Presença da família alivia a depressão na infância
Entenda mais sobre o tratamento e as origens do transtorno depressivo entre os mais novos
Ter uma relação saudável com os responsáveis, saber reconhecer emoções e mitigar os primeiros sintomas de depressão. Esses são os objetivos da terapia de interação pais-filhos para desenvolvimento emocional (PCIT-ED, na sigla em inglês).
É a primeira abordagem aprovada em ensaio clínico para o tratamento do transtorno em crianças de 3 a 6 anos. A intervenção consiste em orientar os pais a aflorarem a percepção dos filhos sobre seus sentimentos por meio de jogos e brincadeiras.
Três a cada quatro pacientes têm remissão após o tratamento e, depois de quatro anos de acompanhamento, 57% estão livres dos sintomas.
“Pais próximos reforçam a confiança no processo e aumentam as chances de sucesso no longo prazo”, avalia a psiquiatra especialista em infância Jaqueline Bifano, de Belo Horizonte.
O estudo foi publicado na revista científica Journal of the American Academy of Child & Adolescent Psychiatry.
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Clique aqui para entrar em nosso canal no WhatsAppAtenção aos sinais
Saiba reconhecer os sintomas do distúrbio nos primeiros anos de vida
Tristeza persistente
Geralmente acompanhada pela perda do prazer ou por mudanças de humor repentinas.
Irritabilidade
Pode prejudicar o relacionamento com pais e colegas, levando ao isolamento social.
Apatia
Traduzida pela falta de interesse por atividades e brincadeiras de que a criança gostava.
Alterações no sono
Dificuldade para dormir (ou mesmo precisar de muitas horas de descanso) é outro sinal de alerta.
Dores físicas
Queixas recorrentes de dor de cabeça ou estômago, por exemplo, podem ser manifestações.
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Palavra de Especialista
VEJA SAÚDE: Quais são os primeiros sinais aos quais os pais devem prestar atenção para identificar a depressão na infância?
Jaqueline Bifano: É importante que os pais observem mudanças comportamentais e emocionais na criança.
Sinais como tristeza persistente, irritabilidade, falta de interesse em brincadeiras ou atividades que antes eram prazerosas, alterações no apetite e no sono (dormir ou comer demais, ou de menos), isolamento social, dificuldades escolares, baixa autoestima e até queixas físicas frequentes, como dores de cabeça ou no estômago sem causa aparente, podem indicar depressão.
A principal atenção deve ser dada quando esses sinais persistem por mais de duas semanas e impactam a rotina da criança.
Quais são os principais fatores que contribuem para o desenvolvimento da doença ainda na infância?
Fatores diversos podem contribuir para o desenvolvimento da depressão na infância.
Entre eles estão questões genéticas, como histórico familiar de transtornos de humor, e fatores ambientais, como maus-tratos, abuso, negligência emocional, abandono, luto ou perdas significativas, e experiências de estresse contínuo, como divórcios difíceis, bullying ou dificuldades financeiras familiares.
Além disso, a presença de doenças crônicas ou condições médicas que impactam a qualidade de vida da criança pode aumentar o risco da doença.
O que os pais devem fazer diante dos sinais de depressão na infância?
Os pais devem abordar o problema com seriedade e preocupação genuína. O primeiro passo é conversar com a criança, de maneira aberta e acolhedora, para entender seus sentimentos.
Em seguida, é essencial buscar ajuda profissional com um psiquiatra infantil ou psicólogo, que poderá avaliar o caso e propor uma abordagem de tratamento adequada. Evitar minimizações, como dizer que “é só uma fase” ou “não há motivos para estar triste”, é crucial para validar o sofrimento da criança.
Oferecer suporte emocional, estar presente e demonstrar interesse pela vida emocional do filho ajudam a fortalecer o vínculo e criar um ambiente mais seguro.
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Qual é a implicação de ser diagnosticado com depressão ainda na infância? Ela terá o transtorno para o resto da vida?
Um diagnóstico de depressão na infância não significa que a criança necessariamente enfrentará o transtorno por toda a vida. Na verdade, o diagnóstico precoce permite uma intervenção mais rápida e eficaz, possibilitando que a criança supere a condição e desenvolva mecanismos emocionais mais saudáveis.
Contudo, há um risco aumentado de recorrência de episódios depressivos no futuro, especialmente se fatores genéticos ou ambientais adversos persistirem. Por isso, é fundamental o acompanhamento contínuo e a promoção de um ambiente familiar acolhedor.
Quais são os tratamentos mais indicados para tratar crianças com depressão? Há uso de medicamentos?
O tratamento da depressão infantil é multidisciplinar e personalizado. A psicoterapia, especialmente a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), é uma das intervenções mais indicadas, ajudando a criança a entender e manejar os pensamentos e sentimentos associados à depressão.
Em casos moderados a graves, medicamentos antidepressivos podem ser usados, sempre sob prescrição e monitoramento rigoroso de um psiquiatra infantil.
Além dessas abordagens, a criação de um ambiente familiar favorável e intervenções psicossociais, como suporte nas escolas ou grupos de apoio, podem ser fundamentais no processo de recuperação.
Qual é a importância do engajamento parental no tratamento dessas crianças?
O envolvimento dos pais no tratamento é crucial, pois eles desempenham um papel central na rotina e no ambiente emocional da criança.
Pais engajados participam ativamente das orientações terapêuticas, fornecem apoio emocional constante, ajudam a implementar mudanças nas dinâmicas familiares e contribuem para criar um espaço seguro que favoreça a recuperação.
Além disso, estar próximo das intervenções terapêuticas reforça a confiança da criança no processo, fortalece o vínculo emocional e aumenta significativamente as chances de sucesso a longo prazo.







