentalidade & Psicanálise (Editora Autêntica), centrada nesse tema e suas ramificações sob a ótica da disciplina criada por Freud.

Em cinco volumes, os dois primeiros já publicados, elas e convidados (de outras áreas de atuação, inclusive) refletem sobre maternidade e paternidade, criação dos filhos, dinâmicas familiares e a relação da casa com o mundo em tempos de ruptura de valores, diversidade, mudanças tecnológicas e conflitos com padrões erigidos pela sociedade e o mercado.

São discussões, provocações e orientações que ajudam a forjar gerações mais acolhedoras, sensíveis e felizes. No papo abaixo, a psicanalista Vera Iaconelli, mestre e doutora em psicologia pela Universidade de São Paulo (USP) e diretora do Instituto Gerar de Psicanálise, fala sobre alguns desses tópicos.

VEJA SAÚDE: Em que medida a pandemia e as mudanças na dinâmica familiar interferiram nas ideias e nos conceitos de parentalidade abordados por vocês?

Vera Iaconelli: A pandemia revelou como a distribuição de responsabilidades e tarefas no cuidado com os filhos é desigual entre homens e mulheres. Disso decorrem sofrimentos, separações e violências. Ela nos obrigou a repensar de quem são os filhos afinal e o que entendemos por família, temas amplamente debatidos na coleção de livros Parentalidade & Psicanálise.

O primeiro livro trata da pressão social sobre as mulheres como provedoras dos filhos e do lar, ao que se soma àquela ideia ainda ouvida por aí do “já está na hora de você ser mãe”. Diante do que é exposto na obra e da diversidade cada vez mais presente e discutida hoje, o que pode ser feito para rever essas visões e atenuar tamanha pressão?

Vivemos um paradoxo no qual mulheres ainda são pressionadas a se tornarem mães, ao mesmo tempo que as condições para que o façam se mostram cada vez mais insustentáveis. Mulheres que desejam ter filhos precisam reivindicar publicamente melhores condições de fazê-lo, lembrando que a natalidade é um grande interesse dos governos mundiais. As que não o desejam precisam ver respeitado seu direito de escolha e os meios para contemplá-lo.

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Vivemos tempos de polarização ideológica. De um lado, o recrudescimento do conservadorismo; do outro, o avanço de uma visão mais plural sobre a vida em família e a formação da nova geração. Como esse cenário influencia o debate e as práticas a respeito no país?

Quando sairmos da lógica maternalista, herdeira dos séculos 19 e 20, e passarmos a reconhecer que a formação das novas gerações é de responsabilidade de todos — independentemente de gênero, orientação sexual, raça e classe social —, a sociedade como um todo terá a ganhar. A coleção de livros que organizamos, com base na clínica psicanalítica e na teoria, se engaja nesse esclarecimento.

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