Ansiedade e depressão prejudicam a fertilidade?
Numa parceria entre VEJA SAÚDE e Oya Care, médica responde dúvidas comuns sobre a saúde da mulher
A fertilidade feminina depende de uma lista de fatores, como idade, frequência e momento das relações sexuais, peso corporal, tabagismo, existência ou não de alguma doença ginecológica ou outra condição crônica, histórico de procedimentos médicos, uso de medicamentos e antecedentes de tratamento com quimioterapia e radioterapia.
Fora isso, é comum sermos questionadas se a saúde mental também interfere nessa história. Bem, ainda não é possível afirmar com certeza que existe uma relação direta entre quadros de ansiedade e depressão e problemas de fertilidade.
Alguns estudos afirmam que essa relação existe, uma vez que situações de estresse produzem mudanças hormonais que interferem na ovulação. Isso aconteceria devido a alterações nos níveis de cortisol, de prolactina, de hormônios da tireoide ou de outros hormônios produzidos pela hipófise (uma glândula localizada no cérebro).
Por outro lado, sabemos que hábitos, comportamentos e problemas associados a ansiedade e depressão podem ter efeito negativo na fertilidade feminina (e também na masculina!).
Pessoas com algum sofrimento mental estão mais sujeitas a obesidade, magreza extrema, transtornos alimentares, tabagismo, dieta inadequada e uso de drogas que podem causar irregularidades no ciclo menstrual e alterações na reserva ovariana (nosso estoque de ovário), no endométrio (tecido do útero onde o óvulo fecundado se implanta para o desenvolvimento do feto) e nas tubas uterinas.
Algumas pesquisas sugerem que o consumo de álcool tenha um impacto particularmente prejudicial, mas ainda não se sabe qual a quantidade necessária para provocar danos.
Além disso, o estresse psicológico já foi ligado, tanto na população em geral como entre aquelas pessoas com infertilidade, a menores taxas de concepção.
O ponto é que uma série de fatores no cotidiano repercutem na saúde física e mental e na vida sexual de um casal. Cansaço, sobrecarga de trabalho, tensão, conflitos conjugais, falta de privacidade, traumas, assim como o diagnóstico de ansiedade e depressão propriamente dito, podem reduzir a libido e influenciar as chances de ter um filho.
Estudos indicam que a depressão chega a estar presente em até 26% das mulheres com libido baixa, e a ansiedade também é vista como fator de risco para disfunções sexuais.
Nessa linha, quem faz tratamento para ansiedade e depressão com medicamentos e pensa em ter filhos logo deve ficar atenta a eventuais efeitos colaterais que alguns desses remédios produzem em termos de libido e fertilidade. Antidepressivos e antipsicóticos podem estar ligados tanto a menor desejo sexual como a alterações hormonais e do ciclo menstrual, por exemplo.
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Círculo vicioso
Um grupo que merece atenção especial é o das tentantes que estão passando por um quadro de infertilidade. Sabemos que o estresse psicológico antes da concepção pode aumentar o risco de infertilidade, principalmente devido a diminuição da libido e da frequência das relações sexuais.
Estima-se que de 25 a 60% das pessoas que passam por tratamento de infertilidade apresentam depressão e/ou ansiedade e os sintomas de depressão são vistos em até 37% das mulheres inférteis.
Além dos fatores psicossociais relacionados ao tratamento, como a pressão social para engravidar, o desejo de ser mãe, culpa, baixa autoestima e vergonha, as medicações usadas no tratamento também podem impactar a saúde mental. Assim, esse conjunto de aspectos deve ser levado em conta por diminuir as taxas de sucesso de fertilização, gravidez e nascimento.
Feitas essas considerações, é importante ressaltar que cada corpo é único e viver com alguma condição de saúde mental não significa, necessariamente, ser afetada por todos os fatores listados aqui. Contudo, é importante conhecê-los, porque informação é poder e se munir de conhecimento é o primeiro passo para lidar com as dificuldades.
Além disso, na maioria dos casos, a infertilidade é mais uma condição que pode ser tratada do que um diagnóstico definitivo e imutável. O acompanhamento adequado de profissionais, entre médicos e psicólogos, vai auxiliar a mulher a superar obstáculos no caminho. O importante é saber que, se você está passando por um desses desafios, não está sozinha.
* Natália Ramos é ginecologista especialista em fertilidade e líder clinica da Oya Care, a primeira clínica virtual de saúde feminina no Brasil
Este texto foi produzido em uma parceria exclusiva entre VEJA SAÚDE e Oya Care