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O cirurgião e presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein levanta e debate as tendências e os desafios que interferem em nosso dia a dia e na saúde pública do país
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“Estou bem! Só ando muito cansado”: uma reflexão sobre outra “epidemia”

Quantas vezes você tem dito ou ouvido essa frase ultimamente? A sensação de cansaço permanente tornou-se uma espécie de pandemia. Precisamos fazer algo

Por Sidney Klajner
8 dez 2021, 16h08
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  • Na rua, no restaurante ou em qualquer outro espaço público, boa parte das pessoas nem nota o que está acontecendo ao redor. Estão com os olhos fixos na telinha do celular. Em casa, a vida profissional e a pessoal se misturam no home office, com o mesmo padrão sem limite de horário das tecnologias digitais que nos tornam onipresentes fulltime.

    Não importa se é de noite ou no fim de semana, nem se é do trabalho, de um amigo ou familiar, a expectativa é que mensagens sejam respondidas imediatamente. E, se elas dão uma folga, a curiosidade quase incontrolável de saber o que acontece nas mídias sociais nos mantêm plugados.

    Além disso, adquirimos a habilidade de participar concomitantemente de duas reuniões virtuais ou de falar ao telefone sobre um assunto e, ao mesmo tempo, nos inteirar de outro pelo e-mail ou pela plataforma de compartilhamento de arquivos.

    O resultado disso é que ganhamos uma indesejável companhia: uma permanente sensação de cansaço.

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    Para mim, o sinal amarelo surgiu durante a pandemia. No final de 2020, eu estava exausto. Ao longo do ano, tinha diminuído um pouco minha atividade médica, porque os pacientes estavam adiando consultas e cirurgias. Mas o trabalho à frente do Einstein tinha sido potencializado ao infinito.

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    Tirei uns dias de folga entre Natal e Ano Novo em uma casa no interior paulista, em contato com a natureza. A sensação de bem-estar e de bateria recarregada no retorno ao trabalho fez com que eu repensasse meu modo de vida. Aluguei um imóvel no campo, que passou a ser meu destino nos finais de semana com minha família.

    Deixei de agendar cirurgias complexas na sexta-feira e digo “não” a reuniões e outros compromissos no sábado e domingo. Mudei até o dia dos treinos de tênis – em vez de sábado pela manhã, agora faço de terça à noite. Também voltei a estudar violão e modifiquei minha relação com o smartphone.

    Nas horas de folga, evito estar com o celular ou ficar olhando e respondendo mensagens o tempo todo. No período da noite, ajustei o aplicativo que uso para monitorar a qualidade do meu sono para permitir apenas o som de chamada telefônica, não de mensagens. Quando o assunto é urgente, as pessoas telefonam.

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    Essa foi a minha “receita”. Mas cada pessoa terá de encontrar seu próprio caminho para se desligar das coisas que levam a essa sensação de exaustão e se ligar naquelas que relaxam, trazem prazer e bem-estar.

    A neurocientista Elisa Kozasa, pesquisadora do Instituto do Cérebro do Einstein, tem liderado estudos muito interessantes sobre esse tema. Não vou detalhá-los aqui, apenas destacar algumas de suas preciosas constatações:

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    Irritabilidade, depressão, alterações no sono, tarefas não completadas ou mal executadas e até acidentes ocasionados pela falta de atenção associada ao cansaço são alguns sinais que devem estar no radar.

    Tem muita gente que ainda acha que querer relaxar, cultivar o bem-estar e dedicar tempo a atividades pela simples razão de nos trazerem prazer é coisa para os fracos. É exatamente o contrário. Entender o que podemos mudar em nossos comportamentos e rotinas e, sobretudo, colocar essas mudanças em prática, exige muita força.

    Mas é só assim que deixaremos de ser vítimas da “pandemia” do cansaço, contaminados pelo vírus do “nunca desliga” que nos faz tanto mal. Só assim deixaremos de ser da turma do “estou bem, só ando muito cansado” para integrar o time que diz apenas “estou bem, obrigado”.

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