O trabalho é o lugar em que a gente passa a maior parte do tempo e, ainda bem, tem crescido a preocupação em cuidar da depressão nesse ambiente. Afinal, ignorar os sinais e não buscar o tratamento dessa doença pode causar a piora do quadro – e casos graves aumentam o risco até de suicídio.
Para ter ideia, um em cada cinco brasileiros acaba pedindo pensão por invalidez por causa de transtornos mentais. O impacto disso pesa inclusive no bolso: o Brasil é o segundo país com maior perda financeira ligada à depressão no serviço. São US$ 63,3 bilhões (mais de R$ 37 trilhões), segundo estudo de 2016 da London School of Economics – ficamos atrás apenas dos Estados Unidos.
Para mudar a forma como a depressão é vista nas empresas e afins, a farmacêutica Janssen lançou o guia “Depressão: Como Acolher no Ambiente de Trabalho”. A publicação é parte do Movimento Falar Inspira Vida, iniciado em 2020. “O diferencial desse guia é que ele dá orientações sobre como identificar o problema e abordá-lo no trabalho”, avalia o psiquiatra Jair Mari, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Vencer o preconceito contra depressão é uma luta que já tem alguns anos, mas, com a pandemia, ela tomou maiores proporções. O isolamento e a sensação de insegurança ao ter que sair para trabalhar fizeram mais gente adoecer. Prova disso é que o número de afastamentos por transtornos mentais subiu 33% no ano passado em relação a 2019, segundo estudo publicado pelo jornal científico The Lancet.
“Não há mais espaço para achar que se trata de uma doença de pessoas fracas, como se fosse uma escolha ter depressão. Ela faz parte da diversidade humana. Precisamos ser mais tolerantes com tudo: questões de gênero, raça e também com assuntos relacionados a transtornos mentais”, diz Mari. O psiquiatra lembra que a doença pode afetar desde o CEO da empresa até o cargo mais baixo da hierarquia: “Ninguém está imune.”
Prestar atenção aos sintomas para poder acolher um colega de trabalho pode evitar que a situação piore. Dados mostram que a depressão, de maneira geral, é a principal causa médica de incapacitação e a quarta doença com maior incidência no planeta. Os deprimidos gastam até quatro vezes mais de sua renda com medicamentos, consultas e exames. E, como mencionamos, casos mais sérios podem culminar em suicídio, que leva a 800 milhões de mortes no mundo, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).
“Tem crescido a valorização e o acolhimento de quadros de saúde mental. Por isso, buscamos também uma atitude mais complacente das empresas em relação ao tema”, defende Mari. “A depressão é uma das doenças mais incapacitantes e, com o isolamento, a situação só piorou. Somos seres que gostam de andar em bando”, completa o psiquiatra.
A Organização das Nações Unidas (ONU) incluiu a promoção de saúde mental entre os seus Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para o período 2015-2030. Com a pandemia, a corrida ficou ainda mais urgente. Houve um aumento de 80% no estresse e ansiedade durante o período, segundo pesquisa da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
Sinais da depressão
- Perda acentuada e constante de produtividade no trabalho
- Desânimo e cansaço frequentes
- Perda de prazos importantes
- Esquecimento de tarefas
- Dificuldade de manter o foco
- Reclamações constantes a respeito de sobrecarga ou cansaço
- Aumento no número de faltas
- Histórico de depressão na família
Como o guia pode ajudar?
Criar um ambiente de trabalho saudável, com respeito à carga horária, e ainda divulgar programas de sensibilização ao tema estão entre as primeiras boas atitudes de uma empresa – e o documento traz esse direcionamento. Abrir os olhos e ouvidos para quem está ao redor é o mais importante. Indivíduos com depressão enfrentam a fragilização da autoestima, sentem-se um fardo para todos à sua volta e têm dificuldade de concentração e de realizar as tarefas cotidianas. É fundamental, portanto, não confundir os sintomas da doença com preguiça e falta de força de vontade, por exemplo.
Para quem convive com o problema, o guia reforça que não é preciso ter vergonha. “Se a pessoa perceber que não é acolhida na empresa, precisa procurar ajuda e se afastar do trabalho, se necessário”, orienta Mari. Cuidar do sono, fazer exercícios físicos e comer melhor são algumas atitudes que ajudam. Mas sem ajuda profissional não é simples de começar.
O guia ainda destaca como algumas falas de colegas podem agravar a situação de quem sofre um transtorno mental. Por exemplo: ao perceber que algo está errado, não é recomendado utilizar frases como “que cara fechada, sorria!”. O ideal é substituir por algo como “não entendo exatamente como você está se sentindo agora, mas parece ser uma situação difícil. Saiba que não está sozinho nessa. Conte comigo.”
Outras declarações relacionadas a falta de atenção e cobrança de felicidade por ter um emprego são citadas no material. Além disso, o documento aponta que muitas pessoas podem dar sinais de que pretendem cometer suicídio. Nesse momento, é preciso ouvir com calma e pedir ajuda.
O guia “Depressão: como acolher no ambiente de trabalho” foi lançado pelo Movimento Falar Inspira Vida em uma live especial conduzida por VEJA SAÚDE e VOCÊ RH, da Editora Abril.
A iniciativa é liderada pela Janssen, farmacêutica da Johnson & Johnson, e tem parceria com a Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (ABRATA), o Centro de Valorização da Vida (CVV), o Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo (IPq – HCFMUSP), o Departamento de Psiquiatria da Unifesp, a Vitalk, o Instituto Crônicos do Dia a Dia (CDD), o Instituto Vita Alere e o Grupo Abril.