Em maio do ano passado, SAÚDE entrevistou Kevin Frost, presidente da Fundação de Pesquisa para Aids (amfAR), grupo que vem investindo milhões de dólares em estudos ligados ao HIV. Na ocasião, perguntamos a ele quais os principais avanços científicos na busca por uma cura. A resposta dele foi a seguinte:
A maior descoberta que tivemos foi a noção de que, ao tratar uma pessoa, há uma queda enorme da quantidade de vírus no organismo. Assim, elas não transmitem mais o HIV para outros indivíduos. Se o sujeito estiver se cuidando, ele deixa de representar um potencial infeccioso. Isso é um conceito importante, em que o tratamento vira uma forma de prevenção. E o que isso significa? Ao identificarmos todos que têm HIV e oferecermos os remédios a eles, nós podemos modificar radicalmente essa epidemia.
E o Brasil acaba de dar um passo importante em direção aos avanços elencados por Frost. A partir do ano que vem, o Sistema Único de Saúde (SUS) passa a distribuir como primeira opção de tratamento um remédio chamado dolutegravir. Essa medicação é conhecida como o melhor tratamento disponível atualmente. “O dolutegravir possui uma série de vantagens. Além de potência muito mais alta, apresenta um nível muito baixo de eventos adversos” esclareceu Adele Benzaquen, diretora do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais, do Ministério da Saúde, em coletiva de imprensa realizada hoje em Brasília, no Distrito Federal.
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Atualmente, a terapia para contra-atacar o HIV na fase inicial é composta por três medicamentos (conhecida como 3 em 1): tenofovir, lamivudina e efavirenz. Esse coquetel antirretroviral, apesar de trazer muitos benefícios e aumentar a sobrevida dos pacientes, pode provocar efeitos colaterais como diarreia, vômitos, agitação e insônia. No longo prazo — e em conjunto com a ação do próprio vírus — eventualmente desencadeia danos aos rins, fígado, ossos, estômago e intestino. Alterações no metabolismo que suscitam o diabete também são possíveis de serem encontradas.
Todos esses fatores, aliás, contribuem para que os pacientes abandonem o tratamento. Nesse sentido, o novo fármaco ajuda a assegurar a adesão à terapia. Vale destacar que largar os medicamentos aumenta o risco de o vírus criar resistência a eles, o que certamente abala a qualidade e a expectativa de vida.
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Segundo o Ministério da Saúde, num primeiro momento o dolutegravir estará disponível para todos os pacientes que estão iniciando o tratamento e também para aqueles com alguma resistência aos remédios antigos. Espera-se que em torno de 100 mil pessoas tenham acesso.