Um dos mais respeitados periódicos científicos, o British Medical Journal, acaba de publicar uma pesquisa que associa o consumo de alimentos ultraprocessados a um aumento no risco de câncer. Essa categoria é composta por itens como biscoitos doces e salgados, refrigerantes, refrescos, salgadinhos, cereais matinais, embutidos, pratos congelados… Ou seja, formulações industriais prontas para consumo.
No trabalho, conduzido por cientistas da França e do Brasil (mais especificamente da Universidade de São Paulo, a USP), a dieta de nada menos do que 104 980 pessoas foi avaliada minuciosamente. Mais do que isso: os experts categorizaram os alimentos de acordo com seu grau de processamento.
Com esses dados em mãos, eles descobriram que, para cada aumento de 10% na proporção de comida ultraprocessada consumida, o risco de encarar um tumor subia 12%. A probabilidade de ter especificamente o câncer de mama ficava 11% maior. O dado assusta mais ainda se considerarmos que, em vários países, esse tipo de produto representa entre 25 e 50% do total de calorias ingeridas em um dia.
Vale lembrar que não foi encontrada uma associação relevante entre itens menos processados (como vegetais enlatados, queijos e pães de padaria) e câncer. Já a ingestão de alimentos frescos ou minimamente processados – a exemplo de frutas, verduras, legumes, arroz, macarrão, ovo, carne, peixe e leite – se mostrou inversamente ligada ao risco de tumores.
Os autores frisam, porém, que outros trabalhos são necessários para entender melhor o impacto de vários estágios de processamento da comida em nossa saúde. Até porque esse é um estudo de observação – ou seja, não é desenhado para cravar uma relação de causa e efeito. O que uma investigação dessas faz é oferecer pistas de possíveis conexões entre um fenômeno e outro.
Ainda assim, não é absurdo incentivar moderação em relação aos produtos altamente processados. Essa não é a primeira pesquisa (e certamente não será a última) a mostrar que é melhor descascar uma fruta a abrir um pacotinho.