A força do exemplo: a maternidade como impulso de transformação
Se quisermos criar filhos saudáveis e com uma boa relação com o corpo e a comida, precisamos ser inspiração
Diante de um desconhecido, ainda posso ser o que gostaria. A frase não é minha, mas da escritora Carla Madeira. Li e reli várias vezes. Lembro de pensar algo muito parecido ao mudar de emprego. Cheguei até a visualizar uma versão minha mais espontânea, mais divertida, diante dos novos colegas.
“Quem sabe agora, nesse lugar em que ninguém me conhece, eu possa ser aquela pessoa que sempre sonhei ser”. Foi mais ou menos o que pensei. Diante de uma mudança de ares, talvez você também já tenha desejado essa chance. De se reinventar, de inventar ou de finalmente ser você.
Pois te digo uma coisa: a maternidade nos entrega um passaporte em branco para essa viagem. Temos diante de nós uma pessoa em construção, e a chance de nos desconstruirmos. Ganhamos o direito de ver o mundo com outros olhos, olhos de quem vê as coisas pela primeira vez.
É diante desse desconhecido, dessa criança que nos instiga diariamente, que podemos buscar a nossa melhor versão. Até porque precisamos, mais do que dar o exemplo, ser o exemplo. Criança aprende por imitação, não engole papo furado.
Então, que tal aproveitar essa oportunidade para ser uma pessoa mais saudável e feliz? Para transformar em definitivo a relação com a comida, o corpo, a vida.
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No caso da alimentação, será preciso planejar o que vai à mesa, priorizar alimentos frescos e integrais, a tal comida de verdade, e evitar ou fazer dos ultraprocessados a exceção. É sentar para comer quando estiver com fome (mas não morrendo de fome) e parar quando perceber que está satisfeito. Fazer da refeição momento sagrado, sem distrações como televisão ou celular.
É ensinar que não existe alimento proibido, nem vilão ou salvador na pátria. Que, sabendo dosar, podemos comer de tudo. Porque existe comida que só é gostosa – e, por isso, comemos de vez em quando – e comida gostosa e nutritiva, que a gente prioriza.
Nas conversas com meu filho de 9 anos, o foco não está nas calorias dos alimentos. No medo de engordar ou no desejo de emagrecer. Cuidamos do que comemos porque queremos viver melhor, com mais disposição e um corpo que nos permite fazer o que quisermos.
A atividade física também é pauta frequente em casa. Quase todo dia, Felipe me vê saindo da cama cedinho para treinar. Reclama da minha ausência, pede pra eu faltar: “Só hoje…” Mas eu explico que me faz bem, melhora meu sono e meu humor, além de me dar energia, inclusive para jogar bola com ele.
Depois que você explica isso para uma criança, repetidas vezes, eu juro que fica mais difícil cabular os treinos. Aliás, seria preciso uma cara de pau danada… E olha: de tanto repetir para os filhos, aprendemos todos.
Eu não associo exercício à penitência por ter comido demais. Ou a um mal necessário para ganhar carta branca à mesa. Exercício é movimento, qualidade de vida, bem-estar mental. E, assim como a alimentação, me ajuda a ter um corpo com o qual eu me sinto bem.
Meu filho nunca me viu diante do espelho, depreciando meu corpo ou rosto. Não que eu não faça isso de vez em quando – até porque a nossa autoestima flutua – mas faço só em pensamento. O que tento passar para ele (e para mim também) é que nosso interior vale muito mais que o exterior. E que supostos defeitos fazem parte de quem somos: pessoas únicas e muito especiais.
Nem sempre é fácil. Mas essa minha versão, a que eu apresento a ele, é a minha preferida. É a que eu quero que prevaleça. No final do dia, gostaria que nós dois víssemos a mesma imagem refletida no espelho: a de uma mulher incrível, com saúde de sobra e um mundo de possibilidades pela frente!