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Por que as mulheres são mais vulneráveis a distúrbios alimentares

Além dos rígidos padrões de beleza, estudo sugere haver uma conexão neurológica para a maior incidência dos transtornos no sexo feminino

Por Karolina Bergamo
Atualizado em 13 dez 2016, 11h20 - Publicado em 10 nov 2016, 18h27
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  • A cada homem com anorexia, 9 mulheres sofrem com esse distúrbio de imagem que faz o paciente se sentir acima do peso mesmo quando está magérrimo — e culmina em uma alimentação extremamente restrita que chega a ameaçar a vida. A bulimia (quando a pessoa vomita o que ingeriu para não engordar) também é mais frequente no sexo feminino, embora se discuta que possa ser pouco diagnosticado entre os homens.

    Intrigados com a maior incidência desse tipo de distúrbio na ala feminina, pesquisadores na Universidade York, no Reino Unido, decidiram analisar o que acontece dentro do cérebro de voluntários e voluntárias saudáveis ao enxergarem uma versão mais rechonchuda do próprio corpo.

    E como eles fizeram isso?! Por meio de um óculos de realidade virtual que os fazia enxergar contornos ora mais finos, ora mais largos. Ancorados em exames que avaliavam o funcionamento dos neurônios dos participantes, os cientistas descobriram que as mulheres se incomodavam mais com um corpo volumoso do que os homens.

    Nelas, uma parte do cérebro que processa emoções como medo e raiva ficava extremamente ativa nesses momentos. “Do ponto de vista do tratamento, é importante localizar essa área, porque podemos tentar controlar esses impulsos”, explica o psiquiatra Kalil Duailibi, da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).

    Leia mais: A TV e o ideal de corpo feminino

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    Contudo, ao ler os resultados desse artigo, eu (sim, a repórter que aqui vos escreve) fiquei em dúvida se essa diferença na atividade cerebral seria causa ou possível consequência do início de um distúrbio alimentar. De acordo com Duailibi, isso é o mesmo que perguntar quem veio primeiro, o ovo ou a galinha. O psiquiatra explica que as doenças mentais — de esquizofrenia à ansiedade — são resultado de diversos fatores. “Elas são uma somatória de questões biológicas com a personalidade e as experiências pelas quais a pessoa passa”, arremata.

    Isso significa que a rotina de uma mulher — e as suas expectativas quanto ao próprio corpo — podem deflagrar essas desordens de imagem. Esse fato, por sua vez, é mediado inclusive pelo ideal de beleza que foi firmado nas últimas décadas. Se você for agora até uma banca de jornal e observar a capa das revistas femininas, vai reparar que a maioria traz modelos que seguem um padrão específico: o da magreza.

    Quando uma modelo plus size (termo em inglês que se refere às mulheres mais cheinhas) aparece na capa de alguma dessas publicações, o fato vira notícia por si só de tanto que foge à regra. Esse é um sinal da existência de uma cultura ao “corpo perfeito”. Inclusive, um estudo da Universidade de Newcastle, na Inglaterra, descobriu que, quanto maior o tempo destinado à televisão, maior a probabilidade de a pessoa preferir uma silhueta finíssima e querer entrar em uma dieta restritiva demais.

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    Leia mais: Por que as dietas da moda falham

    Vale mencionar que essa pressão pelo corpo ideal é menos pesada sobre os homens. A tal barriguinha de chope é mais aceita por eles e por quem o cerca, não é mesmo? Ainda assim, pode ser que outros fatores particulares às mulheres também funcionem como estímulos à esse risco adicional de desenvolver anorexia e afins. “Elas possuem uma flutuação hormonal superior a do homens. Isso muitas vezes afeta a produção de serotonina [neurotransmissor responsável pela regulação do humor], o que pode deixá-las com a autoestima baixa”.

    Nessas horas, claro, fica mais difícil segurar os impulsos e não descontar o desarranjo hormonal comendo uma barra gigante de chocolate. Associe isso a um ideal implacável de beleza e pronto: a sensação de culpa bate com força, eventualmente abrindo as portas para males psiquiátricos. “Em resumo, as mulheres são mais vulneráveis por vários motivos, que envolvem hormônios, padrões sociais e também a predisposição genética.”, explica Duailibi.

    Veja: não estamos dizendo que a obesidade não merece atenção do ponto de vista da saúde. Mas não é traçando padrões irreais que lidaremos com essa questão de maneira madura e inclusiva.

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