Como estão as mulheres em torno de você? E as que vieram antes, e as meninas que estão crescendo ao seu redor? O quanto você observa, conversa, ajuda e aceita ser ajudada por elas?
Você já parou para analisar suas origens e as vivências das mulheres com quem convive e conviveu? Identifica quais tiveram questões de saúde mental, sofreram abandonos e violências, abdicaram de seus sonhos e quais seguiram em frente, refizeram seu caminho e se apropriaram de suas histórias?
Há uma prevalência maior de distúrbios mentais entre elas – 1 a cada 5 mulheres sofrem de problemas como depressão e ansiedade. Para ter ideia, atualmente a depressão é a maior causa de afastamentos de trabalho no mundo – e é 50% maior entre mulheres.
Ao tratar desse tema, precisamos olhar para além dos fatores biológicos associados, como questões hormonais, alimentação inadequada e genética.
Saúde mental é multideterminada, isto é, é influenciada por diversos aspectos, como os determinantes sociais.
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Fora os desafios de acesso a trabalho, alimentação, moradia e educação, vale lembrar que estamos diante de uma sociedade acelerada, de aparências moldadas, que muitas vezes mostra vidas perfeitas. Ainda lidamos com o machismo, a estrutura patriarcal e racista e os efeitos da pandemia.
Um estudo da Universidade do Porto, em Portugal, mostra que mulheres vítimas de violência tem duas vezes mais probabilidade de terem doenças mentais, pensam 8,6 vezes mais no suicídio e tem 13 vezes mais risco de apresentarem comportamentos de risco para a saúde, como o abuso de álcool e outras substâncias.
Para piorar, existe uma passividade dos médicos na detecção das vítimas.
Os abusos, a dependência financeira, o desemprego, a diferença salarial, a vulnerabilidade relacional, as perdas, as questões sociais, a pressão estética e o acúmulo de sobrecargas são outros fatores que influenciam a saúde mental.
Dependendo do tipo de situação, em vez de pedir ajuda as mulheres tendem a ficar mais caladas – e, pior, acabam subjugadas e revitimizadas.
A autenticidade do sofrimento é questionada, assim como a capacidade, o controle, a utilidade e sua sanidade.
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É fundamental procurar apoio
Das pessoas com condições de saúde mental, somente 26% buscam ajuda – e 70% dessas podem melhorar com a ajuda de tratamentos.
Nunca falamos tanto de saúde mental, e essa é uma boa notícia. Mudar uma cultura de saúde mental leva tempo e requer acesso e informação.
Faça um exercício comigo agora: respire fundo e sinta como você está. Como estão suas emoções, seus planos, seus sonhos, sua motivação e seu prazer, incluindo o sexual?
Você tem se sentido sozinha, triste, sem vontade de fazer as coisas? Tem estado muito nervosa e com dificuldades de dormir? Tem pensado em fazer algo com você?
Esses são alguns sinais que precisamos levar em conta para o nosso checkup emocional.
Devemos também ampliar a visão sobre os tipos de cuidados necessários, como acesso aos cuidados de saúde mental, psicoterapia e tratamento medicamentoso.
Atividades físicas regulares e alimentação também são essenciais, assim como o cuidado espiritual – tenha uma crença, fé, esperança.
É preciso investir nos cuidados sociais e fortalecimento da saúde mental de toda uma comunidade.
Será que realmente sabemos como está a mulher próxima de nós? Sabemos onde buscar ajuda?
Quer fazer mais? Algumas ideias:
• Se cuide, se priorize e, se der, seja exemplo para outra mulher.
• Diante casos de violência, não duvide nem julgue: acolha e denuncie.
• Conheça as pautas políticas de saúde mental e bem-estar da sua região e se engaje.
• Promova espaços de troca, educação, acolhimento e suporte em vários ambientes, como escola, trabalho…
• Observe a si mesma e as mulheres próximas a você. Ouça sem julgamento. Conheça os sinais de atenção para a saúde mental e não tenha medo de oferecer ou pedir ajuda quantas vezes forem necessárias.
• Conheça e fortaleça sua rede de apoio
• Seja gentil nos grupos virtuais – cuidado com o preconceito e a psicofobia.
• Se você é profissional da saúde, ouça, investigue e cuide de maneira integral da mulher.
• Conheça e encaminhe para os locais de ajuda, como o Mapa Saúde Mental, o Mapa do Acolhimento, o CVV e o disque-denúncia. Encoraje a busca pelo apoio especializado do psicólogo e psiquiatra.
E, para os homens: se incluam nesse cuidado, oferecendo acolhimento e ajudando a garantir os direitos básicos. Respeite! Poderemos comemorar mais quando essa pauta for de todos!
*Karen Scavacini é psicóloga e fundadora e CEO do Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio